Chiko Kuneski
“Errar é humano, persistir no erro é burrice”.
“Errar é humano, persistir no erro é burrice”.
Máxima popular que nunca soube bem ser uma persistência burra de
quem erra ou de quem quer dar uma nova chance ao errado. Uma dicotomia que me
acompanha pela vida, nos meus erros e acertos. No futebol há níveis de erros.
Uns perdoáveis. Uns compreensíveis. Uns justificáveis. Uns implacáveis. Acho
que são até escalonáveis nessa sequência, como na máxima. Não se crucifica,
usando uma figura bíblica, um erro. Perdoa-se.
Mesmo o tapa na cara do
torcedor por uma repetição de erros é perdoada. A maioria tem alma cristã. Dá a
face para o segundo tapa do erro crasso. A maioria.
Nunca me senti parte da
maioria nem na fé nem no perdão. Acho que prefiro a segunda parte da assertiva
popular : “é burrice”. O erro humano tem limite. Se o erro humano é justificado
por uma fé divina passou dos limites.
“Se errei foi deus que
me colocou aqui”. Disse o goleiro Muralha no intervalo do jogo entre Flamengo e
Santos. Referia-se a um erro grosseiro ao tentar driblar um atacante na sua
pequena área que terminou na perda da bola e passe para o gol de empate do
adversário. Bola dominada. Erro. Mais um entre os colecionados pelo goleiro.
Mas a culpa é divina. Erro de deus. Depois, deus errou novamente no chute que
Muralha espalmou contra seu próprio gol, no único chute contra sua meta em todo
o jogo. Seria uma punição divina?
Anteriormente o deus do
Muralha já o tinha escalado na decisão do maior jogo da sua vida. A final da
Copa do Brasil contra o Cruzeiro, no Mineirão. Que oportunidade divina melhor
que essa. Muralha pulou cinco vezes para o mesmo canto que seu deus o mandou e
tomou cinco gols na cobrança de pênalti. Falha de comunicação celestial?
Mas o deus de Muralha é
piedoso com os seus erros humanos e tira o goleiro Diogo Alves com uma luxação
no ombro no primeiro jogo contra o Júnior Barranquila, pela Sul-americana. Deus,
aqui é maiúsculo por iniciar frase, dando a nova oportunidade para o erro
humano.
Primeiro lance. Bola
cruzada. Muralha não ouve deus. A bola passa sob suas luvas que ampliam as mãos
das orações aos céus e o ateu colombiano faz o gol. Mas foi deus, segundo ele mesmo,
que o colocou lá. Não foi um erro humano.
No futebol brasileiro
deus é assim. Absolutamente piedoso. Assume até a incompetência e o erro humano
como mera falha divina. No futebol os acertos são humanos ungidos: os erros
divinos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário