domingo, 17 de maio de 2015

O “fair play” e o complexo Vila Rica

Chiko Kuneski

Na década de 70, uma marca de cigarros fez uma campanha nacional com o campeão da Copa de 70 Gerson, que tinha como mote “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também”. O jogador falava do preço mais barato do cigarro, mas a mensagem remetia a “malandragem brasileira”. Ao jeitinho. A ideia de sempre se dar bem enganando alguém.

O futebol brasileiro atual está levando ao pé da letra a tal alcunha “Lei de Gerson”. De levar vantagem. Mas agora com nome mais pomposo: “Fair play”. Uma invenção da FIFA que poderia ser traduzida como “jogo limpo”.

Mas o que é um jogo limpo? É “migué”, como diz o jargão futebolístico, do jogador que simula contusão para parar o jogo e ganhar minutos quando o resultado lhe favorece? Dissimula para forçar o atendimento e sai serelepe sem que nem mesmo a “água benta”, outra gíria futebolística para os sprays analgésicos, seja usada?

Ou, jogo limpo é o adversário, em desvantagem no placar, abdicar da tentava de fazer o gol, o êxtase maior das torcidas, para que o jogador do outro time, em vantagem no placar seja atendido, mesmo sem precisar de atendimento? A simulação obriga o “jogo limpo”?

O que seria uma forma de respeito profundo pelo profissional e profissionalismo do futebol está virando uma batalha acusatória. O que simula por estar em vantagem acusa o adversário de não fazer o “jogo limpo”. O que tem a ousadia de não praticá-lo, buscando o jogo, acusa o “migué” da contusão simulada.

Nosso futebol está, cada vez mais, fumando Vila Rica. Certo?

Para quem não conhece o comercial do cigarro: https://www.youtube.com/watch?v=J6brObB-3Ow

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