Chiko Kuneski
Na
década de 70, uma marca de cigarros fez uma campanha nacional com o campeão da
Copa de 70 Gerson, que tinha como mote “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também”. O
jogador falava do preço mais barato do cigarro, mas a mensagem remetia a
“malandragem brasileira”. Ao jeitinho. A ideia de sempre se dar bem enganando
alguém.
O futebol brasileiro atual está levando ao pé
da letra a tal alcunha “Lei de Gerson”. De levar vantagem. Mas agora com nome
mais pomposo: “Fair play”. Uma invenção da FIFA que poderia ser traduzida como
“jogo limpo”.
Mas o que é um jogo limpo? É “migué”, como diz
o jargão futebolístico, do jogador que simula contusão para parar o jogo e
ganhar minutos quando o resultado lhe favorece? Dissimula para forçar o
atendimento e sai serelepe sem que nem mesmo a “água benta”, outra gíria
futebolística para os sprays analgésicos, seja usada?
Ou, jogo limpo é o adversário, em desvantagem
no placar, abdicar da tentava de fazer o gol, o êxtase maior das torcidas, para
que o jogador do outro time, em vantagem no placar seja atendido, mesmo sem
precisar de atendimento? A simulação obriga o “jogo limpo”?
O que seria uma forma de respeito profundo pelo
profissional e profissionalismo do futebol está virando uma batalha acusatória.
O que simula por estar em vantagem acusa o adversário de não fazer o “jogo
limpo”. O que tem a ousadia de não praticá-lo, buscando o jogo, acusa o “migué”
da contusão simulada.
Nosso futebol está, cada vez mais, fumando Vila
Rica. Certo?
Para quem não conhece o comercial do cigarro: https://www.youtube.com/watch?v=J6brObB-3Ow
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