Mauro
Pandolfi
"....Vivimos revolcaos en un merengue
Y en il mismo lodo todos manoseaos...."
Cambalache, de Enrique Santos Discépolo, imortalizado na voz de Carlos Gardel
A
Bambonera parece uma caixa de bombons. Um retângulo que sobe em direção ao céu.
Porém, lembra o inferno. São vários anéis. No último, para ver algo, olha-se
para baixo. Um estádio que intimida pela arquitetura, a proximidade com o campo
e o som que explode no ouvido. É, geralmente, o melhor jogador do Boca. Mítico
caldeirão.
Já
foi um lugar de bola. Na quinta, lembrava um campo de confinamento. Os
jogadores do River foram encurralados. Estavam sitiados. Apavorados. Na
arquibancada, La Doce - a temida barra brava - berrava seus cânticos de guerra.
O que a decadência de um país fez com as pessoas, o pensar, o futebol? O jogo
foi um retrato da Argentina demolida por governos corruptos, um peronismo podre
e uma economia destroçada por tecnocratas de manuais. Chores por ti, Argentina!
Os
cartolas pareciam os ridículos tiranos de Podres Poderes de Caetano Veloso.
Flutuavam de ternos no campo, perdidos, sem rumo, não sabiam o que fazer.
Perplexos. Como contrariar interesses da Conmebol? Cenas dantescas, como a boca
tampada pelas mãos. Para manter um silêncio parecido com a estupidez. Mas, nada
deixou-me mais triste do que o comportamento dos jogadores do Boca. 'Los
Bosteros' revelaram-se marionetes de cartolas, fantoches de La Doce.
A
cena deprimente em reverenciá-los na saída do campo revela uma submissão
escrota. Machonaria latina que só funciona em grupo. Sozinhos, são nada.
Covardes! Não foram solidários com os atletas do River. Imploravam o jogo.
Queriam a vantagem de enfrentar um time amedrontado. Como diria aquele vetusto
senhor que a tevê baniu: "Canalhas de bostas. Velhacos existências".
A
bola e o gol. O futebol é uma quase religião na minha vida. As minhas orações
são as partidas. Às vezes, rezo pelo rádio. Noutras, na tevê. Raramente
frequento uma 'catedral' - os estádios. Mas, sempre rezo. Sou um devoto dos
clássicos. Após Avaí e Figueirense, ao ver a confusão, meu filho André
comentou: "o futebol é bonito. Quem estraga são as pessoas". Disse e
saindo para o seu quarto.
Na
quinta, ao ver a balbúrdia de Boca e River, detonou: "Outra vez, pai! Já
disse que são os imbecis que estragam o futebol. Não sei porque tu perde tanto
tempo com ele". Falou e foi dormir. Fiquei acordado até mais tarde. A
frase do André me balançou. Será que tem razão? Vale a pena escrever sobre
futebol? Não sei!
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