Chiko Kuneski
“ Com o VAR o chato do
politicamente correto chegou ao futebol”
Tita Kuneski
O futebol é lúdico, e
dizer isso pode parecer uma obviedade infantil. Mas não uso lúdico como mero
divertimento. Uso como prazer extremo. Só os apaixonados por um clube e pelo
futebol entenderão o termo: “prazer extremo”.
Esse prazer pode ser
comparado ao sexo pelos apaixonados. Há o conhecimento, a aproximação, o flerte
com as cores, escudo, nome, a conquista mútua e, finalmente, a paixão
arrebatadora, que vira amor por toda uma vida. O torcedor é assim. Um
apaixonado amante.
Nessa relação há o
prazer supremo...um grito, ou até um gemido coletivo, de gol. O gol é o êxtase
da relação entre torcedor e time da paixão. É hormonal. A mesma endorfina do
gozo sexual pode ser liberada pelo prazer do grito do gol. A paixão física. O
êxtase supremo do futebol.
O VAR (Árbitro
Assistente de Vídeo) se mostrou broxante. Adia o êxtase do grito supremo do
gol. Não existe gozo adiado; somente gozo interrompido. O prazer do grito, da
torcida, do tesão coletivo, do máximo da paixão pelo time, preso na garganta
por um dedo no ouvido...do árbitro. Todo
o ritual da conquista mútua, do namoro, da paixão, da entrega, do gozo do gol,
interrompido pelo frio olhar.
Como bem define Mauro
Pandolfi: “ o futebol é um jogo de olhares”. Com o VAR o gélido olhar cibernético
sobrepõe o calor humano das íris se tocando no espaço vazio. O êxtase do gol
fica congelado nos sem fim de replays de olhares cibernéticos analisados por
olhares humanos medrosos e temerosos.
Os árbitros de campo,
amedrontados pelo calor human
o das torcidas, buscam na gelidez cibernética das
câmeras e de juízes trancados em cabines aprova de som e com ar condicionado a
desculpa para não assumir o erro. Se escondem atrás de minutos, infindáveis
para os apaixonados torcedores, das
longas revisões, de ângulos, de câmeras, das comunicações secretas entre campo
e cabine e respiram aliviados pelos indicadores fazendo um retângulo no espaço
vazio. O VAR decidiu, culpe o VAR.
O árbitro de vídeo
conseguiu broxar até a última virilidade do torcedor: a alegria do êxtase orgástico
do grito de gol.
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