"Correntes, três, quatro, oito. Segundo andar. Não há porteiros, nem vizinhos..."
O
meu devaneio do Grenal era uma goleada como os números declamados por
Carlos Gardel em 'A Média Luz' e fiquei desesperado, desamparado,
solitário como o resto do tango ao final do jogo.
Mauro Pandolfi
Futebol
é um ritual. Preparei-me para um baile que nem o de domingo. Estava
feliz. Usava a mesma roupa (não sou supersticioso. Mas, as 'bruxas'
sempre estão por aí...), fiquei no mesmo lugar. Não fiz tudo igual
pois domingo não é quarta. Escutei uns tangos para me inspirar em um
novo texto. Porém, esqueci de um tão detalhe nem tão pequeno. O futebol
não se repete. Nem a vida. O que é para ser igual é mais diferente do
que imaginamos. Não teve baile. Vivi o tango. Intenso, bravo, tenso. Sem
a
sensualidade, o jogo de corpo, os movimentos, os olhares lânguidos. Vi a
encoxada do Inter, a bravura, a rispidez. Apareceu o outro lado do
tango. Dramático, desesperado, sofrido, brigado. Venceu quem já era
derrotado. Saiu com 'honra'. Com a ilusão de um bom time, de que a
'raça' é
suficiente para inventar um jogo. A vitória do arcaico é só um engano.
Não
gosto de mata-mata. É um elogio à preguiça, ao fortuito, ao acaso. Uma
boa vitória no primeiro jogo revela a soberba, a indolência, a certeza
absoluta. Renato acreditou nisto. Desafiou 'os deuses da bola' ao deixar
Arhur no banco. Quem jogou foi Iniesta? Portaluppi apostou em Cícero
(como gostam de um 'bruxinho, uma ovelhinha', os treinadores de futebol!
Não importa o time ou a seleção). Cícero é o passado que não percebeu
que o presente é só uma doce saudade. Não tem
mais as passadas largas, a chegada, o movimento. Está sempre fora do
lugar. O Grêmio ficou sem maestro (ou como dizem hoje, sem 'ritmista'). O
jogo parou, foi presa fácil, dispersivo, desorganizado, previsível.
Ficou encaixotado por um sistema de marcação agressivo e bem realizado.
Descobri que Geromel é o melhor zagueiro dos 'tempos modernos'
tricolores. Só ele para fazer Kanemann e Bressan jogarem. Faltou pouco,
quase nada, para ficar sem a vaga. O aviso foi dado.
Tomara que Renato tenha entendido o recado da bola.
O
Inter foi menos do que o mesmo de domingo. Quatro volantes preencheram o
espaço do meio. Impediu a velocidade, a posse de bola, tirou os espaços
e buscou o gol. Sempre em cruzamentos ou nas nas 'temidas' bolas
paradas.
D'Alessandro comandou o jogo, até 'apitou bem' - melhor do que Vuaden -
arrumou uma falta que
não existiu e marcou, como nos velhos tempos, um golaço em Grenal.
Prestei atenção no
replay, achei que era o Vitor o goleiro. O jogo do Inter é insuficiente.
Não há organização tática, nem técnica, a compactação é feita no
amontoado do meio, nem sinal de jogadas treinadas. As ensaiadas são os
chutões, os balões para área. Tem força e dedicação. Correu, lutou,
bateu (Rodrigo Dourado é um volante superestimado. Nada hábil,
brigador, violento. Nos anos 60 e 70 seria chamado de 'carniceiro'.
No campeonato gaúcho tem salvo conduto para bater), venceu. Continuaria
assustado, com medo, se fosse colorado. Como não sou...
Demorei
para dormir. Escutei as entrevistas, os comentários, as explicações, vi
os lances do jogo. Busquei um tango para entender as 'dores' de uma
derrota que nada mudou a história do campeonato. Mas, é uma 'dor' que
machuca a alma, o coração de um torcedor. Encontrei este Gardel que me
fez dormi em paz.: " Silencio em la noche, ya todo esta en calma, el
musculo dorme, la ambicion descansa".(Silencio, de Carlos Gardel).
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