"Como a senhora explicaria a um menino o que é felicidade?
Não explicaria. Daria uma bola para que ele jogasse..."
Não explicaria. Daria uma bola para que ele jogasse..."
Só
uma teóloga, como Dorothee Solle, para entender a semelhança entre uma
bola e Deus. Entre a fé e a paixão. A perfeição os une.
Mauro Pandolfi
A
bola é bela. Elegante em sua forma esférica. Divina como a fé de seus
apaixonados. Primorosa no seu desenho mágico. Não há lados, nem ângulos,
muito menos arestas. Voa, pula, corre. Lírica, poética, lúdica. Flutua
como sonho, esperança, desejo. A bola é perfeita num jogo mais do que
perfeito de tão imperfeito que é. O futebol deveria ser um adjetivo de
vida. Em um estádio está tudo lá o que chamam de vida. Desde a dor até a
alegria, do ódio ao amor. A bola é precisa. O futebol não é preciso. A
beleza do jogo não está só no sublime. O acaso o torna extraordinário. O
improvável, o mais fraco, os perdedores podem vencer.. Mas, então, qual
a necessidade de uma equipe perfeita, sem erros, avassaladora? É só um
delírio do torcedor e do comentarista. Eles nunca perdem um jogo.
Poucas
equipes estiveram tão perto da perfeição como a Holanda de 1974.
Inventada pelo mais genial dos treinadores, Rinus Michels, foi chamada
de 'Futebol Total'. "Trabalhei com eles durante três meses. Eu os
motivei e passei a forma básica do funcionamento da equipe, baseada no
conceito de ocupar todo o campo, ganhando a bola do rival mais próximo
da trave dele, produzindo rapidamente o ataque com homens necessários,
sem distinguir o número da camiseta, e logicamente, fazendo as mudanças
necessárias. os jogadores entenderam, deu resultados e vocês,
jornalista, definiram como futebol total" , explicou Michels. O 'comum'
muito bem jogado da Alemanha atropelou a revolução. Os fragmentos da
Holanda sobrevivem até hoje.
O
torcedor deseja a vitória. O apaixonado suspira por um drible, um
passe, um golaço. O comentarista esportivo sonha com a perfeição. Há
tantos jogos envolventes, de placares díspares, de muito ataque, muito
envolvimento, vibrante, e o que é 'pago para dar opinião' resume: 'é
emocionante. Mas, não é um bom jogo tecnicamente!'. Que raios é um jogo
'bom tecnicamente' que o jornalista almeja? Alguns dizem que o jogo
perfeito é o 0 a 0. Defensivamente, sim! E, os gols, como ficam? . A
beleza do futebol está no desenho tático, nos dribles, a improvisação,
nos gols, nas defesas . A perfeição do jogo é a emoção que produz. O
encantamento que causa. A tristeza que provoca. É o que se pode chamar
de vida. É o que permite sonhar, recomeçar, continuar, viver, desejar,
torcer outra vez.
Pelé
continua, para muitos que amam a bola, a melhor definição de futebol.
Marcou mais de mil gols, ganhou todos títulos possíveis, é o Rei. No
entanto, seus lances mais lembrados são 'erros'. O chute lá do meio do
campo, contra a Tchecosloivaquia, e o desespero do goleiro Viktor são
imagens marcantes. Virou referência aos 'mortais'. Tantos fizeram o gol
que Pelé não fez. O drible em Mazurkiewisc, a defesa esplendorosa de
Banks, imagens eternas, vinhetas de programas esportivos, erros mais do
que perfeitos. A perfeição é um engano doloroso. Tanto no futebol, como
na vida.
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