segunda-feira, 19 de março de 2018

O Baile!

 

"Foi nos bailes da vida...com a roupa encharcada e alma  repleta de chão, todo artista tem de ir onde o povo está..."
O time do Grêmio mostrou que o futebol se joga com a alma, coração, cérebro e tudo pode se transformar num baile da vida como o cantado por Mílton Nascimento.
  
Mauro Pandolfi

Dois prá lá, dois prá cá! São os passos mais comuns sugeridos para dançar. Há um jeito de corpo, de olhar, de movimento.  Quase todos conseguem bailar assim. Um jogo de futebol é uma dança. Não chega ser um balé. Há o improviso na organização tática. Gosto do tango. Da sensualidade do corpo em ação. Do entrelaçar de pernas, de olhares lânguidos, do 'levar' o outro. É belo este bailado! O segundo tempo do Grenal foi um tango. O Grêmio controlou o jogo, fez a bola rodopiar, tirou o adversário para dançar, enredou, encaixotou, encoxou o Inter,  bailou, desfilou bonito o seu jogo, amassou, goleou. Grêmio teve uma coisa que parece que a dança portenha não tem: a humildade, a compaixão, misericórdia. Poderia ter definido a vaga. Porém, deixou uma ponta de esperança, de sonho, agonia para o próxmio Grenal. Uma certa crueldade que o tango tem.
Foi um jogo primoroso, exemplar. Os dois times mostraram o seu melhor, seu potencial, seu jogo. No primeiro tempo, o máximo que o Inter pode fazer. Marcar, tirar espaço, especular uma bola, um lance. Tentou duas vezes. A bola aérea. Não consegue trocar passes. Se avança um pouco, revela toda a fragilidade e insuficiência técnica. O Inter é aplicado. Só! O segundo foi do Grêmio. Todo seu repertório apareceu. A posse de bola, o tempo, o espaço onde flutuou soberano, a movimentação ordenada, pensada, estruturada. Sólido, consistente, objetivo e poético. Foi o enfrentamento do conceito moderno de futebol contra o arcaico. O Grêmio saiu do Rio Grande do Sul. Fugiu da 'pegada', da bola para centroavante cabecear, do jogo ríspido, fechado e que explora um atacanrte de velocidade. O Inter está preso nas raízes gaúchas, o futebol do Texas, como diz o corneta RW, nem lembra que já teve um Falcão e um Carpegiani para orientar ao jogo. O 3 a 0 não refletiu a imensa diferença entre os dois. Ela é maior, é abissal. O Grêmio se credencia ao outro título da Libertadores. Enquanto que que o Inter vai lutar para evitar o rebaixamento.  Isto é o agora. Há o imprevisível, o inexplicável, o acaso. Esta é a tábua de salvação dos colorados.
Final do jogo. Me vi na Espanha, numa tourada. Touros e toureiros. O grito de olé dos espectadores. O Grêmio colocou o Inter na roda. A bola ia, voltava, retornava, atravessava o campo, de pé em pé. de gremistas tranquilos, felizes, hábeis, serenos, seguros feito toureiro. Os jogadores  do Inter corriam, perplexos, perdidos, sem noção, feito touros tontos numa arena. E, eu do meu sofá, lembrei de Lamartine Babo: 'eu fui as touradas de Madri...' Olé!!!



Nenhum comentário:

Postar um comentário