"Foi nos bailes da vida...com a roupa encharcada e alma repleta de chão, todo artista tem de ir onde o povo está..."
O
time do Grêmio mostrou que o futebol se joga com a alma, coração,
cérebro e tudo pode se transformar num baile da vida como o cantado por
Mílton Nascimento.
Mauro Pandolfi
Dois
prá lá, dois prá cá! São os passos mais comuns sugeridos para dançar.
Há um jeito de corpo, de olhar, de movimento. Quase todos conseguem
bailar assim. Um jogo de futebol é uma dança. Não chega ser um balé. Há o
improviso na organização tática. Gosto do tango. Da sensualidade do
corpo em ação. Do entrelaçar de pernas, de olhares lânguidos, do 'levar'
o outro. É belo este bailado! O segundo tempo do Grenal foi um tango. O
Grêmio controlou o jogo, fez a bola rodopiar, tirou o adversário para
dançar, enredou, encaixotou, encoxou o Inter, bailou, desfilou bonito o
seu jogo, amassou, goleou. Grêmio teve uma coisa que parece que a dança
portenha não tem: a humildade, a compaixão, misericórdia. Poderia ter
definido a vaga. Porém, deixou uma ponta de esperança, de sonho, agonia
para o próxmio Grenal. Uma certa crueldade que o tango tem.
Foi
um jogo primoroso, exemplar. Os dois times mostraram o seu melhor, seu
potencial, seu jogo. No primeiro tempo, o máximo que o Inter pode fazer.
Marcar, tirar espaço, especular uma bola, um lance. Tentou duas vezes. A
bola aérea. Não consegue trocar passes. Se avança um pouco, revela toda
a fragilidade e insuficiência técnica. O Inter é aplicado. Só! O
segundo foi
do Grêmio. Todo seu repertório apareceu.
A posse de bola, o tempo, o espaço onde flutuou soberano, a
movimentação ordenada, pensada, estruturada. Sólido, consistente,
objetivo e poético. Foi o enfrentamento do conceito moderno de futebol
contra o arcaico. O Grêmio saiu do Rio Grande do Sul. Fugiu da 'pegada',
da bola para centroavante cabecear, do jogo ríspido, fechado e que
explora um atacanrte de velocidade. O Inter está preso nas raízes
gaúchas, o futebol do Texas, como diz o corneta RW, nem lembra que já
teve um Falcão e um Carpegiani para orientar ao jogo. O 3 a 0 não
refletiu a imensa diferença entre os dois. Ela é maior, é abissal. O
Grêmio se credencia ao outro título da Libertadores. Enquanto que que o
Inter vai lutar para evitar o rebaixamento. Isto é o agora. Há o
imprevisível, o inexplicável, o acaso. Esta é a tábua de salvação dos
colorados.
Final
do jogo. Me vi na Espanha, numa tourada. Touros e toureiros. O grito de
olé dos espectadores. O Grêmio colocou o Inter na roda. A bola ia,
voltava, retornava, atravessava o campo, de pé em pé. de gremistas
tranquilos, felizes, hábeis, serenos, seguros feito toureiro. Os
jogadores do Inter corriam, perplexos, perdidos, sem noção, feito
touros tontos numa arena. E, eu do meu sofá, lembrei de Lamartine Babo:
'eu fui as touradas de Madri...' Olé!!!
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