"Eu não sei a que lugar eu pertenço".
É
a resposta de Rosalyn (Marylin Monroe) para Perce (Montgomery Clift)
personagens do esplêndido filme de John Huston, Os Desajustados. É a
história de quem parece viver fora do tempo, do espaço, perdidos, sem
rumo, a procura de uma saída. Alguns, encontram.
Mauro Pandolfi
Este
texto poderia ser um pedido de desculpas. Mas, não é! É sobre a
descoberta de um outro olhar do futebol. Rompeu as minhas certezas,
convicções, aumentou as minhas dúvidas. Nada é eterno no mundo da bola.
Nem o talento. E, muito menos, a falta dele. As teses existem para
serem derrubadas, destruídas, refeitas. Errei em várias análises
sobre os jogadores do Grêmio. Reclamei quando chegaram. Usei as suas
histórias, as minhas avaliações, os meus olhares, minhas desconfianças.
Alguns, mudaram a minha opinião após os primeiros jogos. Outros, só no
último. Nada é definitivo num campo de futebol. Heróis, vilões, craques,
bondes, pernas de pau, são meras figuras de linguagem usadas num
estádio ou numa análise. Não são tatuagens que ficam no corpo de um
jogador. Ele pode mudar a sua história. Se reinventar, se descobrir ou
aceitar as coisas como são.
Esta reflexão pode ser apenas uma
consequência do Tri do Grêmio. Mas, não é! Tento entender a 'magia' da
transformação. Qual o segredo de Renato Portaluppi em 'recuperar' almas,
restaurar virtudes, atitude, de mudar comportamento, fazer ressurgir
talento escondido, heróis improváveis, desajustados ou 'achar' uma juventude perdida? Confiança, respeito,
determinação, ousadia. Ou, coragem, por não ter ninguém melhor por
perto. Apostou! E, ganhou!
Detesto
o futebol de Fernandinho! Ou, detestava? Enrolado, confuso, perdido
entre o drible inútil ou o chute torto. Como pode um atacante que não
sabe chutar? Este Fernandinho vi no Barueri, no São Paulo, no Atlético
e, me desesperei quando foi anunciado pelo Grêmio. Atacante perto dos
30 anos e com menos gols que Rogério Ceni, eu não aceito. Fracassou,
foi emprestado, voltou, foi emprestado, voltou, virou reserva e Renato o
reinventou. Tornou-se artilheiro no Brasileiro com bons jogos. Tinha
(ou tenho?) restrições como substituto de Pedro Rocha. Até escrevi que
ele era 'a negação de Pedro Rocha'. Contra o Lanús foi um Pedro Rocha
dos melhores momentos. Rápido, inteligente, tático, e marcou um gol
maravilhoso. Fernandinho! É o melhor exemplo do meu engano. Todos que
estão no futebol tem uma qualidade. É preciso descobrir, lapidar, gerar
confiança, fazê-lo brilhar. Renato fez isto com Fernandinho. Ele virou
um definidor mortal. Até quando? Que seja para sempre!
Não
é só a qualidade que contesto nas contratações. A idade é outra. Só os
38 anos faziam duvidar de Léo Moura.
Três jogos e mudei de opinião. Ele é precioso taticamente. Cícero foi
outro. O tempo parado e a idade. Um 'velho' sempre tira o lugar de um
jovem promissor. Patrick e Jean Pierre perderam lugar para Christian e
Jael. Pô, Renato! Protestei no facebook. Ah, Jael! Gostei da
contratação. Depois de alguns jogos, contestei. Outros jogos, aprovei. Certezas absolutas até mudar de ideia.. Reclamei de
Barrios. Muita grife e pouco jogo. Ri com as contratações de Edílson
(muito doido!) e de Cortez (ainda joga?). Loucura! Até com Kannemann me
enganei. O futebol é mesmo um teatro de grama e paixão. Há os que
superam as desconfianças e medos. Improváveis 'heróis' de finais. É a magia do jogo, do homem, da vida.
Agora,
um segredo - é segredo, pois poucos me leem! - que escrevi quando Roger
Machado pegou o boné e disse adeus. Não gostei da contratação de Renato
Portaluppi. Bom treinador nos dois períodos do Grêmio. Um bem ofensivo; o outro,
quase uma retranca. Mas, havia uma réstia de moderno nos seus times. Não
como Roger, um leitor de Pep Guardiola. Estudioso, educado, discreto,
renovador, bom discurso, novas palavras. Gostava de Roger! Enquanto Renato ainda 'perdia' o tempo na praia, no futvolei, um grande e sábio bon vivant.
Escrevi isto: "Renato retorna mais uma vez. A
terceira! Infelizmente, não como jogador. A saudade, o passado não é
uma fonte da juventude. Que pena! Volta como técnico sazonal. O homem
que resolveu tirar férias trabalhando. Ao contratar Renato Portalupi e Valdir
Espinosa, o Grêmio disse adeus ao presente, abandonou o futuro e tenta
reencontrar uma gloriosa era de vitórias. Que só existe nos almanaques,
nas memórias ou num pensamento mágico de um cartola".
O tempo revelou a certeza da aposta. E se, hoje, tivesse que optar por
um dos dois, ficaria com Renarto. Desconfio que o Portallupi é um poeta nas
horas vagas. Finge tanto que acredita nas 'próprias palavras' jogadas
ao vento. Quem garante, que no exílio das areias, não devorava livros de
táticas, assistia escondidos jogos ou fugia para algum curso?
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