Poesia que escutava no silêncio da sala lá por 74. Gay; Comisso, Sá, Lopes e Pavoni; Gálvan, Raimondo e Semenewicz; Balbuena, Bochini e Bertoni. Os versos que inspiravam meninos e todos tentavam 'poetar' como Bochini. O mestre que um certo Diego Maradona chamava de Deus.
Mauro Pandolfi
Éramos seis! Sentados nos degraus do armazém do seu Jeremias. Seis guris a procura de um nome para o time. Tarefa difícil. Dias de discussões. Problemas em todas as conversas. Não poderia ser o de nossa paixão. Estavam fora o Palmeiras do Bolacha, o Corinthians do Abel, Flamengo do Carlinhos e João (ou seria do Tonho?), o Fluminense do Tonho (ou seria o João?), o São Paulo do Serginho e o meu Grêmio. Não seria, também, diminutivo. No Copacabana já jogavam o Flamenguinho, o Vasquinho e o Palmeirinha. Não podia ser o Inter. Afinal era o time da cidade. E, o de outro lugar, ninguém torcia. Carlinhos pensou no Guarani. Rejeição total. Mesmo extinto, o sentimento do Guanal era intenso. Um silêncio de dúvida. Abel fica em pé, da uma volta, mão no queixo, outra volta, e emenda, como se fosse um voleio: "por que não Independiente? Ganha dos nossos times, é campeão da Libertadores, tem o vermelho do nosso Inter e da nossa camisa?". Foi instantâneo. INDEPENDIENTE! Gritamos! Irritado com o barulho, seu Jeremias saiu do armazém dando bronca. "Vão fazer barulho em outro lugar. Circulando, vão jogar, vão carpir um lote, vocês estão incomodando os fregueses. E, onde já se viu escolher um nome argentino? Pelo menos transformem em independente ou independência!". Fomos saindo devagar pelo meio da rua Irmã Laurinda com uma certeza. Todos voltaram a gritar 'Independiente!'. Até sair de Lages num julho de 1975 sempre fomos Independiente. Menos uma vez, quando virou Atlântico. Isto é uma outra história...
Poucas vezes vi jogar. As finais contra o São Paulo em 1974, um jogo contra o Cruzeiro de Dirceu Lopes, contra o Grêmio e,quem sabe, algum amistoso da seleção argentina.. Escutava sempre na sexta-feira o campeonato argentino. Luz apagada, deitado na frente da eletrola, imaginava o jogo. Radio Mitre entrava feito um bólido a noite. Procura os meus ídolos. Babington, Pastoriza, Artime, Beto Alonso, Oberti e o que gostava mais: Ricardo Bochini. Lembro que comentava com o Abel sobre Bochini. Era diferente do ponta de lança brasileiro. Mais ofensivo, de toques curtos, refinados, driblador, usava os lados como poucos e uma lucidez no espaço curto. Ele dava um toque por trás da zaga, deixando o centroavante na cara do gol. Parece que estou escutando o narrador da rádio Mitre falando do passe 'bochinesco'. Aquele que rompia o ferrolho, tirava o nó da garganta, aliviava a alma e transformava o gol em poesia. Durante muito tempo, "Os Rojos", 'Os Diablos Rojos" foram a minha paixão. Tinha na parede do quarto o poster da Placar do time campeão da Libertadores. A escalação lembro de cor, feito poesia que embala o futebol.
Muito tempo depois, explicaram-me, (gracias mi amigo Alberto!), que Bochini era um 'enganche'. Um raro jogador que brota na Argentina. Há dúvidas sobre o melhor deles. Alberto dizia que era Sivori. Hoje, falam em Messi. Muitos elegem Maradona. Mas, para Diego era Ricardo Bochini. Jogou pouco mais do que dez minutos numa copa do Mundo. Foi em 86, contra a Bélgica. "Quando vi que Bochini entrava em campo, me pareceu que tocava o céu, por isso a primeira coisa que fiz foi buscar uma tabela com ele. Nesse momento, senti que estava fazendo uma tabela com Deus", explicou Maradona. Jorge Valdano é um mestre do futebol. Dentro e fora do campo. Sutil e refinado, assim definiu Bochini. "Era um gênio que usava a cabeça para pensar milagres e o pé direito para executá-los. O corpo inteiro para enganar seus adversários". Bochini parece desconhecido do futebol de hoje. Busquei ele pelo jogo de quarta. Procurei no Olé alguma referência sobre ele. Encontrei algumas frases. Quem viu, nunca esquecerá. Seu nome será lembrado assim que alguém falar de um camisa dez celestial.
Não conseguia entender o meu sentimento no jogo Flamengo e Independiente. Comecei simpático ao Flamengo em cortesia ao Zeca pela recepção com a camisa do Grêmio no domingo. Ao Chiko, não! Afinal, ele não veste azul. Direito dele. O jogo fluía e não me motivava a torcer mesmo depois do gol. Comentei o jogo com meu afilhado Luca sobre a dificuldade, a estranheza, a lentidão, o jogo travado. No intervalo, lembrei-me de Lages. Algo estava fora do lugar. A paixão escondida nas entranhas do coração reconheceu a camisa. O grito veio em seguida: INDEPENDIENTE! Vibrei com a virada, a vitória e o encontro sempre amoroso com o Maurinho. Desculpa, Zeca! Vibrarei no campeonato carioca. Afinal, o meu velho Olaria de Afonsinho é só um time de botão que o tempo escondeu e não lembro onde guardei.
Poucas vezes vi jogar. As finais contra o São Paulo em 1974, um jogo contra o Cruzeiro de Dirceu Lopes, contra o Grêmio e,quem sabe, algum amistoso da seleção argentina.. Escutava sempre na sexta-feira o campeonato argentino. Luz apagada, deitado na frente da eletrola, imaginava o jogo. Radio Mitre entrava feito um bólido a noite. Procura os meus ídolos. Babington, Pastoriza, Artime, Beto Alonso, Oberti e o que gostava mais: Ricardo Bochini. Lembro que comentava com o Abel sobre Bochini. Era diferente do ponta de lança brasileiro. Mais ofensivo, de toques curtos, refinados, driblador, usava os lados como poucos e uma lucidez no espaço curto. Ele dava um toque por trás da zaga, deixando o centroavante na cara do gol. Parece que estou escutando o narrador da rádio Mitre falando do passe 'bochinesco'. Aquele que rompia o ferrolho, tirava o nó da garganta, aliviava a alma e transformava o gol em poesia. Durante muito tempo, "Os Rojos", 'Os Diablos Rojos" foram a minha paixão. Tinha na parede do quarto o poster da Placar do time campeão da Libertadores. A escalação lembro de cor, feito poesia que embala o futebol.
Muito tempo depois, explicaram-me, (gracias mi amigo Alberto!), que Bochini era um 'enganche'. Um raro jogador que brota na Argentina. Há dúvidas sobre o melhor deles. Alberto dizia que era Sivori. Hoje, falam em Messi. Muitos elegem Maradona. Mas, para Diego era Ricardo Bochini. Jogou pouco mais do que dez minutos numa copa do Mundo. Foi em 86, contra a Bélgica. "Quando vi que Bochini entrava em campo, me pareceu que tocava o céu, por isso a primeira coisa que fiz foi buscar uma tabela com ele. Nesse momento, senti que estava fazendo uma tabela com Deus", explicou Maradona. Jorge Valdano é um mestre do futebol. Dentro e fora do campo. Sutil e refinado, assim definiu Bochini. "Era um gênio que usava a cabeça para pensar milagres e o pé direito para executá-los. O corpo inteiro para enganar seus adversários". Bochini parece desconhecido do futebol de hoje. Busquei ele pelo jogo de quarta. Procurei no Olé alguma referência sobre ele. Encontrei algumas frases. Quem viu, nunca esquecerá. Seu nome será lembrado assim que alguém falar de um camisa dez celestial.
Não conseguia entender o meu sentimento no jogo Flamengo e Independiente. Comecei simpático ao Flamengo em cortesia ao Zeca pela recepção com a camisa do Grêmio no domingo. Ao Chiko, não! Afinal, ele não veste azul. Direito dele. O jogo fluía e não me motivava a torcer mesmo depois do gol. Comentei o jogo com meu afilhado Luca sobre a dificuldade, a estranheza, a lentidão, o jogo travado. No intervalo, lembrei-me de Lages. Algo estava fora do lugar. A paixão escondida nas entranhas do coração reconheceu a camisa. O grito veio em seguida: INDEPENDIENTE! Vibrei com a virada, a vitória e o encontro sempre amoroso com o Maurinho. Desculpa, Zeca! Vibrarei no campeonato carioca. Afinal, o meu velho Olaria de Afonsinho é só um time de botão que o tempo escondeu e não lembro onde guardei.
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