quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Asas do desejo
"Por que eu sou eu e não você? Porque estou aqui e não ali? Onde termina o tempo e começa o espaço?"
As dúvidas, os devaneios do anjo desterrado do filme Asas do Desejo, de Wim Wenders, são as minhas dúvidas e os meus devaneios num duelo onde o tempo e o espaço são os rivais para Renato e Cristiano Ronaldo. Não é um duelo de morte. É de vida! De sonho! ' Do Real e do Imaginário!
Mauro Pandolfi
Não é só um jogo. Nem apenas uma final. O título é só uma taça que ficará guardada no museu, na memória vitoriosa de um torcedor. É um jogo de nuances. De encontros de dois personagens que habitam o meu universo real e imaginário. Entre o que é! O superior, o genial, o colecionador. O homem mais próximo de uma máquina que ousou brincar com a bola. 'O maior da história!', como disse. Alguém contesta? Do outro, o que poderia ter sido. Não foi! Trocou tudo pela boa vida. O frio pelo sol. Preferiu brincar com os amigos da praia aos rivais da neve. Recusou a ser máquina. Não soube viver com a modernidade. 'Fui melhor que ele", vive afirmando. A declaração irrita, desperta rancor nos setores da vida que adoram um subserviente, alguém que sabe o seu lugar e detestam o que desafina este coro dos contentes com arrogância , soberba e uma audácia que há tempos se perdeu nesta parte dos trópicos. Na minha melancolia poética, sou traído pelo desejo da disputa. E, feito anjo proscrito, abro asas, e assisto em meu sonho, com a minha perda da memória e da história, o embate do um passado frente o presente.
Renato é o imaginário mais perto do real que conheço. Aquela bola mágica que viajou alta e encontrou César é a sua melhor tradução. Imprevisível e impossível. Genial e genioso. O abusado craque transformou o Grêmio da Azenha em campeão do Mundo, A transmutação foi feita a dribles. Desistiu de ser eterno em Roma. Mesmo sendo um Portaluppi era muito brasileiro para encarar a Itália. Largou, abandonou, fracassou. Voltou para ser o 'Rei do Rio'. Marcou gols de todos tipos. Simples, geniais, exóticos. Passou a carreira por aí. Vagou por tantos clubes. Ficou mais praia que no campo. Não deu mais tempo para provar que é o melhor camisa sete destes anos modernos. Reinventou-se como treinador. Está a procura de uma glória que percebeu perdida, talvez, tarde demais.
Cristiano Ronaldo é o real mais perto do imaginário que conheço. Há tantos lances geniais. Em um só jogo por Portugal, nas eliminatórias da Copa no Brasil, marcou três gols. Um voleio de esquerda. Uma cabeçada mortal. Um drible e um fuzilamento com o pé direito. A perfeição é a melhor tradução de Cristiano Ronaldo. Tão magnífico que ainda sobra tempo de se admirar no imenso telão do estádio. Um 'narciso de plasma', como define Chiko Kuneski. Ao ganhar a quinta bola de ouro garantiu: 'Sou o melhor da história!' Eu não ouso mais discordar. Mas, há Pelé, Maradona, Cruyff, Messi, Renato...
Um jogo que nunca começa. Talvez, nunca acabe. As imagens aparecem. De olhos abertos, assim como o coração e a alma, vejo o embate. Lado a lado. Reparo as cenas. São diferentes. Há nuances. Não são nítidas. É o tempo e o espaço que não combinam. Então percebo que é um sonho. O duelo entre o real e o imaginário. O imaginário é mais poético, flerta com a emoção. É o que me move, que faz viver. O real é o dia a dia, a dura poesia concreta do cotidiano, o que me garante a vida. Cristiano Ronaldo é mais jogador que Renato. Mais amplo, mais completo, mais decisivo. Foi mais do que poderia ser. Não se cansa. É uma máquina. Ao contrário do anjo de Asas do Desejo, escolho o imaginário. Prefiro Renato. Ele é tricolor de alma, coração e fé. Ele é Grêmio. É o que basta!
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