"Deus tirou a mão!"
A fala do beato para justificar a queda de um maltrapilho homem na travessia da ponte no filme O Incrível Exército de Brancaleone pode ser usada por Renato Portaluppi na derrota para o Real Madrid. Em nenhum momento, os deuses se distraíram. Ficaram, como sempre, ao lado do mais poderoso.
Mauro Pandolfi
Perdi a ilusão na entrada dos dois times em campo. O sonho acabou na hora dos hinos. Olhei os rostos dos 'contendores'. De um lado, jogadores que estarão na Copa do Mundo do ano que vem. Alguns, serão estrelas. Quem sabe, um deles, erguerá a taça. Atletas que valem mais de um bilhão de reais. E, há um candidato a maior da história. De outro, o grupo de amigos que superou dramas, traumas, medo, que jogou o futebol mais bonito deste lado do planeta que não acabará pelos nossos pés. Isto será obra de Trump, do nhonhô da Coréia ou se tivermos sorte, pelo meteoro. Olhei os rostos marcados por fracassos. Alguns passaram sem serem vistos no invisível futebol catarinense. Lembrei do filme de Mário Monicelli, O Incrível exército de Brancaleone. Eis uma boa definição para o time do Grêmio de Renato Portaluppi. Bravos guerreiros de uma derrota anunciada. Nem no filme, o exército venceu. Imagine num campo de futebol. O Real derrota sempre o 'imaginário'. O que não diminui a beleza poética do sonho.
A última impressão é a que fica. Vitória ou derrota define um time. Se perder, esqueça a temporada, os títulos, os bons jogos, as revelações. Tudo é um fracasso. É a sensação que tenho ao ler, ouvir os especialistas do futebol ao falar do Grêmio após a derrota para o Real. Desapareceram as comparações individuais (como estabelecer 'posições ' em jogo coletivo e móvel? Não duvide da 'criatividade' de um jornalista) de dias antes da final do Mundial. Aliás, o Real Madrid era tido como o pior da década, em decadência, que teve uma imensa dificuldade de vencer o fraco Al Jazira. Alguns consideravam, o Grêmio um rival do mesmo nível. Poucos lembraram do abismo técnico, financeiro, tático. O 7 a 1 parecia esquecido. Estavam mais preocupado com o duelo de vaidades entre o 'pedante de bronze ' versus o 'narciso de plasma', na inventiva definição poética figadal de Chiko Kuneski, do que análise precisa do jogo. Tratei o embate como uma deliciosa brincadeira. Porém, levaram a sério demais. Análise é algo raro em quem 'é pago para dar opinião'. Estão perdidos no 'achismo', nos chavões, nos dogmas, dos mantras que são repetidos desde que o primeiro jornalista acompanhou uma partida de futebol neste país.
A armada espanhola anulou o exercito de Brancaleone. Era gigantesco o fosso. Suspirei por deuses distraídos. Me iludi. Estavam atentos. Não deram chance a Jael ser o herói improvável. O título veio na genialidade, ao perceber a ação da barreira pular em uma outra falta, de Cristiano Ronaldo. E, tudo mudou nos comentaristas de resultados. O Grêmio tornou-se fraco demais, defensivo, frágil, sem qualidade, um timeco!. E, o Real virou o maior time do mundo. Imbatível e poderoso. Tem razão quem disse que 'os jornalistas nunca perdem uma partida'. São invencíveis! A ultima imagem do 'duelo' foi o sorriso de propaganda de pasta de dente de Cristiano Ronaldo tomando toda a tela e rosto triscado de um derrotado sem chão de Renato. Nestes dias de valores líquidos, o 'plasma' é mais precioso que o 'bronze'!
Este é um país que adora o fracasso alheio. Vibra com ele. Fiquei com pena do jovem Luan. De melhor da Libertadores a pipoqueiro na final. Ninguém falou de seus marcadores. Ao buscar a bola na defesa encontrava Modric. No meio, Kroos fazia o cerco. Em outra linha, caso escapasse, Casemiro o esperava. Às vezes, nada cordial. Nas raras vezes que tentou atacar, foi Varane que o combateu. Uma 'quadrilha' que já parou Messi e estará na Rússia no ano que vem. 'Perdeu a vaga para copa', afirmou um jornalista da Fox que não identifiquei o nome. A tevê estava longe e os meus olhos 'degenerados' não conseguiram ler. Que sorte teve Arthur. A sua última imagem é a atuação soberba da final da Libertadores. Então, tem chances. Pequena. Afinal, Tite ama um medalhão.
Vi a zoeira nas redes sociais fui zoados pelos amigos, por leitores deste blog, por conhecidos de longe, vi postagens engraçadas e outras ofensivas. É a nossa índole irônica, cruel, perversa, de vibrar com as derrotas alheias. Perdedor, melancólico, reflexivo, tento 'sobreviver' a isto. Tudo tem volta. eu sei. Me diverti muito com a queda vermelha. É bom jogar o nosso fracasso na derrota adversária. Fiquei leve naquele domingo. Uma dúvida apareceu no meio da tristeza. Será que este projeto de Brasil, bem executado, de subdesenvolvimento eterno, da pobreza que só cresce, refém de populistas, de ladrões dos sonhos, de canalhas de toda ordem, não passa também por isto? Não sei! Mudarei? Não sei! Vou saber se o Inter resolver ser campeão de tudo em 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário