"A pena máxima no Brasil é de 30 anos, mas pago há 50 por um crime que não cometi".
Frase dita por Barbosa, o goleiro do Brasil da Copa de 50, alguns meses antes de morrer. Qual será a pena de Muralha?
Mauro Pandolfi
O
futebol é um jogo de poucos heróis. De muitos vilões. Um universo
similar ao do cotidiano. Aceita-se tudo. Da canalhice do gol de mão, da
ausência de ética ao simular uma falta, ao impedimento sonegado, a
catimba é cantada em verso e prosa. A esperteza é glorificada. Não
torna-se exemplo quando é pega em flagrante. Caso contrário, o malandro é
glorificado. O futebol só não aceita a derrota. Não tolera perdedores. O
jogo coletivo é derrotado por um só homem. Aquela falha tem uma
tatuagem marcada no lombo. Barbosa nunca livrou-se dela. A desta semana é
de Alex Muralha. O goleiro que escolheu um lado. Pulou em todas as
cobranças de pênalti no mesmo canto. E viu a rede balançar cinco vezes.
Não importa se Fábio defendeu o chute do 'craque fantasma' Diego. Foi
Muralha que perdeu o título. Leia os jornais, os blogs, as redes
sociais, escute os comentaristas, o vilão foi Muralha. O Flamengo será
passado na sua vida. Ele será lembrado sempre. Talvez, até a eternidade
da memória ou até a falha de um outro goleiro. No entanto, nunca será
esquecido.
Não
acho Alex Muralha um grande goleiro. Nem quando brilhou no Figueirense.
Via falhas de posicionamento, de saída de bola, de reposição. Sua
colocação era perfeita. Salvou o time inúmeras vezes, de derrotas
certas, do rebaixamento. Virou ídolo. Parecia mais, como dizem os
gaúchos, que a 'atacava' a bola do que defendia. Inferior aos outros que
passaram pelo Figueira. Não tinha a segurança de Volpi, a agilidade de
Andrey, a elegância de Wilson, a flexibilidade de Édson Bastos ou a
destreza de Gatito Fernadez. Gostava mais do visual. Aquele cabelo
moicano parecia intimidar o atacante, ficava maior, mais feroz. A
convocação para a seleção foi um exagero. Bom, todo técnico 'exagera' na
convocação. Além de Muralha, Tite 'encontrou' Giuliano, Taison, Fred,
Tardelli e o 'invisível' Diego.
Diego é o meu vilão da derrota do Flamengo? Não pensei nisto. Chamou-me
a atenção o 'moderno sistema' de atacar com covardia dos treinadores.
Venceu o regulamento. Algum tempo que Mano Menezes desistiu do ataque. E
para minha surpresa, o Flamengo de Reinaldo Rueda nada tem de Atlético
Nacional. Assistindo os jogos de todas divisões notei que os técnicos
brasileiros estão descobrindo o 7 a 1. 'Trabalham' para uma derrota
menor, suave, sem trauma, heroica. Vencer a 'Alemanha' ainda é uma
fantasia distante.
Gosto
dos perdedores. Eu sou deles. Admiro os 'vilões' que a bola marca.
Cláudio Radar foi engolido por um trio infernal (Lula, Vacaria e
Carpegiani) num grenal que não valia nada. Nada? Exilou-se em Lages até a
sua morte. Seu nome está numa lista de fracassados que tem gente de
porte, de história, de mitologia. Paulo César Caju foi execrado após a
Copa de 74. Nunca mais voltou à seleção. Cada clube tem o seu vilão. O
que falhou numa decisão, num clássico ou numa derrota vexatória.
Entretanto, ninguém supera Barbosa. Após a final contra o Uruguai,
andando na rua, foi reconhecido por uma mulher. Ela disse ao seu filho
pequeno: 'Eis o homem que fez um país chorar!'. O futebol é cruel. Muito
cruel. Crudelíssimo.
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