sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Chore pelo futebol, Argentina!


"Estou proferindo alguns  palavrões para ver se isto mexe com eles, para ver se tem ovos.. Estou proferindo palavrões porque estão empatando com a Venezuela no estádio do River. Respeitem esta camisa usada por um punhado de craques.. Não pode ser que a Argentina não ganhe da Venezuela. Respeitem a camisa da Argentina...tenham um pouco de vergonha."

O desabafo desesperado do locutor Daniel Molo, da Rádio Mitre, é o melhor retrato de um futebol decadente, ultrapassado, que sobrevive graças a mitologia de Lionel Messi

Mauro Pandolfi


O futebol faz uma bela tabelinha com a música. Não sei se é o ritmo, o balanço, a poesia ou a arte que expressa desejo, sonho, cultura, magia. Quando o Brasil joga lembro do samba. Pode ser um estereótipo ou só um chavão. Mas, o time de Tite parece um samba de Paulinho da Viola. Elegante, envolvente, preciso. Porém, tem momentos de um pagode do Molejo.  Insosso, preguiçoso, repetitivo.  Outra seleção que viajo na musicalidade é  a Argentina. O desespero, o exagero, o drama, a loucura do tango embalou Maradona, Kempes, Ardiles, Sivori, tantos. Um jogo jogado em passo cadenciado, que ora acelera, ora acalma, tranca a respiração, provoca o encantamento e termina num balé sublime. Não há tango nesta seleção de Sampaoli. Não há cadência. Há só o desespero. A transpiração é trancada pelo medo. Um ritmo acelerado, sem discernimento, sem inteligência, sem jogo. De um belo tango sobrou somente o drama. Será que Messi verá a copa pela tevê? Injusto, triste para um gênio. Perfeito para um futebol decadente e obsoleto. Não há um 7 a 1 na Argentina que provoque uma revolução. A ausência do mundial será o motivo. Chore pelo futebol, Argentina!
Nunca vi uma Argentina tão medíocre. Nem a que levou cinco da Colômbia. A goleada é explicada pela grande equipe de Rincón, Valderrama, Asprilla e Trem Valência. Aquele time argentino tinha Batistuta e Redondo e, na Copa de 94, um surpreendente e fantástico Maradona. O que aconteceu virou história. Ainda será melhor contada. A que empatou com a Venezuela não tem nada que lembre uma Argentina. Só a  camisa. Nem fúria, nem brilho individual. Um punhado de jogadores correndo feito loucos. Aquilo que o jornalista inglês, Tim Vickery, chama de de 'futebol zumbi'. "Correm, correm, correm, sem rumo, em desabalada carreira, sem nexo, sem ideia. Todos de cabeça baixa. Não sabem onde estão os companheiros, não olham para os lados. Nunca param de correr. Nunca!" Jorge Sampaoli é um dos melhores técnicos do mundo, Inventivo e ousado. Gosta do ataque e da velocidade. Porém, é pilhado. nervoso, obsessivo. Apostou em medalhões com muita grife, Pastore e Banega, e pouca lucidez. Testou novos, Acosta, Acuna, Pizarro, e nada conseguiu. O time continuou com futebol medíocre, confuso, desconexo de toda eliminatória.  O Peru, próximo adversário, pode repetir 1969. Eliminou a Argentina em Buenos Aires. O técnico era um mito brasileiro: Waldir Pereira, o gigante Didi. A Argentina espera que a história repetida seja só uma farsa. Mas...
Fiquei com pena de Lionel Messi. O genial estava tão perdido em campo que parecia um jogador banal. Errava passes, chutes, movimentações. Mesmo assim, os raros momentos lúcidos argentinos eram dele. Tudo indica que Messi entrará para história como Di Stefano, Sivori, Cruyff, Puskas, Zico, Eusébio: a dos vencedores sem copa. Como dizem, 'azar da copa!'. No entanto, a cada jogo,  Lionel Messi perde o encanto para os Argentinos. Daniel Molo pergunta 'quando veremos o craque do Barcelona com a camisa da Argentina?' e reverencia Maradona: 'Respeitem o maior da história. lavem a boca para falar de Maradona. Respeitem este homem que vestia a camisa e nos enchia de orgulho. Respeitem o maior jogador da história. Eu chorava com Diego...Me emocionava com Diego!" As duas últimas rodadas serão embaladas com tango. Melancólico tango, no compasso do bandoneon, pelo abraço no jogo, pela poesia da nostalgia, pelo choro vitória, pelo desespero da derrota, pelo 'adiós', pela 'grandeza', 'quiero emborrachar mi corazón para apagar un loco amor que más que amor es un sufrir'. O futebol faz uma bela tabelinha com a música.

Nenhum comentário:

Postar um comentário