"A desconstrução é um desejo desesperado de uma nova construção".
Espero
que este 'ditado' anarquista não se refira ao Grêmio, pois a 'nova'
construção no futebol gaúcho tem o olhar do velho, do arcaico, do
obtuso, do rothiano.
Mauro Pandolfi
Durou
pouco. Muito pouco. Quase nada o belo futebol do Grêmio. O jogo
envolvente, sedutor, moderno foi um desvario de dois anos. Começa com
Roger Machado e Renato Portaluppi torna a beleza estética em uma arma
mortal, eficiente, demolidora, campeã. Nem parecia uma equipe
brasileira. O Grêmio flutuava em campo. A bola rolava macia de pé em pé,
sem pressa, insinuante. Avançava suas linhas, controlava o campo
adversário, o encaixotava, provocava o erro, assumia o jogo, partia para
o gol, a vitória era prazerosa, quase orgástica. Há momentos
espetaculares neste período. O gols de um futebol de meninos, onde a
bola é tocada, retocada, bailada de um lado a outro, numa posse de um
minuto até se transformar em um gol espetacular. Há alguns assim, como o
de Douglas, contra Atlético Mineiro ou de Luan, contra o Cruzeiro.
Pena, que acabou. Triste. Muito triste. Melancólico. O Grêmio virou um
poster, que procuro desesperadamente numa banca de revista, uma saudade,
uma história, como as que meu pai contava sobre os grandes times. Ainda
bem que tenho alguns jogos gravados. Em dias de saudades, assistirei
tudo outra vez.
Não
sei como se montam os grandes times. Alguns, com jogadores consagrados,
os craques. Outros, na desesperança de muitos fracassos. O Grêmio de
Roger e Renato foi assim. Saiu o mito Luís Felipe Scolari e Roger
Machado é escolhido para evitar um novo rebaixamento. Sem dinheiro, sem
nomes importantes, o Grêmio é moldado na dificuldade. Há um novo
conceito de jogo e muitos garotos. Saiu o chutão. Entrou a posse de
bola. Adeus ao jogo aéreo. Chegou a triangulação. A força bruta é
substituída pelo jogo técnico, pensado, elaborado. Roger é um leitor
profundo de Guardiola. Havia algo de Barcelona naquele Grêmio. Derrotas,
maus resultados, sem títulos. Roger insistiu com Bobô, mudou o esquema,
não suportou a pressão e pediu demissão. Pensei que tudo tinha
terminado. Mas, veio Renato Portaluppi...
O
maior mito gremistas reconstruiu o time. Não só reinventou o jeito de
jogar. Transformou a beleza em um jogo mais sólido e insinuante.
Abandonou clichês, como o pontinho fora de casa, o centroavante aipim,
ou o futebol do 'Texas' (expressão criada pelo blogueiro Ricardo
Wortmann para o velho jeito de jogar do futebol gaúcho), partiu para o
ataque, bailou no Mineirão, no Maracanã, ganhou a Copa do Brasil e virou
o time mais bonito no Brasil. Parecia uma eternidade. Mas, foi menos de
um ano que tudo isto aconteceu.. Até parece um passado distante. Como o
tempo se tornou uma imprecisão física, um devaneio? Rápido. Muito
rápido. Fugaz.
O
Grêmio vive o seu novo dilema. Perdeu jogadores importantes, base de
sustentação do jogo, por lesão ou venda. A compactação foi triturada.
Apareceram as 'rachaduras' do sólido jogo coletivo. Melhor marcado, as
soluções ofensivas tornaram-se inócuas. Até a posse de bola ficou
redundante. O Grêmio se desintegrou, desconstruiu, desativou. Não joga
mais no espaço vazio, no movimento, ficou estático. Apareceram as falhas
individuais, antes cobertas pelo magnífico jogo. Edílson tem força,
vontade, garra. Falta inteligência. Já Cortez tem uma dupla deficiência:
na marcação e no apoio. Ramiro se esgota, corre e não tem mais espaço,
para flutuar entre as linhas. No meio do caminho tem um poste, Jael, o
cruel, que não se movimenta. Será Jael, o Bobô de Renato? Até o seguro
Michel comporta-se como um brucutu. Arroyo, em dois jogos, percebe-se o
engano. E, Fernandinho virou solução. Quando Fernandinho é solução é
sinal que o problema venceu. O Brasileiro virou miragem e a
Libertadores, uma ficção? Renato tem o dom da transformação. Será que
reinventará um time ou tornará Luan, um novo Renato, para ganhar a
Libertadores? Como gremista, tanto faz. Desde que a Libertadores seja
nossa. Como amante do futebol, prefiro o belo jogo que me encantou, que
me prende em casa, que fez sonhar, que faz lembrar de um menino que se
encantou com Alcindo.
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