segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Desconstrução

 
"A desconstrução é um desejo desesperado de uma nova construção".
Espero que este 'ditado' anarquista não se refira ao Grêmio, pois a 'nova' construção no futebol gaúcho tem o olhar do velho, do arcaico, do obtuso, do rothiano.

Mauro Pandolfi

Durou pouco. Muito pouco. Quase nada o belo futebol do Grêmio. O jogo envolvente, sedutor, moderno foi um desvario de dois anos. Começa com Roger Machado e Renato Portaluppi torna a beleza estética em uma arma mortal, eficiente, demolidora, campeã. Nem parecia uma equipe brasileira. O Grêmio flutuava em campo. A bola rolava macia de pé em pé, sem pressa, insinuante. Avançava suas linhas, controlava o campo adversário, o encaixotava, provocava o erro, assumia o jogo, partia para o gol, a vitória era prazerosa, quase orgástica. Há momentos espetaculares neste período. O gols de um futebol de meninos, onde a bola é tocada, retocada, bailada de um lado a outro, numa posse de um minuto até se transformar em um gol espetacular. Há alguns assim, como o de Douglas, contra Atlético Mineiro ou de Luan, contra o Cruzeiro. Pena, que acabou. Triste. Muito triste. Melancólico. O Grêmio virou um poster, que procuro desesperadamente numa banca de revista, uma saudade, uma história, como as que meu pai contava sobre os grandes times. Ainda bem que tenho alguns jogos gravados. Em dias de saudades, assistirei tudo outra vez.
Não sei como se montam os grandes times. Alguns, com jogadores consagrados, os craques. Outros, na desesperança de muitos fracassos. O Grêmio de Roger e Renato foi assim. Saiu o mito Luís Felipe Scolari e Roger Machado é escolhido para evitar um novo rebaixamento. Sem dinheiro, sem nomes importantes, o Grêmio é moldado na dificuldade. Há um novo conceito de jogo e muitos garotos. Saiu o chutão. Entrou a posse de bola. Adeus ao jogo aéreo. Chegou a triangulação. A força bruta é substituída pelo jogo técnico, pensado, elaborado. Roger é um leitor profundo de Guardiola. Havia algo de Barcelona naquele Grêmio. Derrotas, maus resultados, sem títulos. Roger insistiu com Bobô, mudou o esquema, não suportou a pressão e pediu demissão.  Pensei que tudo tinha terminado. Mas, veio Renato Portaluppi...
O maior mito gremistas reconstruiu o time. Não só reinventou o jeito de jogar. Transformou a beleza em um jogo mais sólido e insinuante. Abandonou clichês, como o pontinho fora de casa, o centroavante aipim, ou o futebol do 'Texas' (expressão criada pelo blogueiro Ricardo Wortmann para o velho jeito de jogar do futebol gaúcho), partiu para o ataque, bailou no Mineirão, no Maracanã, ganhou a Copa do Brasil e virou o time mais bonito no Brasil. Parecia uma eternidade. Mas, foi menos de um ano que tudo isto aconteceu.. Até parece um passado distante. Como o tempo se tornou uma imprecisão física, um devaneio? Rápido. Muito rápido. Fugaz.
O Grêmio vive o seu novo dilema. Perdeu jogadores importantes, base de sustentação do jogo, por lesão ou venda. A compactação foi triturada. Apareceram as 'rachaduras' do sólido jogo coletivo. Melhor marcado, as soluções ofensivas tornaram-se inócuas. Até a posse de bola ficou redundante. O Grêmio se desintegrou, desconstruiu, desativou. Não joga mais no espaço vazio, no movimento, ficou estático. Apareceram as falhas individuais, antes cobertas pelo magnífico jogo. Edílson tem força, vontade, garra. Falta inteligência. Já Cortez tem uma dupla deficiência: na marcação e no apoio. Ramiro se esgota, corre e não tem mais espaço, para flutuar entre as linhas. No meio do caminho tem um poste, Jael, o cruel, que não se movimenta. Será Jael, o Bobô de Renato? Até o seguro Michel comporta-se como um brucutu. Arroyo, em dois jogos, percebe-se o engano. E, Fernandinho virou solução. Quando Fernandinho é solução é sinal que o problema venceu. O Brasileiro virou miragem e a Libertadores, uma ficção? Renato tem o dom da transformação. Será que reinventará um time ou tornará Luan, um novo Renato, para ganhar a Libertadores? Como gremista, tanto faz. Desde que a Libertadores seja nossa. Como amante do futebol, prefiro o belo jogo que me encantou, que me prende em casa, que fez sonhar, que faz lembrar de um menino que se encantou com Alcindo.

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