quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Volver aos 14



'O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...'
A suavidade de Mário Quintana e a espiral da história que comanda, rege, e torna a vida um prazer sem fim.

Mauro Pandolfi

Terça de conversas. Como é bom rever os amigos. Refaz a alma, alivia o coração, fortalece a mente, abre as ideias, torna mais humana a vida que anda mais virtual do que real. Encontrar o Sandro, Paulinho e o Chiko é um sopro de sabedoria, um acalanto em histórias que parecem sempre novas. Esqueço a idade, o tempo, quando nos reunimos. Ainda temos os vinte e poucos anos, tomamos um café no bar do básico, embalado ao som do rock and roll e de uma bola chutada por Zico. Ah, os amigos! Eternos amigos! Extraordinários amigos! A chegada em casa deixa-me um pouco melancólico. Todos dormem. Na solidão da sala, o brilho da lua engana a fresta da cortina e me faz companhia. Saudoso de outros amigos que o tempo afastou. Gente que não vejo desde a adolescência. Gostaria de voltar aos 14 e jogar uma partida sem fim no meu campo dos sonhos, o Vermelhão de Copacabana. Nostálgico, cansado, deito, durmo, sonho...
'Dona Lídia, chama o Maurinho?' Reconheço a voz. É do Bolacha. Dei um beijo na mãe, desci a escada, cheguei na rua e vi todos. Quase não reconheci e nem fui reconhecido. Foram gargalhadas, gozações, muitos abraços. Poxa! Eles também não tem mais 14 anos. O Bolacha virou bombeiro e mantém a forma física. A longa cabeleira loira deu lugar a careca vistosa. O bigode era a maior novidade. Abel lembrava bem o que era. Ainda magro, sem cabelo, mantinha o bom humor dos velhos tempos. Os irmãos João e Tonho estavam bem parecidos. Fortes, robustos, cabeça raspada para disfarçar a calva. O pequeno Serginho cresceu, ficou barrigudinho. Mas, manteve os cabelos. Carlinhos continuava igual. Enganou o tempo. Partimos para o futebol.  Será que estão assim? Bom, usei o espelho como referência. Só então notei que a casa onde morava era um terreno baldio. Como desci a escada? Feitiço do tempo.
Chegamos na frente do Vermelhão. A decepção. Nem vestígio do estádio. Agora é um hospital. Decidimos ir até o Boldo.  Um supermercado ocupava o espaço. Um dos gols do antigo campinho ficava no meio do estacionamento. Vazio, naquele instante, achamos uns tijolos, tiramos as camisas, ajuntamos umas caixas, estavam prontas as traves e o campo. A bola rolou mágica. Éramos os mesmos de sempre. Repetimos dribles, chutes, passes, gols, resmungos, gargalhadas, abraços, lágrimas...o tempo é mesmo uma ficção de Einstein ou de Philip K Dick?
Hora de ir embora. Fomos todos juntos. Nada lembrava a velha rua Irmã Laurinda. Não vi o armazém do Seu Jeremias. O Bar do seu Chico deu lugar a uma loja. Até o Juvenil não era mais o Juvenil. Onde bailavam os jovens desta rua? Notei que estava sozinho. As casas dos meus amigos não existiam mais. Nem eles. Olhei, lembrei da última cena de Lages, na noite que fui embora, eles partiram, desaparecendo na noite escura como aquele domingo de julho de 75.  Até eu parti...
Tocou o despertador. Foi num sonho que 'matei' a saudades dos belos amigos, daquele tempo que de tempos em tempos invade a minha memória e tenta reviver como mágica aquilo tudo outra vez. E, vivo! Afinal, o sonho foi tão intenso, mais real do que virtual, que tornou-se um crônica nostálgica, simbólica, melancólica, sem nexo. Apenas ameniza a saudades de certos amigos que embarcaram na 'navilouca', que é a vida. Então, entendi a lição de Toy Story:  "...O tempo vai passar, os anos vão confirmar. As três palavras que proferi. Amigo estou aqui..."

Nenhum comentário:

Postar um comentário