segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O último tango de Messi?



"Os amigos não vêm nem sequer me visitar.
Ninguém quer me consolar em minha aflição"
Versos do tango mais famoso de todos os tempos, La Cumparsita, podem embalar a última noite de Lionel Messi com a camisa da Argentina. Eu torço que a frase fique só na voz desesperadora de Gardel.

Mauro Pandolfi

Quase não vi Pelé. Muito menos Garrincha e Di Stefano. Assisti Zico, Rivelino, Sócrates e Falcão. Li sobre Cruyff e Puskas. Acompanhei toda a carreira de Maradona, Romário e Ronaldo Fenômeno. A trajetória de Zidane, Platini, Boniek e Ruminegge passaram pelos meu olhos famintos de bola.  Renato Portaluppi é o meu ídolo maior. Largo, quase, tudo para assistir Cristiano Ronaldo e Neymar. Ando encantado com Mbappé e Arthur. Mas, neste tempo todo de futebol, de estádio e de sofá, nunca vi nada parecido com Lionel Messi. Nada, nada, nada! Habilidade, técnica, precisão, dedicação, garra, talento. No imperfeito mundo da bola, o mais que perfeito tem nome, sobrenome e genialidade. Lionel Messi é o sinônimo do futebol. Está a beira de um último tango. O derradeiro, terminal, com um ar de tragédia que todo tango tem. Não importa se é de Gardel ou Piazzola. Um adeus que deixará ferida, machucada, amargurada a minha alma moldada pela paixão no Vermelhão de Copacabana.
Os argentinos amam Diego Maradona. Veneram é a palavra exata. Há até uma igreja com seu nome. Desconfiam, duvidam, destratam Lionel Messi. Culpam pelo fracasso da Argentina nos últimos anos. Esperavam que a simples presença de Messi fosse garantia de vitórias, títulos, glórias. O time era só um detalhe. Num lance, num drible, numa falta, uma jogada primorosa, a vitória consagradora. Como disse estes dias um velho 'sábio', daqui mesmo, da bola: 'mentiram para mim dizendo que o craque ganha sozinho, que vence só na sua genialidade! Não é verdade!' Passou uma vida toda para perceber isto. É uma doce ilusão vendida neste canto do mundo. Nem Maradona, Garrincha ou Romário ganharam a copa sozinhos. No mínimo, ao seu redor, uma equipe organizada, competitiva, sólida e bons coadjuvantes. Messi nunca teve esta sorte. Sempre foi a estrela solitária, perdida entre vaidosos, de times desestruturados, defensivos, melancólicos.
Eu gosto do olhar de Messi. Meio profundo, meio aéreo, meio deslocado. No entanto, parece estar focado numa única coisa: a vitória. O olhar vai mudando durante o jogo. A bola na trave, contra o Peru, revelou um olhar desesperado, desencantado, desapontado. Messi corre feito um louco. Joga atrás, buscando o jogo, levando a bola ao ataque, criando situações de gols...e ele não ocorre! Faltou pouco para eu entrar em campo naquele jogo. Olha,  chutei algumas bolas imaginárias. Sofri com o empate. Não pela Argentina. Por Messi. Tenho pena de Messi! O talento colocado em dúvida, criticado, chamado de 'não argentino', de enganador, como escutei dias atrás na tevê - não consegui identificar o 'autor' da injúria. Por que Messi não preferiu ser espanhol? Ao invés de Biglia, trocaria a bola com Iniesta? Por quê?
Não vou cometer o erro de chamar, como vários jornalistas brasileiros fizeram com o time de Dunga, de que 'é a pior geração do futebol argentino'. Não acompanho o campeonato local, só alguns jogos da Libertadores. Gosto de Sampaoli e o jeito frenético de seu time. Porém, ele 'pilha' demais o time. Há um desespero latente, um medo, um pavor, do gol não acontecer. Correm, marcam, sufocam, criam e perdem gols. Para ir a Copa, a Argentina precisa de um pequeno milagre. Da mão abençoada do Papa Francisco, do deus Maradona, da angústia de um tango de Gardel, do suspiro da Mafalda e de um lance, um só!, de Lionel Messi. Com ele na Copa, quem sabe eu consiga cumprir a promessa ao Maurinho - de ver um jogo do mundial. Sem Messi, fico devendo, outra vez, ao Maurinho.

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