"Os amigos não vêm nem sequer me visitar.
Ninguém quer me consolar em minha aflição"
Versos
do tango mais famoso de todos os tempos, La Cumparsita, podem embalar a
última noite de Lionel Messi com a camisa da Argentina. Eu torço que a
frase fique só na voz desesperadora de Gardel.
Mauro Pandolfi
Quase
não vi Pelé. Muito menos Garrincha e Di Stefano. Assisti Zico,
Rivelino, Sócrates e Falcão. Li sobre Cruyff e Puskas. Acompanhei toda a
carreira de Maradona, Romário e Ronaldo Fenômeno. A trajetória de
Zidane, Platini, Boniek e Ruminegge passaram pelos meu olhos famintos de
bola. Renato Portaluppi é o meu ídolo maior. Largo, quase, tudo para
assistir Cristiano Ronaldo e Neymar. Ando encantado com Mbappé e Arthur.
Mas, neste tempo todo de futebol, de estádio e de sofá, nunca vi nada
parecido com Lionel Messi. Nada, nada, nada! Habilidade, técnica,
precisão, dedicação, garra, talento. No imperfeito mundo da bola, o mais
que perfeito tem nome, sobrenome e genialidade. Lionel Messi é o
sinônimo do futebol. Está a beira de um último tango. O derradeiro,
terminal, com um ar de tragédia que todo tango tem. Não importa se é de
Gardel ou Piazzola. Um adeus que deixará ferida, machucada, amargurada a
minha alma moldada pela paixão no Vermelhão de Copacabana.
Os
argentinos amam Diego Maradona. Veneram é a palavra exata. Há até uma
igreja com seu nome. Desconfiam, duvidam, destratam Lionel Messi. Culpam
pelo fracasso da Argentina nos últimos anos. Esperavam que a simples
presença de Messi fosse garantia de vitórias, títulos, glórias. O time
era só um detalhe. Num lance, num drible, numa falta, uma jogada
primorosa, a vitória consagradora. Como disse estes dias um velho
'sábio', daqui mesmo, da bola: 'mentiram para mim dizendo que o craque
ganha sozinho, que vence só na sua genialidade! Não é verdade!' Passou
uma vida toda para perceber isto. É uma doce ilusão vendida neste canto
do mundo. Nem Maradona, Garrincha ou Romário ganharam a copa sozinhos.
No mínimo, ao seu redor, uma equipe organizada, competitiva, sólida e
bons coadjuvantes. Messi nunca teve esta sorte. Sempre foi a estrela
solitária, perdida entre vaidosos, de times desestruturados, defensivos,
melancólicos.
Eu
gosto do olhar de Messi. Meio profundo, meio aéreo, meio deslocado. No
entanto, parece estar focado numa única coisa: a vitória. O olhar vai
mudando durante o jogo. A bola na trave, contra o Peru, revelou um olhar
desesperado, desencantado, desapontado. Messi corre feito um louco.
Joga atrás, buscando o jogo, levando a bola ao ataque, criando situações
de gols...e ele não ocorre! Faltou pouco para eu entrar em campo
naquele jogo. Olha, chutei algumas bolas imaginárias. Sofri com o
empate. Não pela Argentina. Por Messi. Tenho pena de Messi! O talento
colocado em dúvida, criticado, chamado de 'não argentino', de enganador,
como escutei dias atrás na tevê - não consegui identificar o 'autor' da
injúria. Por que Messi não preferiu ser espanhol? Ao invés de Biglia,
trocaria a bola com Iniesta? Por quê?
Não
vou cometer o erro de chamar, como vários jornalistas brasileiros
fizeram com o time de Dunga, de que 'é a pior geração do futebol
argentino'. Não acompanho o campeonato local, só alguns jogos da
Libertadores. Gosto de Sampaoli e o jeito frenético de seu time. Porém,
ele 'pilha' demais o time. Há um desespero latente, um medo, um pavor,
do gol não acontecer. Correm, marcam, sufocam, criam e perdem gols. Para
ir a Copa, a Argentina precisa de um pequeno milagre. Da mão abençoada
do Papa Francisco, do deus Maradona, da angústia de um tango de Gardel,
do suspiro da Mafalda e de um lance, um só!, de Lionel Messi. Com ele na
Copa, quem sabe eu consiga cumprir a promessa ao Maurinho - de ver um
jogo do mundial. Sem Messi, fico devendo, outra vez, ao Maurinho.
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