Mauro Pandolfi
Há
dias que me sinto um mutante. Ando meio desligado. Não sinto os pés no
chão. Estou aéreo. O mundo passa pelo tubo revelando imagens que formam
um mosaico do nada. Atônito. Perdido. Confuso. Aplausos e vaias. Gritos e
sussurros. Discursos desconexos, bizarros, tolos. Perplexo com
armadilhas e artimanhas judiciais. Velhos e jovens histéricos nas ruas.
Parece um sono hipnótico, profundo. Dormi quanto tempo? Ou estive
acordado neste pesadelo? É um país ou um ajuntamento? .A política é um
hospício. Procuro a bola para fugir da minha lucidez que beirou a
loucura. Encontrei a seleção de Tite. O time que renasceu em dois jogos.
Euforia demasiada? Pode ser! Ou é o desespero de quem perdeu o
imaginário que sempre venderam da camisa amarela?. Seria, também, muita
saudade de um país que nunca foi, nunca será, preso num passado teimoso,
que vem embrulhado em fantasias vermelhas, coloridas ou furta cores?
Nem
parecia o Brasil de algum tempo atrás. Livre e solto. Suave, sereno,
lúdico. A 'pior geração de todos os tempos' brincou com a bola. Pareciam
até 'craques'. Habilidade, técnica, confiança, talento. Enfrentou os
fantasmas que os críticos avisavam, pediam cuidados, tremiam de medo: o
pujante Equador, a altitude, a estreia de Tite. Estavam os 'bravos
jornalistas', os profetas do acontecidos, acadelados. Queriam defesa,
marcação, um empate é um bom resultado. Mas, havia Gabriel Jesus,
Philippe Coutinho, Marcelo, Renato Augusto, Marquinhos, Casemiro e... a
estrela da companhia: Neymar. Empate é para os fracos. Mais uma vez
brilhou o craque do Playstation. Assumiu o jogo, controlou o ritmo, a
bola, a emoção. Genial!
Veio
a Colômbia. A nova rival de cor amarela. Um jogaço! Uma disputa em,
cada palmo deste chão. Brigado, guerreado e muito bem jogado. Teve de
tudo. Provocações, dribles, armadilhas táticas. O 'novo' time do Brasil
se impôs, criou, buscou e inventou lances que levaram a vitória. Escutei
comentaristas, que temiam a ausência na copa da Rússia, a proclamar que
'pintou um time para ganhar uma ou duas copas!' Exagero? A vitória
permite. Afinal, há tempos que a derrota é a nossa companheira.
O
que mudou na seleção? Os jogadores são os mesmos. Criou-se um sistema
de jogo que não existia. Confiança e atitude. Mas, quem mudou foi Tite.
Ele é um treinador. Dunga nunca foi. Era apenas uma relação de
compadrio. Típica brasileira. Preste atenção em quantos 'companheiros'
vão perder a boquinha. Farão falta? Nenhuma! Eram apenas encostos. A
grande diferença é o lado humano. Tite é um agregador. Um homem simples e
afável. Um líder que conversa em igualdade com os seus comandados. É só
mais um! Não se comporta como o dono do pedaço. Tite é, detesto a
expressão, 'gestor de pessoas!'. Um homem que parece com o cara que
senta ao seu lado no ônibus.
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