quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Meio desligado



Mauro Pandolfi

Há dias que me sinto um mutante. Ando meio desligado. Não sinto os pés no chão. Estou aéreo. O mundo passa pelo tubo revelando imagens que formam um mosaico do nada. Atônito. Perdido. Confuso. Aplausos e vaias. Gritos e sussurros. Discursos desconexos, bizarros, tolos. Perplexo com armadilhas e artimanhas judiciais. Velhos e jovens histéricos nas ruas.  Parece um sono hipnótico, profundo. Dormi quanto tempo? Ou estive acordado neste pesadelo? É um país ou um ajuntamento? .A política é um hospício. Procuro a bola para fugir da minha lucidez que beirou a loucura. Encontrei a seleção de Tite. O time que renasceu em dois jogos. Euforia demasiada? Pode ser! Ou é o desespero de quem perdeu o imaginário que sempre venderam da camisa amarela?. Seria, também, muita saudade de um país que nunca foi, nunca será, preso num passado teimoso, que  vem embrulhado em fantasias vermelhas, coloridas ou furta cores?
Nem parecia o Brasil de algum tempo atrás. Livre e solto. Suave, sereno, lúdico. A 'pior geração de todos os tempos' brincou com a bola. Pareciam até 'craques'. Habilidade, técnica, confiança, talento. Enfrentou os fantasmas que os críticos avisavam, pediam cuidados, tremiam de medo: o pujante Equador, a altitude, a estreia de Tite. Estavam os 'bravos jornalistas', os profetas do acontecidos, acadelados. Queriam defesa, marcação, um empate é um bom resultado. Mas, havia Gabriel Jesus, Philippe Coutinho, Marcelo, Renato Augusto, Marquinhos, Casemiro e... a estrela da companhia: Neymar. Empate é para os fracos. Mais uma vez brilhou o craque do Playstation. Assumiu o jogo, controlou o ritmo, a bola, a emoção. Genial!
Veio a Colômbia. A nova rival de cor amarela. Um jogaço! Uma disputa em, cada palmo deste chão. Brigado, guerreado e muito bem jogado. Teve de tudo. Provocações, dribles, armadilhas táticas. O 'novo' time do Brasil se impôs, criou, buscou e inventou lances que levaram a vitória. Escutei comentaristas, que temiam a ausência na copa da Rússia, a proclamar que 'pintou um time para ganhar uma ou duas copas!' Exagero? A vitória permite. Afinal, há tempos que a derrota é a nossa companheira.
O que mudou na seleção? Os jogadores são os mesmos. Criou-se um sistema de jogo que não existia. Confiança e atitude. Mas, quem mudou foi Tite. Ele é um treinador. Dunga nunca foi. Era apenas uma relação de compadrio. Típica brasileira. Preste atenção em quantos 'companheiros' vão perder a boquinha. Farão falta? Nenhuma! Eram apenas encostos. A grande diferença é o lado humano. Tite é um agregador. Um homem simples e afável. Um líder que conversa em igualdade com os seus comandados. É só mais um! Não se comporta como o dono do pedaço. Tite é, detesto a expressão, 'gestor de pessoas!'. Um homem que parece com o cara que senta ao seu lado no ônibus.

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