Mauro Pandolfi
"Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer"
Os versos de Mário Quintana é um belo retrato de Marcelo Grohe, o goleiro que a torcida ama odiar. Ou, seria, que odeia amar?
Teatro
de grama e paixão. É a definição que mais gosto sobre futebol. Explica
este belo jogo de vida e 'morte' - simbólica, apenas simbólica! . A
guerra simulada entre facções. Um jogo poético, épico, glorioso. Um jogo
de homens, meninos e deuses. A classificação do Grêmio na Copa do
Brasil foi exemplar. Toda a mística do jogo. A bravura, os enganos, as
dores, as tensões, os conflitos, os medos. Uma partida sem o brilho dos
craques, a estratégia dos técnicos. Apenas os esforços dos mortais. Mas,
que teve o dedo dos deuses. A crueldade com Marcelo Grohe. Depois, a
generosidade. Quando Wewerton tirou bola de Juninho e bateu o pênalti
foi castigado. Errou! Os deuses só admitem a soberba dos humanos iguais a
eles. Dos comuns, a
punição severa. O herói virou vilão. O Atlético perdeu e o Grêmio
ganhou uma sobrevida. Talvez, a redenção.
O
torcedor odeia o futebol. Ama o clube e a vitória. Venera os ídolos ...
do passado. Adora os vencedores. Grita por eles. Exibem faixas,
elaboram cantos, demonstrando um fanatismo assustador. Há 15 anos que o
Grêmio não ganha um título importante. O gauchão não conta. Neste
período, a fogueira permaneceu acesa. Já foram incinerados grandes
nomes, jovens promessas, comuns, cabeças de bagre. Poucos, quase nenhum,
foram poupados.
Ontem
parecia a noite da fogueira de Marcelo Grohe. O goleiro forjado no
clube, que de tempos em tempos, o salva, esteve a beira do sacrifício.
Igual ao que foi submetido Victor, Thiago, Jonas, Bruno... Escapou na
defesa fantástica, no chão, na garra, de vergonha.
Ele
não é Danrlei. Ontem, pareceu..Não tem os títulos e nem a aura. Danrlei
era um torcedor em campo. Louco e apaixonado. A idolatria o tornou
deputado e um aspirante ao governo do estado. Marcelo é só um
espetacular goleiro. Para um gremista, é pouco, quase nada. O futuro de
Grohe deverá ser longe da Arena. Caberá ao menino Léo enfrentar o
fantasma de Danrlei.
Desculpem-me os seis leitores do blog ao escrever, mais uma vez, sobre o
Grêmio. Afinal, deles, só o Mário é gremista. Era impossível não comentar a
noite de Marcelo Grohe. Vou tentar fugir do clichê, do lugar comum
para terminar. Não lembrarei o vilão que vira herói. E foi! Da profecia
de Renato. O primeiro milagre? Acho, cada vez mais, que a religião comanda
a vida. A fé em acreditar no impossível ou a maneira como os
fundamentalistas lidam com a política, com o futebol, com a existência. Creem, creem, creem. A realidade
é só uma fantasia para um fanático. Não acabarei o texto assim. Vou
buscar 'um gauchismo' perdido para salientar Marcelo Grohe. Em
posição de sentido, a mão no coração, a voz, embargada, solto o
canto: 'Sirva a sua façanha de modelo, de modelo, para toda a Terra'....! Oigalê!, Grato, Grohe!
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