quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Noite sem fim



Mauro Pandolfi

"Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer"
Os versos de Mário Quintana é um belo retrato de Marcelo Grohe, o goleiro que a torcida ama odiar. Ou, seria, que odeia amar?

Teatro de grama e paixão. É a definição que mais gosto sobre futebol. Explica este belo jogo de vida e 'morte' - simbólica, apenas simbólica! . A guerra simulada entre facções. Um jogo poético, épico, glorioso. Um jogo de homens, meninos e deuses. A classificação do Grêmio na Copa do Brasil foi exemplar. Toda a mística do jogo. A bravura, os enganos, as dores, as tensões, os conflitos, os medos. Uma partida sem o brilho dos craques, a estratégia dos técnicos. Apenas os esforços dos mortais. Mas, que teve o dedo dos deuses. A crueldade com Marcelo Grohe. Depois, a generosidade. Quando Wewerton tirou bola de Juninho e bateu o pênalti foi castigado. Errou! Os deuses só admitem a soberba dos humanos iguais a eles. Dos comuns, a punição severa.  O herói virou vilão. O Atlético perdeu e o Grêmio ganhou uma sobrevida. Talvez, a redenção.
O torcedor odeia o futebol. Ama o clube e a vitória. Venera os ídolos ... do passado. Adora os vencedores. Grita por eles. Exibem faixas, elaboram cantos, demonstrando um fanatismo assustador. Há 15 anos que o Grêmio não ganha um título importante. O gauchão não conta. Neste período, a fogueira permaneceu acesa. Já foram incinerados grandes nomes, jovens promessas, comuns, cabeças de bagre. Poucos, quase nenhum, foram poupados.
Ontem parecia a noite da fogueira de Marcelo Grohe. O goleiro forjado no clube, que de tempos em tempos, o salva, esteve a beira do sacrifício. Igual ao que foi submetido Victor, Thiago, Jonas, Bruno... Escapou na defesa fantástica, no chão, na garra, de vergonha.
Ele não é Danrlei. Ontem, pareceu..Não tem os títulos e nem a aura. Danrlei era um torcedor em campo. Louco e apaixonado. A idolatria o tornou deputado e um aspirante ao governo do estado. Marcelo é só um espetacular goleiro. Para um gremista, é pouco, quase nada. O futuro de Grohe deverá ser longe da Arena. Caberá ao menino Léo enfrentar o fantasma de Danrlei.
Desculpem-me os seis leitores do blog ao escrever, mais uma vez, sobre o Grêmio. Afinal, deles, só o Mário é gremista. Era impossível não comentar a noite de Marcelo Grohe.  Vou tentar fugir do clichê, do lugar comum para terminar.  Não lembrarei o vilão que vira herói. E foi! Da profecia de Renato. O primeiro milagre? Acho, cada vez mais, que a religião comanda a vida. A fé em acreditar no impossível ou a maneira como os fundamentalistas lidam com a política, com o futebol, com a existência. Creem, creem, creem. A realidade é só uma fantasia para um fanático. Não acabarei o texto assim. Vou buscar 'um gauchismo' perdido para salientar  Marcelo Grohe. Em posição  de sentido, a mão no coração, a voz, embargada, solto o canto: 'Sirva a sua façanha  de modelo, de modelo, para toda a Terra'....! Oigalê!, Grato, Grohe!

Nenhum comentário:

Postar um comentário