terça-feira, 20 de setembro de 2016

O passado não é longe daqui



Mauro Pandolfi

O passado me persegue. Seja num sonho ou no olhar do espelho. Não reconheço a imagem que vejo. Sou um outro eu. De um tempo contrário. Do passado, que nunca termina! No dia a dia me reencontro com a imagem idealizada. Ora, na conversa com os velhos amigos.  Somos todos jovens. O que me causa estranheza são os cabelos brancos deles. No abraço generoso do Mário, igual a de uma comemoração de um gol de um título. No sorriso de algum menino, num carrinho de bebê, vejo o Pedro  e o André.  Agora, são jovens, bonitos, grandes, forjando a juventude. Mas, a imagem que tenho deles é o olhar feliz, os braços abertos em minha direção  ao chegar em casa e o pedido para brincar. Poxa! Faz tempo! O passado é tão mágico, ilude o tempo. Há domingos, ao entrar na casa de minha  mãe, ouço  a risada gostosa de meu pai. Porém, é  so um engano.  Um triste engano. Assim é o passado. Já foi. Terminou. Ficou numa foto, numa lembrança. Sobrevive como saudade   Só como saudade!Num átimo, o presente me encara. A vida me cobra. E, a volta para o futuro é só um belo filme. Ao contratar Renato Portalupi e Valdir Espinosa, o Grêmio  disse adeus ao presente, abandonou o futuro e tenta reencontrar uma gloriosa era de vitórias. Que só existe nos almanaques, nas memórias ou num pensamento mágico de um cartola.
Aquela madrugada de domingo de 1983 é a felicidade no futebol. O dia eterno. Nunca terminará. Queria viver o 'feitiço do tempo' do filme. Todo dia o mesmo dia. Aquele onze de dezembro reviveria sempre.  Se a felicidade é o momento que desejamos eterno, que nunca termine, isto explica o nome Renato no meu filho. A vitória seria sempre lembrada, vivida, reverenciada. É só uma fantasia, o meu feitiço no tempo. O meu engano.
 Renato retorna mais uma vez. A terceira! Infelizmente, não como jogador.  A saudade, o passado não é uma fonte da juventude. Que pena!  Volta como técnico sazonal. O homem que resolveu tirar férias trabalhando.  Sempre é buscado no desespero, no medo, na incerteza. Ele foi um treinador ousado na primeira. Descobriu um talento em Jonas e transformou André Lima em um mortal artilheiro. Um mágico! Na segunda, foi um José Mourinho dos trópicos. Armou um moderno time defensivo. Compactado atrás, envolvente na saída de bola, rápido no ataque de poucos gols. Foi vice-campeão.  Nas duas vezes foi dispensado sem respeito, sem homenagens, com ingratidão. Renato só regressa pelo gremismo. Um louco e desvairado amor pelo Grêmio...e um polpudo salário, também! Espero que Renato preserve o belo jogo de Roger.  Não desmonte a ideia. Aprimore! Transforme Luan em um atacante poderoso. Afinal, é melhor que Jonas e André Lima. 
O passado que nunca termina é um signo do Brasil. Todas as soluções são catadas no que já passou. Nos acertos e, principalmente, nos erros. Acompanhe a propaganda eleitoral. Até o 'novo' busca inspiração nos 'morangos mofados'. Muitos falam em voltar a um tempo que julgam glorioso.  Nada mais fantasioso que isto. O passado é sempre melhor. É depurado, filtrado, escolhido a dedo as lembranças. Quando volta, como engano, revela o lado escondido, negado,  perverso. O passado nos condena. O futuro, nos engana. E, o presente não dá para devolver.

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