quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Deu prá mim!


Mauro Pandolfi

Dormi pouco. Varei a madrugada com rádio ligado. Atônito, não acreditava na notícia. Esperava o desmentido. Não veio. De manhã, os sites confirmaram o meu pesadelo. Roger Machado não é mais o treinador do Grêmio. Pediu demissão. Meu mundo tricolor caiu. O belo jeito de jogar terminou. Aliás, um hiato na nossa história. A bola bem jogada, o jogo planejado, as soluções  individuais, o moderno foi uma ilusão. Uma bela ilusão. Um engano que acabou. Agora, veremos o verdadeiro Grêmio. Fechado, truncado, chutões, marcação. Suor, lágrimas, calções sujos. O Grêmio que a maior parte da torcida sonha, deseja,  suspira. O Grêmio perdido da década de 90. Ainda bem que Celso Roth está  empregado. Mas, não custa fazer uma proposta. Acho que o Inter libera.
Largava tudo para ver o Grêmio de Roger.  Me fazia bem. Ficava alegre, risonho, feliz. Nada ganhou. Perdeu tudo. Gaúcho, Primeira Liga, Brasileiro. Estou acostumado com derrotas. Adorava ver o time jogar. A bola bem trabalhada, os. passes medidos, as trocas de funções. A beleza do jogo moderno. Vibrei em muitas vitórias como há  tempo não fazia. O menino, apaixonado pela bola, se encontrou com o velho cético, sem esperança, utopia ou sonho de um título. Via os jogos com o amor de um torcedor. Ficava ansioso. Nada me distraia. Me tiraram isto. É verdade que o bom jogo tinha sumido, desaparecido, sequestrado. Sempre achei que voltaria. É a fase da vida. O mau momento passageiro. Ainda não entendi a desistência de Roger. Faltou apoio da direção? Ou, medo de enfrentar uma grande crise? Não teve culhão para encarar a conservadora imprensa gaúcha? Ou foi um ato de bravura ao reconhecer que não mais tinha a oferecer? Como todos sabem, o tempo dirá!
Sei que os deuses da bola gostam de brincar, de provocar desafios. Será  que os gremistas estão  convencidos do novo jogo? Pelos comentários, conversas, depois das derrotas, descobri que estávamos com saudades de outros tempos. Da imortalidade, do jogo sofrido, da vitória  heroica, da alma castelhana. Estarão de volta conforme o novo treinador. Novo? Aposto em velhos conhecidos de outros tempos.
Roger cometeu os mesmos erros dos técnicos brasileiros. Criou um grupinho de jogadores. Os confiáveis, os que estabilizam os vestiários, os líderes. Fixou-se neles. Roger se agarrou a Marcelo Oliveira, Maicon e Douglas. Não  entendeu uma lição  do livro de Guardiola: 'Há  momentos que os melhores devem jogar. Jovens pedem o espaço.Tem de esquecer a fama, o dinheiro e a liderança' Roger ignorou. Caiu abraçado com eles. Não quis ver a ruindade de Oliveira, a soberba de Maicon e a lerdeza de Douglas. Os jovens,  como Lincoln, Tontini foram esquecidos. Outros, como Eric e Balbino, nem foram lembrados
O Grêmio faz 113 anos neste 15 de setembro. Estou triste. Roger Machado deu um péssimo presente para torcedores, como eu.  Ele.era a minha certeza do novo, do ousado. Um reencontro com a grandeza, a história fascinante das três cores. Roger era o rompimento com o passado derrotado.  Ele era a negação da machonaria,  tão ao gosto dos torcedores. Nada de berros ao lado do campo.  Nunca escutei uma bravata. Só  pensares lúcidos. Roger vai brilhar muito. O Grêmio segue o projeto armado por Guerreiro, Obino, passando por Odone, Koff, e está soterrando Bolzan, de apequenamento do clube. Virar um Ypiranga com grife. Sem esquecer que o Grêmio não é da bucólica Erechim..

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