sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Diego, 60!

 

"Lá na clínica tem um cara que diz que é Napoleão e outro que pensa que é San Martin. Quando digo que sou Maradona, eles não acreditam".
Diego Armando Maradona é o mais complexo ariete da Santíssima Trindade da bola. Foi deus e humano. Brilhou na lucidez de gênio e conseguiu sair vivo da loucura. A bola o tornou imortal.
Mauro Pandolfi
Há algo de Pelé em Maradona. Nunca foi 'Rei', nem 'Príncipe' e nem teve um bando de fidalgos para cortejá-lo. Diego Maradona foi mais divino. Flertou com 'Deus'. Tratado como Deus. Um 'Deus' cheio de devotos, uma igreja para para praticar os rituais e hereges para contestar a divindade. Dizem que na cruz deste Deus está marcado, em azul e branco, o número dez. Único e envolvente, Maradona seduziu com um jogo poético e mortal, forjados em dribles e chutes impossíveis. Fez o gol mais fantástico de uma Copa do Mundo. Correu 55 metros, com a bola acarinhada no pé, em sete segundos numa velocidade média de 29 km/h. Um velocista de 100 metros chega a 35km/h. Eles correm em linha reta, ninguém para atrapalhá-los, sem uma bola no pé. O ex-zagueiro Ruggeri contou, no programa Resenha da ESPN Brasil, sobre o lance.'Parei para olhar. Ele foi correndo, a bola grudada no pé, passou por um, por outro e quando chegou próximo do goleiro, nos contou que lembrou do irmão, que havia cobrado o drible no goleiro num lance parecido. Quem vai lembrar disto num ato de segundos? Um monstro! Diego precisa ser estudado!' Isto é Maradona! O 'Deus' que se tornou homem.
Há muito de Manoel Francisco dos Santos em Diego Maradona. Não só os dribles mágicos e alegria do povo os tornam parecidos. Flertaram, conviveram com a dor, o desespero, as tragédias pessoais, os fracasso levaram ao fundo poço. Mané Garrincha sucumbiu ao álcool. Da miséria, a depressão e a morte. Diego Maradona teve mais sorte. Saiu com vida. Sua ex-esposa Cláudia Villafañe declarou certa vez: 'Diego está sendo devorado por Maradona'. A prisão, o uso intenso de cocaína, a internação no hospício. Diego sobreviveu, assim como Maradona. A maturidade o deixou mais rebelde, contestador, provocador, às vezes, estúpido, ora, irreverente, divino. Altivo, orgulhoso, declara-se 'peronista, fã de Chaves, amigo de Fidel' e detestou quando João Havelange o chamou de 'filho'. Irritado, respondeu: 'no soy hijo de puta'. Maradona sempre precisou de um tango para bailar, sorrir, chorar, viver.
Diego Armando Maradona é a lenda da minha geração. O que mais vi jogar. Como garoto, como um velho. Temos a mesma idade, quem sabe os mesmos sonhos, não os mesmos pesadelos. É o último texto sobre os três da Santíssima Trindade. É o meu agradecimento aos três homens que inventaram a vida, a alegria, o amor, a dor no teatro de grama e paixão. Republico um texto sobre Diego Maradona.
Um tango para Diego
Mauro Pandolfi
"Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao
No ves que va la luna rodando por callao
Que un corso de astronautas y niños, con un vals
Me baila alrededor. Baila! Veni! Volá!"
"A balada de um louco" de Astor Piazzolla pode ser um tango para Diego.
Diego Armando Maradona é a ponta mais aguda do tridente nascido em outubro. Há algo de Pelé, muito de Garrincha. Diego é prosa e poesia. Diego é o futebol. Foi um gênio precoce. Um adolescente atrevido. Um adulto problemático. Um velho a beira loucura. Maradona é um homem complexo. Viveu a lucidez, a glória, a fama, o fundo do poço. Foi excluído como um pária. Reintegrado como um Deus. Desafiou a ordem, rebelde que transitou a margem no futebol. Flertou com a máfia, com ditadores, com drogas e com a morte. Maradona é o melhor representante do fim do século xx. O ídolo da minha geração. Um mito. Uma lenda. Um homem. Tão humano, tão frágil, tão estúpido, tão divino.Maradona e a bola. O futebol sempre foi e será uma fantasia. Ele dá uma media volta e segue a bailar. O canto da torcida lembra uma orquestra executando um tango. Desliza no gramado para o longo caminito. Mano a mano enquadra um rival. A bola é la cumparsita. A esquadra inglesa é envolvida pelos movimentos rápidos e elegantes. Os muchachos acompanham a dança. Vê o zagueiro e arma o gancho. O ultimo movimento é um corte no goleiro. A bola na rede é o derradeiro verso do tango, berrado em plenos pulmões no estádio Azteca. Diego Armando Maradona é o tango jogando. Lírico, encantador, dramático. Aquele gol é arte. Sublime arte. Arte eternizada pelo narrador uruguaio Victor Morales. Ele cantou assim:"....Quero chorar! Deus Santo! Viva o futebol! Golaço...Diegool! ....Maradona é para chorar. Maradona numa corrida memorável. A maior jogada de todos os tempos!....Graças Deus! Pelo futebol! Por Maradona! Por estas lágrimas!..."Futebol e guerra. O simulacro perfeito. Cores, símbolos, países. O campo e a batalha. O imaginário foi tão real na copa do México em 1986. A Inglaterra humilhara a Argentina nas Malvinas. O conflito suicida armado por um ditador louco e desesperado. Dor, sangue, lágrimas, jovens mortos. O futebol como revanche. Diego Maradona como o comandante supremo. Liderou a batalha, venceu com fúria. Um gol estupendo e uma falcatrua típica latina.'La mano de Dios' é a sua obra mais famosa. O lance que faz o transitar em sagrado e o profano. Entre deus e o diabo. Entre a glória e a desgraça. Entre a vida e a morte. Maradona é o mais trágico personagem do futebol. Também, o mais genial.
Diego Armando Maradona é a ponta mais aguda do tridente nascido em outubro. Há algo de Pelé, muito de Garrincha. Diego é prosa e poesia. Diego é o futebol. Foi um gênio precoce. Um adolescente atrevido. Um adulto problemático. Um velho a beira loucura. Maradona é um homem complexo. Viveu a lucidez, a glória, a fama, o fundo do poço. Foi excluído como um pária. Reintegrado como um Deus. Desafiou a ordem, rebelde que transitou a margem no futebol. Flertou com a máfia, com ditadores, com drogas e com a morte. Maradona é o melhor representante do fim do século xx. O ídolo da minha geração. Um mito. Uma lenda. Um homem. Tão humano, tão frágil, tão estúpido, tão divino.
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