"Amadurecer, morrer; é quase a mesma palavra".
A juventude, a infância, segundo o escritor Victor Hugo, é que mantém a ousadia e a liberdade do homem.
Mauro Pandolfi
Eu
tenho um olhar afetuoso com Neymar. Não sei se é a idade que me
deixou mais compreensivo com os craques detonados pelos ranzinzas
comentaristas esportivos da tevê. Mas, extremamente intolerante com os
fascistas que sairam do armário. Ou se é o fato de
ser pai de dois adolescentes cheios de certezas, criativos, folgados.
Neymar não é um rebelde daqueles que gostava quando
garoto. Longe disto. Ele é um deslumbrado com a grana que saem de seus
pés
mágicos feito uma cornucópia. Alguém que gosta de ostentar a 'dolce
vida', as festas, os amigos, as namoradas, a juventude que acredita ser
eterna. Neymar jamais crescerá. É um Peter Pan. Se recusará a ser
adulto e depois velho. Neymar seguirá Paulo Miklos que declarou ter
sido 'adolescentes até os 47 anos'. O futebol tem a magia da infância,
do garoto que bate bola na rua, que permanece para sempre. Como um
engano. Mas, raros os jogadores que não cultivam este engano. Raros os
amantes do futebol que não queriam viver este engano. O futebol é a
fonte da juventude. Da alma! O corpo acompanha o ritmo do tempo. Que
pena!
No
programa Bola da Vez, da Espn Brasil, no final de dezembro, o gremista
Pedro Geromel contou a rotina de Neymar durante a Copa. Segundo Geromel,
antes de todos acordarem, Neymar já estava na academia. Terminavam os
treinamentos no início da noite e na academia Neymar continuava a dura
rotina de recuperação. "Era impressionante a força de vontade dele, a
dedicação, a vontade de brilhar na Copa", afirmou Geromel. Neymar
'fracassou' como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Os dois foram
'perdoados'. Neymar, não! Virou piada, meme, foi ironizado, símbolo de
quem tenta fraudar o jogo. A vida continuou e bola voltou a rolar pelo
mundo. Neymar sofreu uma nova lesão no mesmo dedo. Numa postagem se
comparou a um 'super-herói', destes que salva o planeta, os humanos em
algum filme. Foi detonado, outra vez, ridicularizado. 'Nunca vai
crescer!', berraram os seus críticos. Tenho 59 anos, amadurecido há
muito tempo, fico na fila do cinema, leio os gibis, compro o dvd depois,
e sou fã de vários super-herois das telas. 'Deadpool' e o 'Surfista
Prateado' embalam a minha esperança de que o planeta pode ser salvo.
Apesar do Trump, bollssonaro, Erdogan, Maduro...
Neymar
amadureceu seu jogo. Não é mais o driblador divertido do tempo do
Santos. O abusado, irreverente, 'o monstro criado' - segundo o
espertalhão Renê Simões -, o que inventou um time ao seu redor - todos
eram craques junto dele. Todos sumiram sem a sua presença - perdeu a
poesia, ganhou corpo, ficou mais técnico, entendeu o pensar do futebol. A
ida ao Barcelona o transformou em outro jogador. Mais dinâmico, ampliou
o entedimento tático, parecia que o sonho de ser o melhor mundo seria
logo ali. Tudo foi um engano. Neymar sucumbiu aos desejos financeiros de
seu pai, foi ao PSG em busca da glória que não veio e foi transformado
'num craque qualquer', que poucos respeitam. Tenho saudade de Neymar no
Santos. De seus dribles, da velocidade, da inconsequência de seu jogo,
do jeito abusado de moleque de rua. Neymar perdeu a poética do futebol
ao tentar evitar a infância do drible para mostrar um maturidade que
destrói a genialidade. Seria que o futebol driblou Peter Pan?
Neymar
nunca vai comemorar um gol com os punhos cerrados como Reinaldo. Nunca!
Jamais vai liderar um movimento como a Democracia Corinthiana feito
Sócrates. Jamais! Nem pensar em recusar o cumprimento ao ditador de
plantão como Carlos Cazely fez com Pinochet. Nem pensar! Neymar nunca
será Reinaldo, Sócrates ou Cazely. Não tem o espírito da contestação,
nunca enfrentou uma tirania. Talvez, nem a vida foi tão difícil. Neymar
não tem, não acredito que algum dia terá a maturidade de um pensar
político, de representar um povo, uma resistência. Não repetir Felipe
Mello ou Lucas Moura é o suficiente. E, como é!
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