segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O drible de Peter Pan

 

"Amadurecer, morrer; é quase a mesma palavra".
A juventude, a infância, segundo o escritor Victor Hugo, é que mantém a ousadia e a liberdade do homem.

Mauro Pandolfi

Eu tenho um olhar afetuoso com Neymar. Não sei se é a idade que me deixou mais compreensivo com os craques detonados pelos ranzinzas comentaristas esportivos da tevê. Mas, extremamente intolerante com os fascistas que sairam do armário. Ou se é o fato de ser pai de dois adolescentes cheios de certezas, criativos, folgados. Neymar não é um rebelde daqueles que gostava quando garoto. Longe disto. Ele é um deslumbrado com a grana que saem de seus pés mágicos feito uma cornucópia. Alguém que gosta de ostentar a 'dolce vida', as festas, os amigos, as namoradas, a juventude que acredita ser eterna. Neymar jamais crescerá. É um Peter Pan. Se recusará a ser adulto e depois velho. Neymar seguirá Paulo Miklos que declarou ter sido 'adolescentes até os 47 anos'. O futebol tem a magia da infância, do garoto que bate bola na rua, que permanece para sempre. Como um engano. Mas, raros os jogadores que não cultivam este engano. Raros os amantes do futebol que não queriam viver este engano. O futebol é a fonte da juventude. Da alma! O corpo acompanha o ritmo do tempo. Que pena!
No programa Bola da Vez, da Espn Brasil, no final de dezembro, o gremista Pedro Geromel contou a rotina de Neymar durante a Copa. Segundo Geromel, antes de todos acordarem, Neymar já estava na academia. Terminavam os treinamentos no início da noite e na academia Neymar continuava a dura rotina de recuperação. "Era impressionante a força de vontade dele, a dedicação, a vontade de brilhar na Copa", afirmou Geromel. Neymar 'fracassou' como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Os dois foram 'perdoados'. Neymar, não! Virou piada, meme, foi ironizado, símbolo de quem tenta fraudar o jogo. A vida continuou e bola voltou a rolar pelo mundo. Neymar sofreu uma nova lesão no mesmo dedo. Numa postagem se comparou a um 'super-herói', destes que salva o planeta, os humanos em algum filme. Foi detonado, outra vez, ridicularizado. 'Nunca vai crescer!', berraram os seus críticos. Tenho 59 anos, amadurecido há muito tempo, fico na fila do cinema, leio os gibis, compro o dvd depois, e sou fã de vários super-herois das telas. 'Deadpool' e o 'Surfista Prateado' embalam a minha esperança de que o planeta pode ser salvo. Apesar do Trump, bollssonaro, Erdogan, Maduro...
Neymar amadureceu seu jogo. Não é mais o driblador divertido do tempo do Santos. O abusado, irreverente, 'o monstro criado' - segundo o espertalhão Renê Simões -, o que inventou um time ao seu redor - todos eram craques junto dele. Todos sumiram sem a sua presença - perdeu a poesia, ganhou corpo, ficou mais técnico, entendeu o pensar do futebol. A ida ao Barcelona o transformou em outro jogador. Mais dinâmico, ampliou o entedimento tático, parecia que o sonho de ser o melhor mundo seria logo ali. Tudo foi um engano. Neymar sucumbiu aos desejos financeiros de seu pai, foi ao PSG em busca da glória que não veio e foi transformado 'num craque qualquer', que poucos respeitam. Tenho saudade  de Neymar no Santos. De seus dribles, da velocidade, da inconsequência de seu jogo, do jeito abusado de moleque de rua. Neymar perdeu a poética do futebol ao tentar evitar a infância do drible para mostrar um maturidade que destrói a genialidade. Seria que o futebol driblou Peter Pan?
Neymar nunca vai comemorar um gol com os punhos cerrados como Reinaldo. Nunca! Jamais vai liderar um movimento como a Democracia Corinthiana feito Sócrates. Jamais! Nem pensar em recusar o cumprimento ao ditador de plantão como Carlos Cazely fez com Pinochet. Nem pensar! Neymar nunca será Reinaldo, Sócrates ou Cazely. Não tem o espírito da contestação, nunca enfrentou uma tirania. Talvez, nem a vida foi tão difícil. Neymar não tem, não acredito que algum dia terá a maturidade de um pensar político, de representar um povo, uma resistência. Não repetir Felipe Mello ou Lucas Moura é o suficiente. E, como é!

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