sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Pelé, depois...

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"Primeiro compararam com Di Stefano. Depois, Cruyff. Depois, ele (Maradona) e agora Ronaldinho e o nome que sempre fica é o meu!"
Pelé nunca duvidou de sua imortalidade. Sempre se portou como eterno. O futebol procura um substituto para as belas tardes de domingo, que às vezes, estão nas noites de terças. Mas, jamais um novo 'Rei'. O mundo do futebol rejeita um novo soberano. Pelé é celestial!

Mauro Pandolfi

Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino. É a mais bela poesia épica do futebol. A mais sonora, mais musical, mais rítmica. Métrica perfeita num jogo sólido e inesquecível. Não há um poema como este. Nem um verso como...Pelé! É amplo, completo, estético, celestial. Sua imagem, mesmo décadas depois de abandonar o futebol, talvez ainda divida a parede de um quarto com uma musa e uma banda de rock. No meu quarto, lá por 1974, era assim. Quem sabe, algum 'devoto' romântico mantenha esta cena divina. Porém, e depois de Pelé, quem foi ou é o Pelé? A revista Placar fez a enquete com jornalistas, amantes do jogo, jogadores, craques e escolheu Neymar. Uma ousadia ou, em tempo de um fundamentalismo religioso tacanho, blasfêmia!  Eu gosto de ousadia. E, cá entre nós, uma heresia, uma iconoclastia faz bem a alma e ao cérebro. Desafinar o coro dos contentes desopila o fígado. Fico com Neymar, também. Mas...
Menino ainda, vi numa Placar uma foto de Washington na capa: O novo Pelé!  Talentoso, hábil, vistoso, genial, sucumbiu, sugado na maldita comparação. Rodou por vários times e seu futebol foi sumindo, desaparecendo. De imensos como Corinthians aos pequenos, como a Ferroviária. Encontrei no Marcílio Dias lá por 86. Amargo, silencioso, possesso quando perguntei sobre a comparação, e, muito afável, me disse: 'isto acabou com a minha carreira. Queriam Pelé. Eu era apenas Washington'.  Ele faleceu em 2010. Um obituário de poucas linhas contou a sua trajetória. Enéas Camargo foi outro jovem que percorreu a mesma estrada de Washington. Nunca confirmou a genialidade prometida e morreu em um acidente de automóvel (em 88) exatamente como Dener (em 94), a última esperança de um novo Pelé. Triste sina destes jovens negros, fantásticos, tragados pela exagerada comparação.
Gosto dos gênios, dos mitos consagrados, dos que tornaram-se adjetivos de futebol. No entanto, procuro os que são lembrados só pelos 'fanáticos' por poesias, as escalações de um time, idolatrados por torcedores de clube.  O braço erguido, desafiador, inteligente. Reinaldo José de Lima não deve nada para Romário e Ronaldo Fenômeno. Quem sabe foi mais genial do que eles. Outro foi Careca. Também, do mesmo nível, ou melhor, do que os artilheiros campeões de 94 e 2002. Nunca esqueço de Pita. O soberbo meia do Santos, o primeiro menino da Vila. Driblador, cerebral. dono de gols que Messi ou Maradona, desconfio que Pelé, também, assinariam. Na mente, enquanto escrevo, surgem cenas de dribles, de passes de gols, de uma meia extraordinário, que seria mais genial se surgisse hoje: Paulo César Carpegianii. Uma mistura de Xavi, Iniesta e Arthur. No final dos anos 70, em tempos de Zico, Falcão e um surpreendente jovem chamado Sócrates, o Rei fez a sua escolha que surpreendeu o mundo da bola: Luís Paulo. Um esforçado, sou gentil, ponteiro esquerdo Flamengo. Pérola de um Rei!
Nomes, ídolos, geniais. Símbolos de um futebol. Quem vem depois de Pelé? A outra poesia sonora do futebol brasileiro: Valdir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho e Éder. O poema começa torto, Aos poucos revela magia, encantamento, tristeza. Muitos foram referencias, fazem parte da mitologia, da história oral, dos cantos, dos gritos, do choro. Zico, Sócrates e Falcão são nomes fortes pós Pelé. Prefiro Leandro e, especialmente, Júnior, talvez o mais completo jogador deste país. Como é difícil escolher.
O futebol flui, avança, outros olhares, outros países, outras cores. A bola é européia. O brilho vem de lá. Tantos. De  Romário até Rivaldo. De Valdo, passando por Renato, não é só 'devoto' escrevendo, ao fenômeno Ronaldo, que descobriu um outro caminho para Compostela. Pelo lado, a dribles, com força, com talento.. De Kaká, Alex, ao, como me dói citar, Ronaldinho Assis. Do esquecido Djalminha ao nunca citado Carlos Miguel. Poxa! Como é gigante o futebol brasileiro! Todos com jeito de 'Pelé'. Uns mais, outros menos.
Neymar! É a minha escolha. Tostão me inspirou, certa vez, a escolher Neymar. Ele tem todas as qualidades de craque. Tem um jogo amplo, vasto repertório, dribla como um velho ponta. Cobra falta, cria passes mágicos, como um meia. Finaliza feito um centroavante. Sabe usar o tempo e o espaço. É técnico e tático. Aprendeu a 'ler o jogo. Tem todos os defeitos. Segura demais a bola, confia muito no seu jogo, individualista  (mas, a genialidade só vai aparecer na jogada individual). O que 'atrapalha' Neymar é a visibilidade. Não vai ser lembrado por história, por ouvir um velho tio contar as suas façanhas, será por imagens. Todos os seus jogos estão na 'nuvem', prontos para serem acessados. As grandes partidas e as atuações desastrosas. Afinal, o 'craque' também sucumbe. Escolho Neymar para ficar no presente. No passado deixo as lembranças de um tempo-jogo mágico. Se olhar pelo futuro, há Vinícius Júnior, Arthur, Antony, Jean Pierre, outros meninos que vão construir as suas glórias. E, eu aplaudirei entusiasmado. Afinal, o futebol é a paixão que move este blog e este escriba que cultua 'um campo de sonhos'..

2 comentários:

  1. Mauro, diferente de Washington ou Enéas, vejo Neymar como protagonista. Um cara que aceita a comparação e esta não pesa sobre seus ombros.

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  2. A distância, o tempo favorece Neymar. Washington e Enéas foram muito próximos de Pelé. Não tiveram apoios, só comparações. Não suportaram o peso. Seriam maiores sem as comparações.

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