"Adios muchachos, compañeros de mi vida, barra querida de aquellos tiempos. Me toca a mi hoy emprender la retirada..."
Um tango para homenagear meu amigo Alberto que pegou o trem antes do combinado e partiu no sábado sem avisar. Fique em paz.
Mauro Pandolfi
'Hola?'
A típica saudação argentina (Alberto era portenho, salientava!) era o
sinal da chegada na farmácia. O sorriso, a garrafa de Coca (às vezes,
com chá!), a mochila, a regata azul, bermuda, sandália, a piteira sem
cigarro, o abraço fraterno, o beijo carinhoso, a boa conversa. Alberto
desfilava o seu conhecimento de homem do mundo. Falava de futebol,
política (antiperonista convicto. Mas, não falesse mal de Evita perto
dele!), meio socialista, quase vidente, contador de histórias
deliciosas, donos de gestos teatrais. Escorado no balcão, o personagem
de um tango era incorporado. Olhava para o Mário e lamentava-se: 'Estoy
mui mal, Mário. Quase morri!' A bendita paciência do Mário amenizava as
'suas dores', nem sempre tão reais. Alberto saia feliz. Agora é uma cena
que será vista somente em nossas memórias. Alberto morreu no sábado, em
Buenos Aires, aos 74 anos. Era uma da pessoas que eu mais gostava. Uma
lágrima escapou no teclado. Já é saudade.
Aprendi
muito com Alberto. Descobri que o futebol é um jogo de olhares. Há mais
incertezas do que verdades. Mais acasos do que acertos. Ele amava o
River (dizia que o 'River só perdia quando jogava mal ou era roubado'), o
futebol bem jogado (necessariamente nesta ordem!). Amigo de Carrizo e
Nestor Rossi (dois mitos do River), foi juvenil, fez curso de técnico, e
viu, em campo, alguns dos melhores jogadores da bola. Uma história que
me encantava era a de Pelé contra o Boca, em La Bombonera. Alberto
abusava do gestual, representava os lances, contava os detalhes, a
maestria, a genialidade de Pelé e de Coutinho na grande vitória do
Santos. Mas, Alberto preferia Sivori ('o maior de todos', afirmava), Di
Stefano. Nunca Maradona. 'Este foi ao inferior ao Beto Alonso", dizia.
Abel, outro amigo de Alberto, ria. 'Maradona nunca foi do River. Se
fosse do Boca, seria o maior da história!', contava ele. Alberto fazia
de conta que não ouvia. Boas discussões que ficarão para sempre.
Uma
vez me trouxe um livro contando a história das Copas do Mundos pelo
olhar argentino. Uma visão diferente da contada aqui. Descobri que fomos
defensivos nas conquistas (58, 62,70). A única vez que jogou no ataque
(em 82), o Brasil perdeu. Para o André trouxe uma camisa do River, que
usou até ficar pequena. Para mim, uma do Almagro (André dizia que
deveria ser 'Algordo!' Coisa de filho que ama o pai!), que tem as cores
do Grêmio. Um dia destes, eu e o Mário, perguntamos o que "Alberto pensa
deste Grêmio?" A resposta só teremos quando nos encontrarmos na
eternidade. Tomara que demore..
Alberto
contava as histórias deliciosas de suas viagens. Conheceu o Brasil, o
mundo, desvendou o passado, o presente e o futuro das pessoas
interessadas em astrologia. Até o meu mapa astral ele fez. Um quase
vidente que acertou muito. Há tempo não aparecia por aqui. Voltou para
Buenos Aires para cuidar da mãe (bela figura, meio felliniana) quase
centenária. Alberto partiu antes dela. Estranhos desígnios da vida.
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