"O futebol é muito complexo. Os que acham que sabem tudo, ou os que não sabem nada, são que tentam simpificá-lo."
O
genial Tostão sempre soube que o futebol, como a vida, é uma caixinha
de surpresa, o que o torna fascinante. Ninguém ganha antecipadamente.
Nem Messi e nem Guardiola.
Mauro Pandolfi
Fracassei
como vidente. Previ uma vitória confirmadora, retumbante e uma virada
histórica. Meus olhos com degeneração macular confundiram as imagens da
bola de cristal. Esperava um gol espetacular de Messi para escrever um
texto. Queria ver a genialidade de Pep Guardiola ao inventar uma vitória
impossível para exaltar a modernidade do futebol. Barcelona e
Manchester City era a final que desejava. O talento individual versus a
estrutura tática ousada. Meus ídolos deste tempo frente a frente. Mas, o
fracasso não é só para gente comum, como eu. Os mitos não estão livres
do erro, da derrota, do engano. Perdem o jogo, a glória e, às vezes, a
'cabeça'. Esta é a beleza da vida, do futebol. Nem a vitória é eterna. Nem a derrota
é permanente. 2019 é logo ali, depois da esquina. Há ainda 2020,
2021...
A
partida, nem sempre, começa quando o árbitro apita. Às vezes, a
tensão, o desejo, a pressão, inicia o jogo muito antes. Dias antes.
Outras, o tempo passa e só pelos trinta minutos percebe-se que a bola
rola. Assim foi Roma e Barcelona. Os italianos começaram o jogo após a
goleada da outra semana. Juntaram os cacos, baixaram a cabeça,
treinaram, buscaram um milagre. Ele começou logo aos três minutos com
Dzeko. A soberba, a fúria, a certeza do Barcelona foi afetada. Já perdia ao perceber que a partida já tinha começado. Não achou
o jogo. Messi foi pálido. Não lembrou o gênio. Inesta não apareceu. Sem
eles, não existe Suárez. A garra, a intensidade, a volúpia da Roma
engoliu o jogo bonito. Encaixotou, enrolou, encurralou e massacrou um
assustado Barcelona. Foi histórico, único, exuberante. Épico!
Acredito em milagres. Principalmente, quando o 'santo' é Pep Guardiola.
Tinha certeza que inventaria uma vitória emblemática, daquelas de
exaltar o talento de estrategista. Ao ver na tela, o 1 a 0 para o City,
disse para os meus botões: é só o começo. Tenho impressão de ter ouvido
um 'risinho' irônico de um deles. O tempo passava e o segundo gol não
era informado. O trabalho me chamou e larguei o futebol. Quando voltei,
estava na tela: 2 a 1 Liverpool. Jurgen Klopp não acredita na mística de
Guardiola. Todos recusam o ataque. Tem medo da posse de bola, dos
passes, da surpresa, da rapidez de seus times. Klopp armou o Liverpool ofensivo no
primeiro jogo. Atacou, atacou, marcou em cima, jogou no espaço, no
tempo, na precisão. Garantiu a vaga ali. Sabia que o genial Salah
desequilíbria o outro jogo. E foi isto. Salah matou o City. E, quem
diria, Roberto Firmino, aquele que alguns que são pagos para opinião
por aqui e muitos torcidores do Figueira, não queriam no
time, definiu a epopéia. Estavam certos. Firmino tem o tamanho do mundo. Hábil, rápido,
preciso é um goleador para a história, para um título europeu e um
mundial. Vi após o jogo, a imagem de Guardiola na
arquibancada. Descobri que foi expulso. Guardiola esbarrou no comum do
futebol. Perdido, perplexo, achou um 'culpado' pelo fracasso: a
arbitragem. Igual aos treinadores deste canto do mundo. Parecia sem
encanto, sem magia, derrotado.
Ninguém
perdoa os derrotados. 'Encurralado!' é a manchete do Daily Express.
Não.importa, profissional ou amador, craque ou bonde, precisa de 'um
pai', de um mestre, de um orientador. Os jornais ingleses reclamaram de Guardiola. O nervosismo, a perda da
'cabeça', a expulsão deixou fragilizado o City. 'A queda do império' foi
o enfoque da imprensa espanhola. Messi naufragou junto. Sem forças, sem
inspiração, abatido, nem parecia o melhor do mundo, título que
Cristiano Ronaldo deve ganhar mais uma vez. É a magia do futebol. É a
poesia circular da vida. Perder ou ganhar, sucesso ou fracasso, futebol
ou vida, tudo é uma caixinha de surpresa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário