quarta-feira, 11 de abril de 2018

Caixinha de surpresa



"O futebol é muito complexo. Os que acham que sabem tudo, ou os que não sabem nada, são que tentam simpificá-lo."
O genial Tostão sempre soube que o futebol, como a vida, é uma caixinha de surpresa, o que o torna fascinante. Ninguém ganha antecipadamente. Nem Messi e nem Guardiola.

Mauro Pandolfi

Fracassei como vidente. Previ uma vitória confirmadora, retumbante e uma virada histórica. Meus olhos com degeneração macular confundiram as imagens da bola de cristal. Esperava um gol espetacular de Messi para escrever um texto. Queria ver a genialidade de Pep Guardiola ao inventar uma vitória impossível para exaltar a modernidade do futebol.  Barcelona e Manchester City era a final que desejava. O talento individual  versus  a estrutura tática ousada. Meus ídolos deste tempo frente a frente. Mas, o fracasso não é só para gente comum, como eu. Os mitos não estão livres do erro, da derrota, do engano. Perdem o jogo, a glória e, às vezes, a 'cabeça'. Esta é a beleza da vida, do futebol. Nem a vitória é eterna. Nem a derrota é permanente. 2019 é logo ali, depois da esquina. Há ainda 2020, 2021...
A partida, nem sempre, começa quando o árbitro apita. Às vezes, a tensão, o desejo, a pressão, inicia o jogo muito antes. Dias antes. Outras, o tempo passa e só pelos trinta minutos percebe-se que a bola rola. Assim foi Roma e Barcelona. Os italianos começaram o jogo após a goleada da outra semana. Juntaram os cacos, baixaram a cabeça, treinaram, buscaram um milagre. Ele começou logo aos três minutos com Dzeko. A soberba, a fúria, a certeza do Barcelona foi afetada. Já perdia ao perceber que a partida já tinha começado. Não achou o jogo. Messi foi pálido. Não lembrou o gênio. Inesta não apareceu. Sem eles, não existe Suárez.  A garra, a intensidade, a volúpia da Roma engoliu o jogo bonito. Encaixotou, enrolou, encurralou e massacrou um assustado Barcelona. Foi  histórico, único, exuberante. Épico!
Acredito em milagres. Principalmente, quando o 'santo' é Pep Guardiola. Tinha certeza que inventaria uma vitória emblemática, daquelas de exaltar o talento de estrategista. Ao ver na tela, o 1 a 0 para o City, disse para os meus botões: é só o começo. Tenho impressão de ter ouvido um 'risinho' irônico de um deles. O tempo passava e o segundo gol não era informado. O trabalho me chamou e larguei o futebol. Quando voltei, estava na tela: 2 a 1 Liverpool. Jurgen Klopp não acredita na mística de Guardiola. Todos recusam o ataque. Tem medo da posse de bola, dos passes, da surpresa, da rapidez de seus times.  Klopp armou o Liverpool ofensivo no primeiro jogo. Atacou, atacou, marcou em cima, jogou no espaço, no tempo, na precisão. Garantiu a vaga ali. Sabia que o genial Salah desequilíbria o outro jogo.  E foi isto. Salah matou o City. E, quem diria, Roberto Firmino, aquele que alguns que são pagos para opinião por aqui  e muitos torcidores do Figueira, não queriam no time, definiu a epopéia. Estavam certos. Firmino tem o tamanho do mundo. Hábil, rápido, preciso é um goleador para a história, para um título europeu e um mundial. Vi após o jogo, a imagem de Guardiola na arquibancada. Descobri que foi expulso.  Guardiola esbarrou no comum do futebol. Perdido, perplexo, achou um 'culpado' pelo fracasso: a arbitragem. Igual aos treinadores deste canto do mundo. Parecia sem encanto, sem magia, derrotado.
Ninguém perdoa os derrotados. 'Encurralado!' é a manchete do Daily Express. Não.importa, profissional ou amador, craque ou bonde, precisa de 'um pai', de um mestre, de um orientador. Os jornais ingleses reclamaram de Guardiola. O nervosismo, a perda da 'cabeça', a expulsão deixou fragilizado o City. 'A queda do império' foi o enfoque da imprensa espanhola. Messi naufragou junto. Sem forças, sem inspiração, abatido, nem parecia o melhor do mundo, título que Cristiano Ronaldo deve ganhar mais uma vez. É a magia do futebol. É a poesia circular da vida. Perder ou ganhar, sucesso ou fracasso, futebol ou vida, tudo é uma caixinha de surpresa.

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