quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Matadores de velhinhas

 

"Nunca aprendi a jogar futebol. Perdi muito tempo fazendo gols!"
Dario Maravilha, o Peito de Aço que parava no ar, tinha a 'solucionática para toda problemática', é a melhor identificação de um centroavante que sobrevive apenas no imaginário. Se no campo, Dadá era 'rompedor tosco', falando é um poeta.

Mauro Pandolfi

O 'nove' e o 'dez' são os zumbis mais assustadores do futebol brasileiro. Perambulam  num imaginário que é só imaginário. São o passado eterno que sobrevive as todas as mudanças táticas da bola. Os que 'são pagos para dar opinião', na maioria das vezes, cultivam este pesadelo. Eles representam o atraso do futebol, tanto dentro quanto fora das 'quatro linhas'.  Os comentaristas da bola sustentam velhas teses, conceitos anacrônicos que são superados pela realidade. Dane-se a realidade! Viva a tese! Velhos torcedores são embalados por estas ideias obsoletas. Resmungam por imagens de um passado mais mítico do que verdadeiro. Berram por uma mitologia que envelheceu, ficou caduca e que apanhou de 7 a 1. Estas 'peladas' de fim de ano desenterram 'craques' e ameaçam ressurreições. A magia do futebol permite isto. Até o velho 'Imperador' está pensando em sair de exílio. Não duvide!
O ano passado foi o 'dez'. Os clubes procuraram desesperadamente o 'cabeça pensante'. Aquele que ordena o jogo. Vieram tantos. De medalhões consagrados, a sub-medalhões ou só 'velhos'. Conca, Montillo, Wagner, Éverton Ribeiro, Diego, Juan, Thiago Neves, Marco Antônio.Todos decadentes. Apenas, para comprovar a regra, Thiago Neves pensou o jogo. O resto, passeou, viu do banco, da arquibancada, do departamento médico, o fracasso de seus times. Estas contratações geram duas explosões de felicidades. No anúncio e na saída.
Este é o ano do 'nove'. Saudosos do grandalhão do gol de cabeça, do botinudo que maltrata a bola, do 'poste', do 'aipim', do 'texano', os clubes se desesperam e contratam o primeiro bonde disponível. Os mineiros, com sempre, saíram na frente. Fred e Ricardo Oliveira mudaram o jeito de jogar. Velhos, decadentes, sem forças, esperam uma bola sobrar na cara do gol. Santos procura Barcos, que naufragou no Grêmio, e o Corinthians sonha com Leandro Damião para substituir Jô, que aprendeu ser 'moderno'. Damião fará o mesmo?. Às vezes, centroavantes marcam seus gols, raramente em partida decisiva. Viram heróis! No entanto, tem números pífios na temporada. Nenhum centroavante que joga no Brasil marcou mais do 25 gols em 2017. Kane, do Tottenham. fez 57. Ele é de outra 'escola'.
Não há lugar para o centroavante no futebol de hoje? Há, claro que há! O 'mundo da bola' entendeu a mudança do 'nove'. São móveis, gostam do jogo, da bola, participam, criam, passam. Encantam pela habilidade numa tabela ou numa assistência. Não sobrevivem apenas pelos gols. Fazem parte de uma estrutura bem organizada, planejada, elaborada de jogo. O talento que vai de Lewandowski, passa por Kane, chega em Suarez. Mas, os goleadores deste tempo não fazem da área a sua morada. Frequentam apenas para estufar a rede. Cristiano Ronaldo e Messi são o futebol deste tempo. Não há nada maior do que eles.
Nunca vi jogar Coutinho e Pagão. Só li sobre Ademir de Menezes e Heleno de Freitas. Assisti jogos de inúmeros centroavantes. Trombadores, grandalhões, lentos, rápidos, artilheiros. Uma geração mudou a ação do centroavante. Começa em Reinaldo, passa por Careca, imortaliza Romário e tem o ápice em Ronaldo. Pena que terminou. Não houve a evolução natural. Assim como Rogério Ceni foi único como goleiro. Começa e termina. Gabriel Jesus e Roberto Firmino bebem desta fonte. Sorte do Brasil. Já os velhos centroavantes resistem neste tempo de retrancas. Ainda encontram espaços para a exercer a função de matador. Porém, parecem apenas, 'matadores de velhinhas' indefesas.

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