"A distinção entre o passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente."
Desconfio que Albert Einstein ao elaborar a sua Teoria da Relatividade leu os 'pensadores' da bola no Brasil.
Mauro Pandolfi
Não
há nada mais 'presente' no futebol brasileiro do que o passado. É
eterno! Imortal! Um zumbi que perambula pelos estádios de futebol.
Cultuado, incensado, falsificado por comentaristas esportivos,
historiadores da bola, sonhadores incautos, torcedores crentes de uma
'religião' sem nexo, ou, só ouvintes distraídos, que não conseguem
esquecer de uma certa juventude fixada na memória. Seus ídolos não
pararam. Desfilam a elegância nos 'flashes' das lembranças. Nos estádios
desesperam-se a procura deles. Não estão lá. Só nas 'peladas' de fim de
ano 'borboleteiam' por aí. Ressuscitados, reverenciados, ouvem pedidos
por uma volta ao futuro. Como poesia é um devaneio lúdico. Como
realidade, é só um engano. O culto ao passado detesta o futebol de
agora. 'Muito corrido, não tem o cabeça pensante, não há dribles, não
tem pontas, o volante não suja o calção, não tem o cabeceador, pensam
demais em táticas, muita posse de bola, muito tico-tico, falta raça,
ninguém lança em trinta metros..' Preste atenção! Ligue o rádio, assista
a tevê, leia nos jornais ou nos blogs, e estas expressões estarão lá.
Dogmas que repetidos tantas vezes podem parecer verdade, como o velho
chavão afirma. Mas, como já explicou aquele cientista alemão da língua
grande, 'não há nada absoluto no universo relativo'.
Quem
provocou este texto foi Ronaldo Fenômeno. Extraordinário atacante.
Imenso, gordo, 'uma baleia', jogou o que alguns pensam que Walter joga
quando está em forma. Disse que 'seria mais difícil Cristiano Ronaldo e
Messi ganharem a quantidade de Bolas de Ouro se jogassem no seu tempo'.
Mais um! Renato Portaluppi afirmou que jogou mais que CR 7. Estes dias
escutei alguém dizer, assisti tantos programas esportivos nas férias que
não lembrou quem foi, que Zico foi superior a Messi. De Pelé não se
pode citar. Não há ninguém de seu nível. Todos são inferiores. Provoca
uma avalanche apenas uma dúvida. Intocável, insuperável, primeiro e
único, Pelé é o ser supremo da bola. Já desisti de qualquer comparação!
Minha iconoclastia fica por aqui.
O
que Messi e Cristiano Ronaldo precisam fazer para serem reconhecidos
como os melhores? Talento? Nunca vi ninguém igual a eles. Idolatria? São
cantados em verso e prosa em todos os cantos do mundo. Todos os seus
jogos são transmitidos pela tevê. São craques 'vistos', não lidos ou
ouvidos. Títulos? Um montão! De campeonatos nacionais, copas locais,
ligas continentais, mundial de clubes. Ah, não tem uma Copa do Mundo!
Luisão, Grazziani, Materazzi, Lúcio, Paulo Sérgio, Baldochi, Luque tem!
Puskas, Cruyff, Kopa, Eusébio, Falcão, Zico não tem. Títulos não
significam qualidade. Às vezes, mistificam o comum; idealizam o ótimo. A
Seleção Brasileira de 70, o melhor time de todos os tempos, segundo os
historiadores, endeusou uma geração. Nenhum deles repetiu a performance
daquela copa em suas carreiras. Quem chegou mais perto foi Jairzinho na
Libertadores com o Cruzeiro em 1976. O Tri do México tornou Gérson
superior a Falcão, Carlos Alberto Torres melhor que Leandro; Rivelino
mais jogador que Ademir da Guia; e Paulo César Caju mais reverenciado
que Rivaldo. Discordo! São olhares da bola. Os meus olhares!
'Ah,
se fulano de tal jogasse hoje? O material esportivo é melhor, a bola é
mais leve, os gramados são tapetes...' O passado é sempre melhor. É
filtrado, purificado, ludibriado, adulterado. Temos mais saudades do que
não fomos, do que não fizemos, só sonhamos. O futebol é assim. Os
clubes vendem os seus garotos, suas 'joias' por uma fortuna. Ao invés de
se estruturarem com a grana, para gerar novos craques, investem em
medalhões decadentes. Os jovens de hoje, como Vínicius Júnior, Gabriel
Jesus, Philippe Coutinho, voltarão para a 'casa' depois dos trinta.
Antes brilharão no moderno e espetacular futebol dos grandes clubes
europeus. Afinal, no futebol brasileiro, o verbo 'jogar' conjuga-se no
futuro do pretérito.
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