Mauro Pandolfi
'Nós os amamos
Nós lamentamos por eles
Garotos infelizes do Vermelho
Eu gostaria de ter caído
Caído com eles'
Lembrei
da música 'Munich air disaster 1958', de Morissey, que canta a dor da
tragédia do Manchester United, a mesma dor da Chapecoense.
O
maior jogo da história ficou para história. Não pelos gols ou dribles.
Nem pelo vencedor. Nem pelo derrotado. Ficou pelo estádio lotado. Pelos
torcedores. Pelos cantos, pelas lágrimas, pelo amor. Um jogo que foi
jogado de uma maneira nunca vista. Estavam lá os jogadores da
Chapecoense e do Atlético Nacional. Os colombianos fisicamente. Os
brasileiros em espírito. Os balões brancos soltos a cada nome citado é
a mais emocionante alegoria que vi num teatro de grama e paixão. Como se
fossem almas subindo ao céu. O encontro com Deus. De arrepiar! Nunca
chorei tanto numa partida. Troquei de canal algumas vezes com medo de
ser traído pela emoção.
Medellin
tem o tamanho do mundo. Do mesmo tamanho do Atlético Nacional. Tem
solidariedade desejada pelo mundo, desejada pelos sonhadores. Todos os times, seus torcedores,
estavam presentes. Poucos no estádio. A maioria em casa chorando na
frente da tevê. A torcida do Atlético Nacional reinventou o significado
do futebol. Seus cantos não bradavam violência. Pediam paz. Não
falavam de rivalidade, nem de ódio. Queriam amor. Nestes tempos loucos,
furiosos de guerra e morte, a torcida redescobriu o humanismo. Poxa!
Deu até vontade de acreditar na humanidade.
Nunca
assisti uma transmissão tão eloquente, dramática, com a Fox Sports fez
na quarta-feira. A tela em preto. O placar e o tempo do jogo no alto.
Uma frase no meio. 90 minutos de silêncio. Uma homenagem aos seus
jornalistas, a todos jornalistas que morreram na tragédia. Fechei os
olhos, chorei mais um pouco, e imaginei a transmissão. Ouvir a voz marcante
de Deva Pascovicci, as reportagens precisas de Vitorino Chermont, reclamar da acidez de Mário Sérgio e o constante aprendizado
tático com Paulo Júlio Clemant. Torcer para na quinta, assistir no
Redação SportTv, a inspirada narração de Fernando Doesse gritando um gol da
Chapecoense e ler os belos textos de André Podiack no DC. Pensei
também nos outros jornalistas, nos dirigentes, na comissão técnica, nos
tripulantes.
Quanta dor, tristeza, causada por uma tragédia que aos
poucos vai se revelando que não foi acaso. E, sim provocada pela
ganância, estupidez, jeitinho. Lembrei dos 'bravos' deputados aprovando
uma 'lei pro
corrupção', aproveitando a comoção, a madrugada. Alguns passaram a vida
falando em ética, justiça, bradando contra os privilégios. Trocaram por
um 'salvamento' de suas peles, de seus gurus, dos coronéis que mandam
neste ajuntamento. Triste com a canalhice dos
cartolas do Internacional, dos seus jogadores, usando a tragédia para
escapar do
rebaixamento. Para cair, também é preciso ser grande. Uma grandeza que
Atlético Nacional ensinou ao desistir, entregar o título à Chapecoense.
Poxa! Eu quase
voltando a acreditar na humanidade.
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