Mauro Pandolfi
Sou
naturalmente melancólico. As tragédias me provocam, além da tristeza,
um dolorida reflexão sobre a vida. O que é a vida? Somos donos do
destino ou seguimos um roteiro já estabelecido? Há um Deus que nos
acolhe ou o usamos a imagem invisível para nos proteger do medo, do
perigo? Não sei se acredito em alguma coisa. Sou um cético que acha que
o impossível não existe. Mas, gosto da idéia de Deus, de reencontros,
de novas vidas que vão se repetindo eternamente. Me agrada a ideia de
rever meu pai, meus avós, tios, primos, amigos, irmãos e a filha que não
chegou a nascer. Insone, com o rádio no ouvido, escutei a notícia da
tragédia da Chapecoense. Não foi justo. Foi cruel demais. No auge, no
êxtase, o fim. A alegria de uma nação trocada pela dor. Triste. Muito
triste. Trágico. Não quero fazer a pergunta que abala a minha mente.
Prefiro rezar, me compadecer com as perdas, transmitir energias,
forças, serenidade, paz aos familiares. No entanto, a pergunta não me
abandona.
Não
há futebol. Não há jogo. O verde se tornou preto. A solidão da
arquibancada é a dor do torcedor na derrota da vida. O minuto de
silêncio tem a
duração da eternidade. A Chapecoense transcendeu o futebol, virou do
tamanho do mundo. A sua história será contada, recontada até o fim do
futebol. A
sua magia, seu jogo bonito, seus feitos, sua estruturação, seu modelo
gerá uma questão irrelevante, menor, sem nexo, neste momento: aonde
chegaria a
Chapecoense? Seria um Leicester? Ou só um fenômeno passageiro? Foi
encantadora, brilhante a sua trajetória. O que acontecerá? O fim ou
recomeçará e será maior depois da tragédia? O tempo, a disposição, a
superação da dor que irão dizer.
Deveria
ter um desígnio que impedisse a morte de jovens. Começavam a vida,
tinham sonhos, projetos e tudo terminou. Porquê? Alguns eram brilhantes,
promissores. Outros, bravos guerreiros. Caio Júnior se reconstruia. Uma
comissão técnica exemplar. Dirigentes que pareciam ser um
sopro de novidade. De velhos cartolas que não mereciam este fim.
Jornalistas que iniciavam as suas carreiras. Injusta morte para os
consagrados, para os mais velhos que acompanhavam a delegação. Injusta
com uma cidade, com um estado que tem poucas alegrias no esporte. Meu
abraço fraterno, carinhoso, solidário a todos os familiares, amigos e
fãs. Sentirei saudade do belo jogo, da entusiasmada narração de Fernando
Doesse, de Deva Pascovich, das reportagens do André Podiacki, de
Vitorino Chermont, dos comentários ácidos de Mário Sérgio, a apurada
análise técnica de Paulo Júlio Clemant e dos outros jornalistas que não
conheço.
Mas, lamento profundamente.
Gosto
da Chapecoense por causa de meu primo Beto e de seu filho Franscisco.
Dois amantes da bola. Lembro do entusiasmo do Beto com seu Verdão.
Trocou o amor do Grêmio pela Chapecoense. Além disso, é próxima dos meus
velhos times de infância. Chego a sonhar em ver o Ypiranga de Erechim e o
Inter de Lages se tornarem novas Chapecoense. Mas, tudo acabou. O
futebol perde o sentido. A alegria e a festa são substituídas pela dor,
tristeza e um desespero que abrange a alma e o coração. Vou ser piegas
na minha melancolia. Como está no blog Floripa mil graus,'a Chapecoense subiu, subiu, subiu e chegou ao céu'.
Vou olhar as estrelas está noite. Acho que vou ver uma estrela verde piscando
intensamente,
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