"Algumas quedas servem para que levantemos mais felizes."
Torço para que Neymar escute o conselho de William Shakespeare. Porém, ele vai preferir ouvir o pai e os parças. Lamento!
Mauro Pandolfi
Neymar
tinha asas na chuteira - bela expressão de Chiko Kuneski que uso no
sentido inverso ao dele. Voava livre, leve, solto como uma borboleta -
um vetusto e anacrônico treinador o chamou de filé. Ninguém vestiu tão
bem o sagrado 'dez' branco como ele. Um legítimo herdeiro da corte do
Rei Pelé. Neymar foi tão fantástico naquele Santos que transformou
jogadores comuns em craques. Alguns, até pareciam ter a sua genialidade.
Era só um engano. Eles desapareceram longe dele. Muitos não deixaram
vestígios. Neymar amadureceu, o jogo, ao lado de Messi no Barcelona. Não
era somente o driblador. Tinha uma análise precisa do jogo. Desvendava o
espaço e o tempo. Parecia que chegaria ao auge, ao lugar sonhado,
imaginado desde menino. Pensou ser capaz de inventar um novo Santos no
PSG. Fracassou. Esta escolha, o tempo, a vida, mudaram o seu destino.
Agora, Neymar, também, é só um vestígio daquele que brilhava com a dez
de Pelé. Que pena!
A Copa no Brasil, em 2014, era o
momento do talento desabrochar. De expor ao mundo a imensa
genialidade. De tirar todas as dúvidas. De se candidatar ao posto de
número um. Neymar foi mais uma esperança brasileira que se perdeu por
aí. A joelhada nas costas, uma entrada cruel de Zuniga, mudou a sua
história no futebol. Neymar escapou do 7 a 1, do fracasso, do vexame, da
zombaria. Tudo isto veio, em dobro, em 2018, na Rússia, com as quedas,
as faltas cavadas, as atuações comuns. Neymar não foi perdoado, Virou
chacota. Seu jogo diminuiu de tamanho. O corpo enfraqueceu, virou presa
fácil dos zagueiros violentos, lesões foram minando seu jogo, sua força,
sua criatividade. A imensa qualidade virou dúvida.
Nunca
me interessei pela vida privada de Neymar. Aliás, me incomodavam as
críticas sobre a ela. Pareciam mais inveja do que 'conselhos'. Nunca
cobrei amadurecimento ou mudanças nas atitudes. Estas cobranças faço aos
meu filhos. Apenas lamentava a sua ostentação milionária, a boçalidade,
a esperteza do pai vigarista, a falta de autonomia do filho. Ao
contrário do que dizem, Neymar cresceu! Tornou-se um membro da
machonaria em estado bruto. O que prefere andar em grupo, cercado de
parças, com quem divide as farras, os jogos, as bebedeiras, as zoeiras
ou apenas as conversas e as histórias. Com exceção de Bruna Marquezine,
as mulheres eram apenas para sexo. Isto é um passo para uma armadilha.
Os machões não gostam de mulheres. Um dia descobrirão que seriam mais
felizes se amassem uns aos outros.
O 'fla-flu' da vida
brasileira tem mais um jogo. Tudo é exarcebado na sociedade do espetáculo.
Tudo tem quer exposto, visto, dissecado. Neymar virou o alvo fácil para
o desabafo, a
frustração, a condenação. 'O 'garoto' negro não soube se comportar',
pensam muitos, sem verbalizar a frase. A mulher, que o
acusa de estupro, já foi condenada. A vítima, para a machonaria ou
conservadores de plantão, é sempre culpada. 'Ela viajou, encontrou ele.
Ela procurou, ela quis dar! Ponto final!', dizem os carolas de espírito.
O desejo dela por ele não o livra da acusação. Ela poderia estar sem
roupas, deitada, porém se disse 'não!', isto é estupro! Parece um jogo
de olhares, como quase
tudo na vida, de conceitos, de verdades ou de mentiras. O tempo, a
investigação, os depoimentos vão esclarecer o
caso. No entanto, velho de guerra, com uma vida bem curtida, desconfio
da
história do 'frágil garoto' seduzido por uma mulher voluptuosa que agora
maneja uma extorsão. Mas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário