quinta-feira, 6 de junho de 2019

Tropeço ou queda?



"Algumas quedas servem para que levantemos mais felizes."
Torço para que Neymar escute o conselho de William Shakespeare. Porém, ele vai preferir ouvir o pai e os parças. Lamento!

Mauro Pandolfi

Neymar tinha asas na chuteira - bela expressão de Chiko Kuneski que uso no sentido inverso ao dele. Voava livre, leve, solto como uma borboleta - um vetusto e anacrônico treinador o chamou de filé. Ninguém vestiu tão bem o sagrado 'dez' branco como ele. Um legítimo herdeiro da corte do Rei Pelé. Neymar foi tão fantástico naquele Santos que transformou jogadores comuns em craques. Alguns, até pareciam ter a sua genialidade. Era só um engano. Eles desapareceram longe dele. Muitos não deixaram vestígios. Neymar amadureceu, o jogo, ao lado de Messi no Barcelona. Não era somente o driblador. Tinha uma análise precisa do jogo. Desvendava o espaço e o tempo. Parecia que chegaria ao auge, ao lugar sonhado, imaginado desde menino. Pensou ser capaz de inventar um novo Santos no PSG. Fracassou. Esta escolha, o tempo, a vida, mudaram o seu destino. Agora, Neymar, também, é só um vestígio daquele que brilhava com a dez de Pelé. Que pena!
A Copa no Brasil, em 2014, era o momento do talento desabrochar. De expor ao mundo a imensa genialidade. De tirar todas as dúvidas. De se candidatar ao posto de número um. Neymar foi mais uma esperança brasileira que se perdeu por aí. A joelhada nas costas, uma entrada cruel de Zuniga, mudou a sua história no futebol. Neymar escapou do 7 a 1, do fracasso, do vexame, da zombaria. Tudo isto veio, em dobro, em 2018, na Rússia, com as quedas, as faltas cavadas, as atuações comuns. Neymar não foi perdoado, Virou chacota. Seu jogo diminuiu de tamanho. O corpo enfraqueceu, virou presa fácil dos zagueiros violentos, lesões foram minando seu jogo, sua força, sua criatividade. A imensa qualidade virou dúvida.
Nunca me interessei pela vida privada de Neymar. Aliás, me incomodavam as críticas sobre a ela. Pareciam mais inveja do que 'conselhos'. Nunca cobrei amadurecimento ou mudanças nas atitudes. Estas cobranças faço aos meu filhos. Apenas lamentava a sua ostentação milionária, a boçalidade, a esperteza do pai vigarista, a falta de autonomia do filho. Ao contrário do que dizem, Neymar cresceu! Tornou-se um membro da machonaria em estado bruto. O que prefere andar em grupo, cercado de parças, com quem divide as farras, os jogos, as bebedeiras, as zoeiras ou apenas as conversas e as histórias. Com exceção de Bruna Marquezine, as mulheres eram apenas para sexo. Isto é um passo para uma armadilha. Os machões não gostam de mulheres. Um dia descobrirão que seriam mais felizes se amassem uns aos outros.
O 'fla-flu' da vida brasileira tem mais um jogo. Tudo é exarcebado na sociedade do espetáculo. Tudo tem quer exposto, visto, dissecado.  Neymar virou o alvo fácil para o desabafo, a frustração, a condenação. 'O 'garoto' negro não soube se comportar', pensam muitos, sem verbalizar a frase. A mulher, que o acusa de estupro, já foi condenada. A vítima, para a machonaria ou conservadores de plantão, é sempre culpada. 'Ela viajou, encontrou ele. Ela procurou, ela quis dar! Ponto final!', dizem os carolas de espírito. O desejo dela por ele não o livra da acusação. Ela poderia estar sem roupas, deitada, porém se disse 'não!', isto é estupro! Parece um jogo de olhares, como quase tudo na vida, de conceitos, de verdades ou de mentiras. O tempo, a investigação, os depoimentos vão esclarecer o caso. No entanto, velho de guerra, com uma vida bem curtida, desconfio da história do 'frágil garoto' seduzido por uma mulher voluptuosa que agora maneja uma extorsão. Mas...

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