segunda-feira, 7 de maio de 2018

Os embalos de domingo à noite



"...Sinta a cidade agitando e todos dançando, E você está vivo, está vivo. Ah, ah, ah, estamos vivos, estamos vivos..."
Bee Gees, John Travolta embalaram os sábados da década de 70. Maicon, Arthur, Luan embalam as noites, os dias de futebol dos gremistas no século 21. 'Stayin' Alive....

Mauro Pandolfi

Lembrei de John Travolta neste anoitecer de domingo. De um baile que eu vi, curti, tentei ser igual, aos 17 anos. O bailado de Tony Manero que dominava a cena. Parecia sozinho naquela pista. Olhares eram todos para ele. Uma dança frenética, envolvente, sedutora. Fantástico balé de um filme cult, ruim, encantador. Maicon não tem o topete de Tony Maneiro. Tem a bossa. Tem o suinge. Tem a ginga.  Dominou o meio-campo, ditou o ritmo, regeu como um maestro a afinada orquestra de Renato Portaluppi. O dono do jogo. Um estilista, como os saudosistas do velho imaginário futebol brasileiro espalham em suas conversas de 'pescadores', um esteta. Maicon é o mais moderno meia destes lados da bola. Articula, arma, conclui, ocupa espaço, lidera. Completo, assim como Arthur, feito um Iniesta. Porém, num destes cochilos dos deuses da bola, assistirá a Copa em casa. Só o talento, nestes tempos, não basta. É preciso a 'grife' européia.
Até onde vai este Grêmio? A eternidade! Não ligo para os títulos que talvez conquiste. A minha alma está apaixonada pelo o futebol cintilante, ousado, poético, refinado, abusado deste time de Renato Portaluppi. Uma paixão que jamais terminará. Vou contar para os meus netos, bisnetos sobre este time. É o jogo que abandonou, rasgou, botou no lixo da história, um jeito de não jogar futebol, o que o Corneta do RW chama de 'futebol do Texas'. Não há o volante do calção sujo, o que sobrevive de porrada e carrinho, a bola alta, o balão, o cruzamento para o gol de cabeça do centroavante 'mandioca', o pontinho fora, o 'voltar vivo'. É um Grêmio que mais lembra um time de ponta europeu moderno, algo parecido com uma equipe de Pep Guardiola. O comentarista da rádio Globo, Francisco Aiello, disse no Redação Sportv, da semana passada, que "o Grêmio hoje joga no mesmo nível do Barcelona, Real Madrid e Bayern. Não é elenco, é o jogo de futebol, forma do time jogar". Exagero? O meu olhar pode ser. O de Aiello, não!
A Copa é logo ali. Não há lugar para todos os craques do Grêmio da seleção. Tite não tem esta ousadia. Mas, é injusto Maicon ver a Copa no sofá da sala. É o ritmista, o maestro, o solista de uma orquestra refinada. Tem o domínio do jogo, a inteligência de alternar o ritmo. Acelera e candencia. Faz o jogo fluir, inverte, subverte, cria uma dinâmica pouco vista por aqui. Maicon, aos 32 anos, atingiu o auge. Tem a maturidade, a experiência de 'um técnico' em campo. Arthur é o Iniesta jovem; Maicon é o Iniesta de hoje, de agora, ou da Copa de 2010, o cérebro que a seleção não tem. Nem vou falar de Luan (completo, articulado, driblador, poético, destruidor de linhas contrárias), de Ramiro (um dínamo), Geromel (o paredão), de Grohe (a muralha) e de Éverton (fantástico destruidor de defesas). Vou ficar por aqui. Acho que arrumo até lugar para o Léo Moura, Cortez, Kanemann (ainda dá tempo de narturalizá-lo?) e a maior das loucuras: Jael (o cruel). Este Grêmio é o meu show da vida. É fantástico!
Sei que os meus poucos leitores (os seis!) reclamarão de mais um texto sobre o Grêmio. Desculpem-me! É a paixão que aflora ao caminhar cantado os belos versos de Lupi, ao ver as três listras na camisa da moça que passa, no olhar de prazer de um gremista, na conversa que flui falando de amor. Este Grêmio de Renato Portaluppi é o meu livro de auto ajuda. Não há tristeza, desânimo, que não cure. Vou ficar mal acostumado. Um dia tudo será saudades. Mas, como dizia o velho poeta: 'Meninos, eu vi!'

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