"Ainda que o frio te queime, ainda que o medo te morda, ainda que o sol se ponha e se cale o vento..nâo te rendas".
Ando
seguindo o uruguaio Mário Benedetti em relação ao Grêmio. Nunca
imaginei que a paixão escaparia pelos dedos, fugiria das entranhas da
alma, se tornaria um sentimento banal. Só a vitória no Grenal deu
suspiro que tenta sobreviver ao desencanto.
Mauro Pandolfi
Ando
estranho com o futebol. Distante, arredio, ausente. Não há mais o
fascínio de outros tempos, nem a nostalgia dos velhos momentos. Até
escrever ficou pesado, difícil, como num pesadelo mal acordado. O medo
das derrotas, os fantasmas de um passado quase recente, pareciam ter
despertado a paixão gremista. Vi os jogos possíveis (sempre tentaram me
convencer que o monópolio é drástico, caro, ruim para a liberdade de
expressão e de escolha. Até o ano passado assinava o Premiere e vi todos
os jogos do Grêmio. Agora, para ver todas partidas preciso, por
enquanto, assinar dois canais. Sem grana, o rádio voltou a ser meu
parceiro), escutei outros e vibrei com a vitória no Grenal. Uma vibração
suave, sem gritos ou abraços, apenas alegria. Era só um engano a paixão
redescoberta. Sei que a vida passa, os amores, as paixões precisam dos
mesmos olhares, dos silêncios de sempre, das ausências que só reforçam,
dos encantamentos que fazem a alma balançar, o coração pulsar, o corpo
tremer. Não achei mais isto no futebol, nem no Grêmio. Nem escrever
sobre ele provoca o desejo que sempre acompanhou os dedos nas teclas do
computador. Não é uma desistência, não imagino um até logo. Quem sabe,
uma reclusão para procurar em cada reentrância da alma, a paixão que se
perdeu.
Não sei se foi o 'arrodião' (como os gaúchos
chamam o vareio, o baile, o chocolate) do Caxias. Ou, foi o pânico de
um passado sombrio após a derrota para o Sport, o empate contra o
Atlético Goianiense ou novo 'arrodião' da Universid Católica (temi por
'Bayern' chileno) que despertou um sentimento parecido com a paixão.Ou,
foi só medo? Desconfio do jogo espetacular desaparecido, sumido, não
deixou rastros que inibiu, assustou, escondeu, anulou o arrebatamento
amoroso com a bola. Não havia mais a 'arte' do drible, nem a 'poesia' do
jogo traçado, planejado, que me fazia suspirar e esperar ansioso a bola
correr. Somente após a sessão de cinema, em casa com a família,
assistimos 'O Poderoso Chefão', fui ver Atlético Mineiro e Grêmio. A
partida passou diante dos olhos, sem emoção, sem vibração, banal como um
jogo de um time qualquer. É o fim da paixão, vou recolhendo os
destroços ou é a vida sugerindo outros olhares que não tinha percebido
antes? O tempo dirá ou será uma nova vitória no Grenal?
Nas
minhas contradições, deixo o Grêmio de lado e vibro com o Leeds. Velho
encanto do menino de Lages que devorava o 'tabelão' do Placar apaixonado
pelo time de camisa branca. Também, nem tão jovem, se enamorou pelo
pensar de Marcelo Bielsa. O louco e doce treinador que nunca sacrifica o
jogo. Só a vitória. Por momentos pensei que Renato Portaluppi fosse um
Bielsa. Mas, não é! Ele sacrifica o jogo. Prefere só a vitória. "Sempre
cresciinos momentos de fracassos e piorei nos perídos de êxitos. O
sucesso é deformante, relaxa, engana, torna-nos piores, faz com que nos
enamoremos de nós mesmos". Está frase de Bielsa revela outra diferença
com Renato. Bielsa gosta da reclusão, da solidão como parceira da
reflexão, onde reinventa o seu pensar sobre a bola. Renato prefere a
festa, ser o centro da festa, não precisa saber mais sobre a bola. Sabe
tudo. Renato inventou o melhor Grêmio que vi. Bielsa ainda não criou o time dos meus sonhos.
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