Geometria
Mauro Pandolfi
A
bola rente a lateral. Coman está cercado. Sem espaço. Gira o corpo, o
pé raspa suave na bola. Ela rola macia. Escapa. Um drible de
playstation. Nada aconteceu. Só a beleza estéril do lance. Cena do
futebol atual. Iniesta recupera a bola em seu campo. Está no lado esquerdo do campo.
Cabeça erguida, flutua em toques. Para lá, para cá. Os passes trocados
são medidos. Tudo acaba no gol de Morata. Lance do futebol de hoje.
Nunca o futebol foi tão bem jogado como neste tempo. Todas as valências
em campo. Técnica, habilidade, organização tática, força física,
inteligência, poder mental. Jogos fantásticos, épicos, espetaculares.
Não é mais esporte. É entretenimento, um show de vida, fantástico. Nunca foi tão
arte como agora. A Eurocopa revela isto. Pena que futebol no Brasil
permanece preso ao passado que nunca passa.
A
geometria do jogo me encanta. As linhas dançando. Matemática e balé.
O espaço ocupado, reduzido, mínimo. Os triângulos são formados.
Escalenos ou isósceles. A bola flutua no campo, jogo tocado. Intenso em
velocidade. O passe é a inteligência do jogo. Tudo desenhado numa
prancheta. Ensaiado, treinado, repetido. O poder mental que acredita no
que foi planejado. O coletivo não anula a individualidade. Salienta. O
improviso, o drible, o chute reforçam o esquematizado ou anulam tudo.
Este jeito de jogar é de agora? Ou, o futebol sempre foi assim? Não
sei! Acredito, apenas, que o futebol é a melhor invenção da humanidade
Organização.
É o melhor signo do futebol moderno. Equipes bem estruturadas tornam o
futebol um jogo de inteligência. Ocupação de espaço, controle da bola,
eficiência defensiva e finalização eficaz. As linhas móveis,
recomposição, a rapidez das peças, a inversão do jogo. Mais pensado do
que instintivo. Às vezes, pensado demais. Calculado demais. A Eurocopa é
uma ótima visualização do moderno. Todas as seleções tem um padrão.
Seguem à risca. Vence quem possui as melhores individualidades. Um
Messi, um Pelé, um Garrincha, um Neymar, um menino que ama o futebol,
usa o instinto que vem da alma, e rasga a prancheta com dribles, gols,
passes. É a magia da bola.
Iniesta
e a bola. Um nômade em campo. Gosta do vazio. Sempre solto, longe dos
marcadores. Joga na frente. Joga atrás. É dono do meio-campo.
Essencialmente tático. Um toque é suficiente. Dois é o exagero que vira
genialidade. Descobridor de atalhos. Infiltra-se nas linhas adversárias
aos dribles ou com passes medidos. Iniesta é o retrato do moderno. A
bola e Iniesta. Um estilista. Cabeça erguida. Passos contidos. A
velocidade é uma extravagância. Quem corre, em demasia, é a bola.
Estabelece o ritmo. O maestro. Cadencia ou acelera. Iniesta é a cara
do antigo. Moderno ou antigo? Eterno!. Nunca foi, dificilmente será,
escolhido o melhor do mundo. Mas, Iniesta é o futebol.
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