"Tá
no filó!! Tem peixe na rede...!!! É, é, é, é...!!! Urra, urra, urra!!!
Queee lannncee!!! Bagunçou a roseira!!! Tá lá!!! Sacudindo, sacudindo...!!!
Balançou o véu da noiva!!! É fogo, é gol...!!!E que gooolll!!! Gol, gol,
gol, gol!!!"
O narrador é o poeta do futebol.
Frases, cantos, citações, fazem parte de minha memória, do menino ao
velho, ainda me encanto como o grito de gol.
Mauro Pandolfi
A
baliza do futebol mede de um poste até o outro 7,32 metros. A altura é
de 2,44 metros. A circunferência da bola tem entre 68 e 70 centímetros. O
peso (que não faz parte desta história) fica entre 410 e 450 gramas. Se
soubesse matemática, cálculo de área, saberia dizer quantas bolas cabem
no quadrado mágico. As meninas do Flamengo, no campeonato carioca,
tripudiaram do pobre Greminho - olha!, os deuses do futebol, olha!... - e colocaram 56 bolas no barbante. Será que
56 bolas, lado a lado, uma em cima da outra, cabem na baliza? Como não
sei fazer o cálculo, às vezes, fico encantado com uma só bola balançado o
'véu da noiva'. Nada supera o gol. Nem drible, muito menos a linha de
passe. Quem sabe, a defesa do goleiro. Aquela impossível, que fica
permanente na memória do futebol. O gol é a poesia, o momento idílico do
artilheiro e do narrador. É a voz que torna eterno o gol. E, o que é o
gol?
O gol é
um latifúndio. Tem a imensidão da desgraça e a fúria da esperança. É o
ponto de encontro do riso e da dor. Vitória e derrota são o mesmo lado
da moeda, gêmeos no desespero. É o lugar onde a humanidade tropeça. O
herói é desconstruído. O comum é tornado deus. O erro e o acerto andam
de mãos dadas feito namorados. No erro, o ídolo é imolado, decapitado,
consumido em partes, devagar. O perna de pau é devorado por inteiro, num
ódio bíblico. Mitificam-se no acerto. O gol é a tragédia do futebol.
Maldito.
Perambula pelo espaço exíguo como se tivesse perdido no infinito. Vive
intensamente a emoção da glória e do fracasso. O goleiro não é um
jogador de futebol. Nem detalhe tático, nem profissão. É um angustiado
personagem de um teatro de grama e paixão. Solitário ator que tenta
impedir o desejo do jogo. A alegria do gol é o riso da morte de um
goleiro.
Alguns dos gols mais bonitos são os que não
foram gols. Os que são quase. O gol que Pelé não fez lá do meio -campo é
mais bonito, emblemático, do que todos que foram feitos lá do
meio-campo. Cada torcedor, cada amante, cada poeta, tem o seu quase gol.
Aquele que mudaria tudo, que seria uma outra história. É só memorável
por não ter sido gol. Por tornar-se lenda, onde o impossível é sempre
possível. Bastava ter acontecido.
O mais triste, e o mais psicólogico, gol do futebol é do pênalti. Onde o
medo reforça o drama.. Estáticos. Olhares trincados. Músculos
retesados. Tensão. Há algo cínico no pênalti. Onze passos de uma
execução. Pelotão de fuzilamento. A rede não é de proteção. Ele corre.
Ele curva-se. Ele bate. Ele voa. A bola, traiçoeira, escapa, tocando nos
dedos e aninha-se na rede. Ele pula, soca o ar! Ele estatelado, soca o
chão. O gritos se confundem! De alegria e fúria. A cena pode ser
outra. Mas, só é encantada quando o goleiro é do nosso time.
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