sábado, 24 de agosto de 2019

O início, o fim e o meio

 

"A Lei do forte. Essa é a nossa lei. E a alegria do mundo.
Viva! Viva! Viva A Sociedade Alternativa. (Viva! Viva! Viva!)..."
Eu que sonhava com a sociedade alternativa, igual ao Raul Seixas, estou perplexo com a sociedade paralela, distópica, de uma bolha, em que enfiaram o Brasil. E, não sei como escapar dela.

Mauro Pandolfi

Agosto já é uma saudade e não escrevi nenhum texto para este blog. Não foi a ausência do tempo. Muito menos a falta de assunto. Nem preguiça. Quem sabe, um conformismo que me incomodou, esta normalização de tudo. Aceitamos tudo, desde a escatologia presidencial até a destruição física do país. Não reagimos. Ou, vou para de falar no plural, vou no singular: não reajo. Não é medo. Resta-me pouco para ter cagaço nesta altura da vida. Talvez, a melancolia, o desencanto, uma tristeza que me acompanha nestes tempos bollssonarianos. Quem sabe é descrença num sonho, numa esperança ou numa utopia. E, nem o futebol, o meu 'culto', a paixão, a auto-ajuda, despertou o tesão, esta falta de libido, que sempre me leva a escrever. Não vi mais a poesia em um drible, ou num passe, que desapareceu nestes jogos, onde ganhar é o que importa. Brincar, ficar com a bola, despertar encantamento é só uma bobagem de quem está perdido no tempo.'Tudo isto é inevitável', diria Thanos para mim. E, por dias, vários dias, pensei em desistir deste espaço. O que seria uma alegria para os poucos que perdem o seu tempo lendo-me. Mas, resisti! Vamos lá...
Felipão nunca entendeu o 7 a 1. Acha que foi um acidente, um desvio da curva, um apagão. Nunca a derrota, o desastre de um jeito de jogar. Ele é o mesmo desde os anos 90. Fechado, quebrador de jogo, retrancado, um chute à esmo, um gol encontrado por acaso, num chutão de longe, num erro do adversário. Felipão é incapaz de formular, prestem atenção em suas entrevistas, uma frase completa, límpida, clara, objetiva. Vai sempre aos pedaços, desconexos, feito o seu jogo. 'O futebol sovina', como diz o Mário. Tem jogadores acima da média, hábeis, criativos, inteligentes e o futebol é pouco mais que medíocre. O comentarista Carlos Eduardo Lino foi preciso e perfeito na análise do Palmeiras: 'tem uma orquestra e toca um pagodinho'. O jeito Felipão ainda funciona por aqui. Afinal, o futebol resgatou Luxemburgo, e por incrível que pareça, Osvaldo de Oliveira. O Fluminense trocou a 'poesia' de Fernando Diniz, que tinha um belo jogo sem resultado, pela expectativa de resultado sem jogo. Como dizem: cada um faz as suas escolhas.
Liguei o rádio, na CBN, escutei Raul Seixas. Era o dia de 30 anos de sua morte. Raul cantava Gita, a mais bela e inspirada de suas canções. Entre uma xícara de café e um sanduíche, a música levou-me ao Grêmio, o que sobrou do melhor Grêmio que vi na vida. Aquele que amava o jogo como os meninos amam a bola. De lá para cá, feito um bolero perfeito para dançar com a namorada. Estamos no fim. Resta muito pouco daquele jogo. Renato, feito um alquimista, tenta, inventa, procura soluções. Ainda não se convenceu que a saída são os jovens. Foi com eles, o início. Arthur, Luan, Pedro Rocha, Evérton foi o meio encontrado para as conquistas, os títulos, a poesia que embalava o meu sonho. Quem sabe, o fim seja próximo do início e do meio. Afinal, o Grêmio é, para mim a luz das estrelas, a cor do luar, as coisas da vida e a alegria de amar.
É preciso falar da bravura dos jogadores do Figueirense. Alguém que saiu da bolha do medo, de que aceita tudo e se conforma com a normalidade desonesta das coisas, do país, do poder. Enfrentaram a estrutura reacionário do futebol, o conservadorismo da imprensa esportiva, os jornalistas que alugam bocas e penas, a desconfiança e a incompreensão dos torcedores e partiram para o confronto. Já são vitoriosos mesmo que não consigam alguma coisa. A reação será a de sempre, desde a greve de 1917, jogadores serão demitidos, afastados, 'queimados'. Mas, venceram a batalha. Às vezes é preciso ficar na beira do abismo e buscar o tudo ou ficar com nada. Eles mostraram que é preferível ter 'os olhos dos cegos do que a cegueira da visão'.


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