"O craque não tem explicação. Ele é!"
O
genial Tostão falando de uma 'entidade' tão fantasiosa como a mula sem
cabeça. Mas, pensando bem, basta olhar as redes sociais para notar que
mulas sem cabeças existem aos montes. Já os 'craques' continuam uma
fantasia.
Mauro Pandolfi
Quase...
O
Brasil é o país do quase. Sempre faltou pouco, muito pouco, quase nada
para chegar onde sonhou. Quase foi o país
do futuro. Da liberdade alegre, charmosa, que despertou o interesse do
mundo pela sua diversidade ambiental, comportamental, lírica. Porém,
tropeçou num passado que quase nunca passa.Que insiste em se
eternizar na sua espiral histórica. Os seus 'ridículos tiranos',
fardados ou não, de tempos em tempos, ameaçam a democracia, que nunca se
completa, com seus arroubos fascistas, grotescos, primitivos. A
democracia ficou no quase...pois a desigualdade social, econômica e
política continua intensa, imensa e vergonhosa. Como este é um blog que
fala de futebol, mudamos de saco, ou seja, de assunto. O Brasil é quase
uma potência do futebol atual, da imaginação, da beleza, da
criatividade, . Olha, já foi! Contam que era um tempo de craques em cada esquina, em cada
time. Não
sei se ausência de craques faz parte da espiral histórica ou a
'abundância' de craques foi somente uma história imaginada, por uma
geração de narradores, comentaristas, jornalistas com um olhares
poéticos, gentis, generosos, e vamos lá, mentirosos?
Num
domingo sem Grêmio, dividi o dia e a noite em séries e programas
esportivos. As séries são quase melhores que cinema atual. Tem uma
temática menos juveniilista, mais adulta, menos heróica. Já os programas
esportivos são idênticos aos da minha infância e juventude. Muita conversa, pouca
reflexão, quase nenuma análise tática ou técnica e muita reclamação
sobre a seleção brasileira. "Falta craque!' Quase todos os participantes
concordam. 'O único que temos é Neymar. Mas, ele é bem inferior a Messi
e Cristiano Ronaldo', argumenta um. 'Será que a comparação com eles é
que injusta? Estão há dez anos no topo e não são ameaçados por ninguém?
Por que? São os outros são muito inferiores? Eles ficam no quase!', suspeita outro. 'São
todos comuns. Alguns mais, outros menos. Mas, comuns. Não são capazes de
modificar o jogo, feito um craque verdadeiro', replica um terceiro. E,
nomes são citados aos borbotões.
Buscam Pelé, Garrincha,
Rivelino, Didi, Tostão passam por Zico, Sócrates, Falcão, chegam em
Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e outros tantos. Os de hoje, entram na
categoria de 'bons jogadores'. Será que existe esta imensa diferença ou é
a falta de resultado que gera todo este debate? Nem Messi escapa.
Alguém sempre lembra que ele não tem nenhum título com a Argentina. Tem
sete finais e nenhuma vitória. Ficou no quase! Como ficaram no quase
Platini, Zico, Cruyff, Boniek, Puskas, Junior, Leandro, Ramon Diaz,
Valderrama, Eusébio, Gento, Van Basten...poxa! uma legião de craques sem
títulos, com muita história, poesia e uma paixão despertada em amantes
da bola. Eu, sou um deles! Fodam-se os títulos!
Não gosto do
conceito craque. Ele é muito elástico, flexível, adaptável em qualquer
circunstância. Mas, o que é o craque? O diferencial em um jogo, o que
altera o ritmo, o que entende o espaço e o tempo, o maestro, o definidor
por excelência. Pode aparecer num jogo ou numa temporada. Craque é um
conceito amplo, geral e irrestrito. A história do futebol brasileiro é
contada por nomes e não por um sistema de jogo. O pensar coletivo é uma
ficção. Arma-se um time pelas individualidades, pela combinação de
fatores, em último caso, pela química. É o craque que decide, que ganha.
Nunca é o coletivo. Foi Pelé, Garrincha, Tostão, Romário, Ronaldo que
venceram as copas. Não foi a equipe, não foi a idéia, nem a
esquematização. Foi a ação individual. Nunca antes na história do
futebol, o jogo foi tão solidário, tão estratégico, pensado nos ínfimos
detalhes, estudados, dissecados, analisados os movimentos, a postura e a
possibilidade tática do adversário. Ficou menos imprevisível, mais
pragmática, menos poético, mais racional. A chance de alguém desmontar
tudo isto ficou remota. Não impossível. O jornalista brasileiro, o
torcedor, o amante da bola, suspira por uma individualidade - será que
algum treinador permite esta individualidade ou todos estão presos na
sistemática? -, por um drible. Aí, entram Messi, Cristiano Ronaldo,
Neymar, Éverton. Seria o Éverton 'Cebolinha' um Garrincha ou um Renato
Portaluppi?
Pelo que joga no Grêmio e mostrou na seleção, ele é um
'quase'...
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