"Eu não tenho ídolos. Tenho admiração por trabalho, dedicação e competência".
Agora, o Grêmio começa como todos os times de futebol. No gol, um
goleiro. Não há mais a referência, o símbolo, a certeza, os 'milagres'. A
frase de Aírton Senna é perfeita para Marcelo Grohe. Ele superou
desconfianças, medalhões, torcedores e tornou-se um ídolo. Meu ídolo!
Mauro Pandolfi
'Marcelo
Grohe!' A minha resposta surpreendeu o André e o Luca num sábado à
tarde. Na Espn Brasil escolhiam o 'melhor Grêmio de todos os tempos'.
Eurico Lara, Mazaropi, Danrlei, Leão, Vitor e Marcelo Grohe eram as
opções para gol. "Achei que tu ia falar Danrlei, pai!'. Encarei os dois,
ri, surpreso pela afirmação do André e expliquei. "Danrlei foi imenso.
Quanto mais difícil o jogo, mais defendia. Era um torcedor em campo.
Lara está no hino. Vitor, Leão, Mazaropi são bons goleiros. Marcelo
Grohe é estupendo. Mais técnico que Danrlei, tão torcedor e tem uma
trajetória que o torna um símbolo deste Grêmio de Renato, de Roger, que é
o melhor que vi jogar. Grohe é a história em movimento. Espero que
fique no Grêmio até o dia de dizer adeus à bola". Duas semanas depois,
Marcelo Grohe virou saudades. Deixou o Grêmio e foi para o Al-Ittihad,
da Arábia Saudita. Uma megasena, paga em três anos de contrato, é uma
boa justificativa para dizer adeus antes do 'combinado'. Ficou um vazio
na alma.
Marcelo
Grohe viu a Batalha dos Aflitos do banco. Era só um menino de 19 anos.
Conheceu o Grêmio num momento triste, de fracassos, de uma segunda
divisão que parecia ser longa. Gallato ficou pouco tempo como titular.
Era a hora de Marcelo. Porém, ele foi 'vítima' de um clichê, de um
dogma, de uma bobagem, do futebol. O gol é para velhos. E, vieram
tantos. Do argentino Saja, passando por Vítor e chegando, que pena!, no
decadente Dida. Nas 'brechas' deixadas pelos medalhões, Grohe mostrava a
superioridade técnica. Colocação, calma, precisão, arrojo. Mas,
imprensa e torcida preferiam os medalhões.
Marcelo
Grohe é uma bela autoajuda. Resiliente, perseverante, tenaz, corajoso. A
sua história de ídolo - pensei em usar 'mito'. Esta virou uma palavra
desgastada, mal usada, pernóstica, sem nexo - foi uma construção
fantástica. A precisão nos pênaltis contra o Atlético Paranaense pela
Copa do Brasil em 2016. Ali começou a fama do 'Milagrohe'. Goleiro
mágico contra o Barcelona do Equador. O braço no ar, o voo certeiro, a
defesa impossível, a da década, do século. Um Banks com a tricolor mais
bonita do mundo. Foram tantas defesas, muitas vitórias, títulos que tem a
marca de seus dedos ágeis e uma ausência injusta na Copa do Mundo de
2018. Agora, tudo é memória, saudade, história. Inesquecível!
Marcelo
Grohe era a minha certeza. O gol não me preocupava. Confiava nele.
Gostava da sua elegância, no seu jeito de amar o Grêmio. Vou sentir a
sua ausência. Bem mais do que a saída de Arthur e Pedro Rocha. Preferia
que Éverton e Luan deixassem o Grêmio. Nunca Marcelo Grohe. A escalação
do Grêmio começava diferente. Grohe nunca foi um goleiro. Era um anjo,
um santo, um semideus, o que me deixava tranquilo e sereno. Exagero?
Certamente! Mas, como explicar para um torcedor o fascíno que me
despertava? Nas conversas de futebol, de Grêmio, de chegadas e de
saídas, raramente falava seu nome. Era Luan, Everton, Arthur, Geromel,
tantos. Não precisava citá-lo. Parecia eterno. A vida tem os seus
caminhos, escolhas, opções, Grohe pensou nos seus, na garantia
financeira, no futuro. Vai se esconder na Árabia Saudita. Não na minha
memória. Só pararei de sentir saudades quando surgir um outro que faça
esquecer Grohe, assim como ele fez ao escolhê-lo ao invés de Danrlei
para 'o melhor Grêmio de todos os tempos'..
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