"Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma".
Não
sei se Luka Modric jogou na rua ou na praia. Conheci num estádio. Mas,
pelo verso de Carlos Drumond de Andrade, sei que ele joga com a alma,
como todos os meninos que jogam na rua e na praia.
Mauro Pandolfi
A
escolha de Luka Modric como o melhor do mundo é um pedido de desculpas
para Andrés Iniesta. O reconhecimento de grande erro, de um equívoco.
Nunca o escolheram. Iniesta estava no mesmo degrau de Cristiano Ronaldo e
Lionel Messi. Nunca abaixo deles. Sempre foi ignorado, tratado como um
mero coadjuvante. Era um gigante. Assim como Iniesta, Modric é um mago.
Um fabricante de lances, de passes, de olhares oblíquos, de arte. É
também a vitória da prosa sobre a poesia, sobre a matemática. Modric e Iniesta transformam
em poesia a prosa. Não estão restrito aos dribles e aos gols. Não são
estatísticos. Não se medem por gols ou títulos. São o prazer do jogo. Do
lance pensado, imaginado, executado, que se torna uma maravilha,
esculpido feito um Michelangelo, tal a precisão e requinte. O gol é que
resume o jogo. O drible é o encontro com o menino. O passe é a
maturidade. O jogo deixa de ser intuitivo e torna-se cerebral. Ninguém
jogou mais que Luka Modrik esta temporada. Entre as mulheres deu Pelé.
Ops! Marta! O que é a mesma coisa!
O
futebol é a melhor auto ajuda que conheço. Deprimido, procuro um jogo
ou uma história para melhorar o astral, para descobrir uma saída ou só
para me alegrar. Há inúmeras. De superação, de resiliência, de virtudes.
Luka Modric é um sobrevivente. O menino que viu a morte do avô, saiu de
Zagreb, passou por Londres e declama o seu magnífico jogo em Madri.
Modric é a essência do futebol moderno. É exato. Não há excesso em jogo.
Cadencia e acelera. Flutua em todo campo. Descobre espaços, inventa
movimentos, não perde tempo. Não espera a bola feito um 10 antigo. Ele a
encontra em qualquer canto. Observa os companheiros, arma o lance,
finaliza. Um maestro! O craque da Copa é o craque da temporada. Justo.
Muito justo. Justíssimo prêmio. A FIFA, finalmente, reconheceu que o
pensador também merece ser feliz.
Sofri
com Luka Modric. Foi na final do Mundial de Clubes do ano passado. O
Grêmio sem Arthur e Maicon não resistiu aos movimentos, a lucidez e a
inspiração de Modric. O gol foi obra da genialidade Cristiano Ronaldo.
Mas, o que me chamou a atenção na terceira ou quarta vez que vi
o jogo foi a postura de Modric. Solto, leve, soberano. O jogo foi
controlado por ele. Porém, um dos equívocos do futebol moderno, o melhor
foi escolhido por estatística. Modric pensa, cria, executa. Não é um
engenheiro. Ia dizer que é um poeta. Também, não! É um cronista, feito
Rubem Braga, que faz as palavras brilharem.
Pouco
espaço, pouco tempo para falar de Marta. A mais perfeita tradução de
Pelé vive exilada. Não há lugar para ela no futebol brasileiro. O
futebol feminino, neste país, é um esporte clandestino. Quem joga? Onde
jogam? Qual o canal que transmite? O extraordinário futebol de Marta
aparece feito um cometa. Só nos Mundiais ou nas Olimpíadas. Nem a cbf sabe o número gols pela Seleção Brasileira. Talvez, isto
a torne maior, exatamente como Pelé. Pouco vista, muito comentada,
mitológica, eterna, incomparável. Como o Rei.
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