"Não temos nenhuma obrigação de atacar. Somos apenas o Juventus, o pequeno time da Mooca, então para que se preocupar?".
Era
com esta maneira singela, simples, que Milton Buzetto explicava a sua
ideía de futebol. Naqueles anos 70 era chamado de retranqueiro. Hoje,
seria um treinador moderno no atual futebol brasileiro que adora atacar
com covardia.
Mauro Pandolfi
O
futebol é mais que a minha auto ajuda. É a minha válvula de escape. O
lugar onde recupero a sanidade quase perdida nestes tempos que flerta
com obscurantismo. Mas, ando negligenciando com futebol. Deixei meio de
lado neste setembro chuvoso. Tenho visto apenas os jogos do Grêmio.
Quando penso que o belo futebol do Grêmio já é passado, Renato
Portaluppi reinventa o jogo. Ele é um mago. Mas, o assunto não é a minha
paixão. É a tristeza com a notícia da morte de Milton Buzzeto. O
treinador que faz parte de minha infância, dos torneios de jogos de
botões, da revista Placar, dos jogos ouvidos no rádio da sala. 'Parece o
Juventus do Buzzeto. Sai da retranca!', era que se ouvia nos jogos do
Vermelhão, nos botões, nas peladas de rua. Milton Buzzeto era sinônimo
de futebol feio, mal jogado, de chutões, de vitórias impossíveis. Milton
Buzzeto era o 'Senhor Retranca!'. Hoje, no futebol jogado no Brasil,
seria um treinador moderno.
Duas
linhas de quatro. Campo reduzido. Marcação individual que se tornava de
zona. Rapidez nos contra- ataques. Bola aérea. Correria entendida como
velocidade. Descrição de um time de hoje. Bem parecido com o Inter de
Odair Hellman ou o Cruzeiro de Mano Menezes. Era assim que jogava o
Juventus da Mooca. 'Amigo, meu time não joga na retranca, Apenas sei o
que posso exigir de cada jogador', explicação que encontrei numa velha
revista Placar, número 177 de agosto de 1973, uma bela matería de
Michel Laurence. Há grandes achados na reportagem, como a explicação que
irritava os craques da época. "Você viu, não tem mistério. O segredo é
só marcar o homem e não a bola. Ali, antes de adversário receber, a
gente mata a jogada. Isso irrita, não é?" Bem moderno, não acham?
Gosto
do texto da revista. Michel Laurence é preciso na apresentação. "Com
seu jeito de bandido de filme italiano, puxado para o mafioso; as calças
sempre caídas na frente; um cigarro ou cigarrilha entre os dedos; olhos
de um verde claro, que inspiram sinceridade,ninguém pode adivinhar que
esse hoemem seja o responsável por tamanha revolução no futebol
paulista". Fracassou no desesperado Corinthians na tentativa de ganhar
um título. Virou 'cigano' da bola. Treinou em vários estados. Nunca mais
se destacou. Deve ter descoberto que a retranca é só um engano. Ah, teve uma passagem meteórica
no Marcílio Dias.
O
tempo passou, o futebol mudou, Milton Buzzeto sumiu, desapareceu, nem
lembrança virou. O redescobri com a sua morte, aos 80 anos, na segunda
feira. Fiquei triste. Lembrei dos meus tempos de menino, dos jogos de
botão, da Placar, de ouvir Mauro Pinheiro reclamando da retranca ('o
anti futebol', dizia ele). E, num 'exercício' de imaginação, perguntei
aos meus botões: quem seria Milton Buzzeto, hoje? Um respondeu. Mano
Menezes. Outro, Odair Hellman. Um terceiro disse que não podemos
esquecer Celso Roth. Mas, Celso Roth já não é um Milton Buzzeto? Está
sumido, desaparecido, ausente...
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