sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

O mais odiado



"Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta".
Quem sabe o olhar, ainda lúcido de Michel Foucault, explique bem a nossa obsessão com o outro, a intolerância contra o diferente, a negação ao desejo criativo que foge das normas ditas 'civilizatórias'..

Mauro Pandolfi

Neymar é o grande nome do futebol atual. O mais impactante. Não é o melhor. Está alguns degraus abaixo de Cristiano Ronaldo e Messi. Um dia, quem sabe, será. É o mais vigiado, seguido, destratado. Tantos olhares. Muitos puritanos. Alguns, politicamente corretos. Poucos preocupados. Tem, também, os exigentes. Olhares que pregam a excelência em todos os jogos, em todos os lances, nos chutes, no comportamento em campo, no caráter, na ética do jogo. Uma exigência que nem Pelé cumpriu. Aliás, o Rei foi execrado após a Copa de 66. Duvidaram do talento, disseram que estava acabado e até de cego foi chamado. Em 70, recuperou o trono. O futebol é assim. Gênio num dia. Farsante no outro. A bola tem esta magia. Isto torna o futebol uma paixão. Louca, doida, insana, maravilhosa paixão,
Neymar é um jovem que deseja viver a vida como um jovem. Festas, namoradas - a mais frequente é a linda Bruna Marquezine -, farras, gols, muitos gols. O que todos, que um dia fomos jovens, sonhamos ou vivemos, em menor escala. Mas, Neymar é vigiado. Não há nada mais secreto por aqui. Sempre tem uma câmera para nos mostrar a vida. A nossa e a dos outros. Ele é o melhor personagem deste tempo. Programas de fofocas, esportivos - que ultimamente, dá no mesmo! -, e até nas partidas de futebol há uma câmera que o segue o tempo todo. Não foi genial contra o Real Madrid. Ficou longe da 'mediocridade' declarada pelos seus críticos. Os melhores lances de ataque do PSG foram de Neymar. No futebol de hoje é proibido, ou em alguns casos, vergonhoso, perder. O mundo caiu nas suas costas milionárias. Teve alguém que já avisou que o Brasil não ganha a Copa com Neymar. Ei, Tite, já sabe, sem Neymar para o Mundial? Leve o Brocador, o Ceifador ou o Damião em seu lugar!
Conheço vários críticos de Neymar. Alguns reclamam do comportamento dentro de campo. Do 'senhor do jogo', do individualista, do abusado e até do caráter em relação aos outros. Gente que gosta de futebol, que aprecia uma boa partida, venera craques, mitos e brincam de poesia com os dribles. Críticos são fundamentais. Desde que não se tornem fundamentalistas. Muitos pela conduta da vida privada. São a  'revitalização' das velhas senhoras que seguiam a vida alheia pela janela. Um sábio amigo de  Lages sempre dizia para uma delas: 'vai carpir um lote!' Acho que ainda é uma boa resposta.
Walter Casagrande Jr foi meu ídolo de pós adolescência. Por instantes, fui corinthiano. Tempos da Democracia. Sonhava com um país livre e aquele movimento simbolizava isto. Jogava de tênis branco, com a palavra Casão escrito nele. Roqueiro, centroavante, rebelde. Discuti, defendi muito ele. Escutei bastante. Era fantástico este Casagrande. Armaram flagrante, vilipendiado, xingado, partiu para o 'exílio' na Itália. O tempo passou. Ficamos velhos, todos nós que sonhamos com um Brasil livre, democrático, justo. Ao ouvir a declaração de Casagrande, no Redação Sportv, fiquei perplexo. "Estamos criando um monstro", disse. Não liguei quando Renê Simões acusou Neymar desta forma. Simões é só um picareta do futebol, um espertalhão de frases pomposas e vazias, iguais aos pilantras que tentam convencer que o 'Rei' não está nu, que é inocente, vítima e todo o blábláblá neurótico. Mas, Casagrande, não! Foi um símbolo de um tempo. Alguém que desafinava o coro dos contentes. Pior que um reacionário eterno, só um rebelde que envelheceu. E, ainda sem memória.
O futebol é um jogo de resultados. Unai Emery esteve próximo da genialidade. Ao trocar o inoperante Cavani pelo lateral Meunier mudou o jogo. Encaixotou o Real. Daniel Alves, Mbappé e Neymar enlouqueciam a defesa. O gol seria um questão de tempo. Encurralado, Zidane ousou. Tirou Casemiro e Benzema. As entradas de Bale e Asensio forçaram um novo ritmo. Falhou a marcação e o goleiro largou a bola no joelho de Cristiano Ronaldo. Perplexo, sem entender o que aconteceu, o PSG logo em seguida levou o terceiro. Emery saiu com a pecha de 'professor Pardal', de burro. Zidane de estrategista. Mas, se o PSG ganha a partida? Será que Zidane não seria culpado por tirar um volante? E Emery seria genial pela troca? Este é o futebol! A diferença entre a 'besta' e o 'bestial' é um só pequeno detalhe do que supõe a vã filosofia de botequim.

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