"Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta".
Quem
sabe o olhar, ainda lúcido de Michel Foucault, explique bem a nossa
obsessão com o outro, a intolerância contra o diferente, a negação ao
desejo criativo que foge das normas ditas 'civilizatórias'..
Mauro Pandolfi
Neymar
é o grande nome do futebol atual. O mais impactante. Não é o
melhor. Está alguns degraus abaixo de Cristiano Ronaldo e Messi. Um dia,
quem sabe, será. É o mais vigiado, seguido, destratado. Tantos olhares.
Muitos puritanos.
Alguns, politicamente corretos. Poucos preocupados. Tem, também, os
exigentes. Olhares que pregam a excelência em todos os jogos, em todos
os lances, nos chutes, no comportamento em campo, no caráter, na ética
do jogo. Uma exigência que nem
Pelé cumpriu. Aliás, o Rei foi execrado após a Copa de 66. Duvidaram do
talento, disseram que estava acabado e até de cego foi chamado. Em 70,
recuperou o trono. O futebol é assim. Gênio num dia. Farsante no outro. A
bola tem esta magia. Isto torna o futebol uma paixão. Louca, doida,
insana, maravilhosa paixão,
Neymar
é um jovem que deseja viver a vida como um jovem. Festas, namoradas - a
mais frequente é a linda Bruna Marquezine -, farras, gols, muitos gols.
O que todos, que um dia fomos jovens, sonhamos ou vivemos, em menor
escala. Mas, Neymar é vigiado. Não há nada mais secreto por aqui. Sempre
tem uma câmera para nos mostrar a vida. A nossa e a dos outros. Ele é o
melhor personagem deste tempo. Programas de fofocas, esportivos - que
ultimamente, dá no mesmo! -, e até nas partidas de futebol há uma câmera
que o segue o tempo todo. Não foi genial contra o Real Madrid. Ficou
longe da 'mediocridade' declarada pelos seus críticos. Os melhores
lances de ataque do PSG foram de Neymar. No futebol de hoje é proibido,
ou em alguns casos, vergonhoso, perder. O mundo caiu nas suas costas
milionárias. Teve alguém que já avisou que o Brasil não ganha a Copa com
Neymar. Ei, Tite, já sabe, sem Neymar para o Mundial? Leve o Brocador, o
Ceifador ou o Damião em seu lugar!
Conheço
vários críticos de Neymar. Alguns reclamam do comportamento dentro de
campo. Do 'senhor do jogo', do individualista, do abusado e até do
caráter em relação aos outros. Gente que gosta de futebol, que aprecia
uma boa partida, venera craques, mitos e brincam de poesia com os
dribles. Críticos são fundamentais. Desde que não se tornem
fundamentalistas. Muitos pela conduta da vida privada. São a
'revitalização' das velhas senhoras que seguiam a vida alheia pela
janela. Um sábio amigo de Lages sempre dizia para uma delas: 'vai
carpir um lote!' Acho que ainda é uma boa resposta.
Walter
Casagrande Jr foi meu ídolo de pós adolescência. Por instantes, fui
corinthiano. Tempos da Democracia. Sonhava com um país livre e aquele
movimento simbolizava isto. Jogava de tênis branco, com a palavra Casão
escrito nele. Roqueiro, centroavante, rebelde. Discuti, defendi muito
ele. Escutei bastante. Era fantástico este Casagrande. Armaram
flagrante, vilipendiado, xingado, partiu para o 'exílio' na Itália. O
tempo passou. Ficamos velhos, todos nós que sonhamos com um Brasil
livre, democrático, justo. Ao ouvir a declaração de Casagrande, no
Redação Sportv, fiquei perplexo. "Estamos criando um monstro", disse.
Não liguei quando Renê Simões acusou Neymar desta forma. Simões é só um
picareta do futebol, um espertalhão de frases pomposas e vazias, iguais
aos pilantras que tentam convencer que o 'Rei' não está nu, que é
inocente, vítima e todo o blábláblá neurótico. Mas, Casagrande, não! Foi
um símbolo de um tempo. Alguém que desafinava o coro dos contentes.
Pior que um reacionário eterno, só um rebelde que envelheceu. E, ainda
sem memória.
O
futebol é um jogo de resultados. Unai Emery esteve próximo da
genialidade. Ao trocar o inoperante Cavani pelo lateral Meunier mudou o
jogo. Encaixotou o Real. Daniel Alves, Mbappé e Neymar enlouqueciam a
defesa. O gol seria um questão de tempo. Encurralado, Zidane ousou. Tirou
Casemiro e Benzema. As entradas de Bale e Asensio forçaram um novo
ritmo. Falhou a marcação e o goleiro largou a bola no joelho de
Cristiano Ronaldo. Perplexo, sem entender o que aconteceu, o PSG logo em
seguida levou o terceiro. Emery saiu com a pecha de 'professor Pardal',
de burro. Zidane de estrategista. Mas, se o PSG ganha a partida? Será
que Zidane não seria culpado por tirar um volante? E Emery seria genial
pela troca? Este é o futebol! A diferença entre a 'besta' e o 'bestial' é
um só pequeno detalhe do que supõe a vã filosofia de botequim.
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