Mauro Pandolfi
André
Renato não gosta de futebol. Não 'perde' tempo na frente da tevê para
ver uma partida. Mas, está atento a todos os movimentos da vida.
Surpreendeu-me uma noite destas ao falar de Neymar, de Pelé , de
futebol. Foi o dia que anunciaram a negociação de Neymar para o PSG. Os
valores não chamaram a sua atenção. Foi um comentário que fiz sobre
Pelé. Perguntou-me se no tempo de Pelé havia alguém de seu nível, como
Neymar tem em Messi e Cristiano Ronaldo. Citei Garrincha, Di Stefano,
Puskas, Eusébio, Cruyff, Kopa, os mitos. Comentei como era o jogo, as
táticas, a velocidade, a preparação. André me encara e faz uma
observação que me desconcertou: 'Naquele tempo tudo era mais simples,
principalmente, o futebol. Não havia tantos olhares. tanta mídia, tanto
dinheiro envolvido. Hoje tudo é mais complexo. O mundo deixou de ser
binário. Isto faz toda a diferença!", É bom conversar com quem não tem o
'vício' do futebol. O pré conceito de entender de tudo sobre o futebol.
André tem um olhar artístico, humano, social da vida, de tudo. E, foi
inspirado no olhar, na observação, que tento entender o Corinthians. O
que é este time? Está distante do velho conceito de retranca de Milton
Buzetto. Também, não chega a ser o futebol total de Cruyff. Será um
Leicester, um Real Madrid ou apenas um 'Timão'?
Um
bom time não é mais um jeito estético de brincar com a bola. Há
matemática no jogo. Um devaneio gráfico de linhas que se movimentam
freneticamente formando figuras geométricas. O Corinthians é assim.
Intenso e mágico. Tem o plano de jogo
estabelecido. Há pontos de saída de bola, com Guilherme Arana pela
esquerda e Fagner, pela direita. De chegada
na frente, com Jádson e Rodriguinho. A cobertura eficaz de Gabriel e
Maicon. A movimentação é organizada e precisa. Os
lados se movem uniformemente. Um vai, outro fica. As triangulações são
amplas e simétricas. Tão eficiente, que tornam-se tão belos os
movimentos. O forte é a marcação. Não combate, cerca, aperta; não rouba a
bola, força o erro. O espaço ocupado é a melhor arma de uma marcação
eficiente. Contra o Sport fez apenas duas faltas. Não há necessidade de
um confronto pela bola. Ela vem naturalmente pela postura do time em
campo. Sufoca, tira o campo de ação do adversário.
Nos melhores times atuais há uma complexa variação no jogo. Vai desde o
posicionamento nas cobranças de faltas e escanteios ofensivas. Estão
definidos quem bate, quem fica no primeiro pau,
no segundo, quem disputa com o goleiro e no rebote. O mesmo ocorre na
área defensiva. Há definido o marcador do mais perigoso, a sobra e o
contra-ataque. O Corinthians tem isto e muito mais. Nota-se também quem é
o líder técnico (o que 'pisa' na
bola), Jádson; o tático (quem orienta o posicionamento), Rodriguinho: o
'guerreiro', Balbuena; o
velocista, Romero, e o
centroavante, Jô, que é um pivô, finalizador emérito. Há o grande
goleiro, Cássio, que gera toda a segurança da movimentação . O time pode
ser veloz ou lento dependendo da ação do
adversário. Tão insinuante que encaixota o oponente. Tão bem armado que
parece jogar mais do que pode. A defesa é quase perfeita e descobriu o
'fetiche' do gol.
Parece que o segundo turno será apenas
uma formalidade. Mas, como diziam antigamente, 'futebol é uma caixinha
de surpresa'. É nisto que apostam os adversários. É fascinante ver o Corinthians jogar. Fábio Carille
entendeu o 7 a 1, percebeu o abismo, estudou, planejou e inventou um
time moderno. Tão moderno que livrou oito pontos do Grêmio, que joga o mais encantador futebol deste país.
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