"Oh! Que saudades que tenho da aurora de minha vida, da infância querida que
os anos não trazem mais!"
Casimiro de Abreu estava equivocado. O tempo
sempre traz a infância de volta. Numa foto, numa história, numa
lembrança. Retorna mais linda do que foi.
Mauro Pandolfi
O
futebol é o campo dos meus sonhos. O lugar onde passo o 'exílio'.
Alívio a alma das derrotas da vida, das frustrações, da tristeza e me
encontro com a saudade. De tempos em tempos, vejo o menino que embala as
minhas melhores recordações. Surge nas 'dores' e na alegria. No
silêncio das ruas, caminhando sem rumo, solto, lembrando da poesia de
Casimiro de Abreu, passa correndo por mim um garoto de cabelos longos
balançados pelo vento, o sorriso largo me encara, atrasado para à
escola. Escuto no rádio, meu velho amigo desde sempre, que Fernando
Ovelar foi o destaque do Cerro Porteño contra o Olímpia, no clássico do
Paraguai. Só prestei a atenção quando o locutor falou a idade: 14 anos! A
mesma idade do menino que passou por mim e do que embala o meu
imaginário. Saudades do Maurinho!
14 anos! Sonhava com futebol. Vivia
futebol. Respirava futebol. Queria ser jogador de futebol. Vermelhão de
Copacabana era o 'Maracanã'. Lá o sonho era real. Quantas vezes corri em
direção da grande arquibancada de concreto comemorando um gol. Era
festejado pela imensa torcida que só eu via. Os amigos riam, às vezes,
me acompanhavam na corrida e tudo terminava em zoeira. Como eram belos
aqueles 14 anos!. A vida parecia tão suave nos verdes anos. Tempos
depois descobri que a suavidade era um engano meu. Era a beleza da
infância, do sonho possível, do desejo, da festa. A vida - entendi anos
depois - tem um olhar mais duro, mais amargo, mais pesado. Parece cobrar
os enganos vividos.
Mas, nem tudo era futebol naqueles 14 anos. Estava
descobrindo a vida. Os 'bailinhos, 'as festinhas' já tinham a mesma
importância do futebol. 'Roubar' um beijo era como um golaço. Dançar era
driblar. Andar de mão dadas tinha o mesmo sabor de um ótima vitória.
Roberto Carlos e seus 'detalhes tão pequenos' ainda embalavam a minha
saída da infância. Não mais sozinho. No pequeno rádio azul, escondido na
pasta da escola, no descuido do professor, sintonizado na Rádio
Princesa, descobri um som que não me abandonou. 'Rock in roll lullabay'
nunca mais te esqueci. Nem Pink Floyd, nem Led Zepellin e Suzy Quatro,
uma garota que adorava ver num programa chamado 'Som Livre Exportação'. O
cinema veio em seguida. A poesia descobri juntos com os 'romances'
vividos e lidos. Bons tempos, hein?
14 anos! Sorte tem Fernando Avelar em
não ser brasileiro. Aqui, jogaria depois dos 20 ou dos 30 já decadente.
Jovens nunca estão prontos. Há o 'cuidado de não queimá-los'. Treinador
brasileiro detesta a rebeldia, a irreverência, os erros, a imaturidade
dos jovens. O professor escolhe o medalhão, a experiência, o
pragmatismo do 'velho'. Não importa o técnico. Renato Portaluppi
prefere Cícero no meio-campo. Jean Pyerre e Mateus Henrique não estão
prontos. Assim como Geninho. Às vezes, agrada os comentaristas com André
Moritz; outras, torcida com Marquinhos Santos. Luanzinho fica esperando,
esperando até sentir um 'desconforto muscular' e ficar, de vez, fora do
time. Sorte teve um tal de Pelé que nunca teve um professor moderno e
tão cuidadoso.Se tivesse, seria no máximo um Édson.
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