"O difícil, o extraordinário não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé!"
O
Pelé da poesia brasileira, Carlos Drummond de Andrade, foi preciso na
definição de Pelé. Os gênios se entendem feito uma tabelinha na entrada
da área. Pelé foi Pelé. Drummond foi um Coutinho. A bola, a poesia,
dorme mansa na rede.
Mauro Pandolfi
Mágica
cena que me fazia suspirar de sonho. Todo dia reverenciava a foto.
Ficava na porta do quarto. Em 1974, transferi para uma parede, onde
ganhou companhia. De um lado, John Lennon e de um seio desnudo de Nídia
de Paula. Ou, seria, Rose di Primo? Não tenho certeza. Eram duas paixões
dos verdes anos. Olhava aquele poster e sonhava: Já pensou, um dia, um
gol
como este de Pelé? Descobri que Drummond tem razão. Durante todo o tempo
que joguei bola, fiz gols. Alguns, bonitos. Muitos, simples. Mas,
nenhum gol como Pelé. Acho mais fascinantes os gols que Pelé não fez. A
corrida desesperada de Victor, do chute longínquo do meio campo, é um
momento mágico de Pelé. Como não se encantar com drible em Mazurkiewicz?
Um poema curto, em curva. Espetacular!
Pelé!
É um dos meus personagens favoritos nestas crônicas mal traçadas. De
tempos em tempos aparece num texto. Lembro de um gol, de uma reportagem
que li, assisti ou do esquecimento de seu aniversário, e tudo vira um
motivo de reencontrar Pelé. Saudades e uma certa melancolia de um
futebol que raramente vi. Lionel Messi quem me faz lembrar muito de
Pelé. Ele é o Pelé deste tempo. Assim como foram Cruyff, Maradona, até
um menino que não suportou a comparação e sumiu com o tempo: Washington!
Vi uma reportagem com Édson sobre o gol mil. Nem de longe lembra Pelé. O
rosto cansado, abatido pelo tempo, sentado em uma cadeira, dizendo que
'Deus mandou a conta!'. O riso lembrava Pelé. O olhar desolado era de
Édson Impossível ser Pelé? Acho que impossível é ser Édson, quando se foi Pelé!